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Ópera “Os Pescadores de Pérola” tem cenário construído com miriti

Por Redação - Agência PA (SECOM)
23/08/2015 15h10

Um dos maiores cuidados em uma montagem operística, além da música e a encenação em si, é o cenário. As óperas, em sua maioria, se passam em lugares exóticos e belíssimos. Como então transpor todo esse universo para um palco de teatro?

Esse é o desafio do cenógrafo Cássio Amarantes, que está em Belém para a montagem da ópera “Os Pescadores de Pérolas”, de Georges Bizet, a primeira que será dirigida pelo cineasta Fernando Meirelles, de quem Cássio é um antigo parceiro.

“Os Pescadores de Pérolas” foi escrita no ano de 1863 e será encenada na programação do XIV Festival de Ópera do Theatro da Paz, nos dias 9, 11, 13 e 15 de setembro, sempre às 20, no palco do Theatro da Paz.

O cenário da ópera foi construído em um galpão localizado no bairro do Jurunas, e está sendo transposto, peça por peça, para o palco do Theatro da Paz, onde começou a ser montado desde a semana passada. Por enquanto, o que se pode ver dele é apenas a maquete. Cássio é enfático quando perguntam a ele quando tudo ficará pronto. Ao que ele responde: “Quinze minutos antes da estreia da ópera, estará pronto. Isso eu garanto”, falo, rindo.

Cenário – Para a ópera, Cássio idealizou trazer a Índia, local onde se passa a história, para a realidade ribeirinha da Amazônia. “Essa montagem foi pensada em Belém, de como conectar uma coisa daqui com a outra lá de fora, e nos pescadores, não os de pérolas, mas os pescadores que são grande parte do povo dessa região aqui do País. Então, essa ideia é das pequenas pinguelas, dos igarapés, das estivas, que, aliás, eu nem conhecia por esse nome. Essa é uma situação ribeirinha que é comum ao Ceilão, o atual Sri Lanka, e à nossa região toda aqui”, explicou.

“E atrás de resolver essa situação de praia e de corpo, nós fizemos uma espécie de jogo, com peças móveis que a cada cena se montam de uma maneira diferente, tentando simbolizar a beira de praia e do penhasco. E nós descobrimos no miriti um grande parceiro na construção desses elementos que compõe as ambiências, as superfícies onde o coro sobe e os protagonistas cantam”, continuou.

“O miriti é um material símbolo, explorado,  usado e valorizado porque é algo que a natureza nos dá. Tem características tão maravilhosas, é esteticamente tão bonito, então, talvez o cenário esteja explorando possibilidades que o miriti só começa mostrar que tem”, aposta o cenógrafo.

Cássio tem a colaboração do pessoal de cenografia do Theatro da Paz. “Devo minha gratidão ao Ribamar Diniz, que é o cenotécnico chefe do Theatro da Paz há 30 anos, e que trabalha com uma equipe maravilhosa. Conseguimos até agora traçar o caminho que a gente desenhou lá em são Paulo e imaginou que seria possível aqui”, informou Cássio. “A equipe abraçou a ideia e o miriti respondeu de uma maneira muito melhor do que a gente imaginava nesse simulacro de pequenos píeres e portos”, destaca ainda.

“Eu percebo que todos da equipe que estão envolvidos na construção do cenário. Eles entenderam isso e abraçaram essa ideia com muito carinho e estão dando uma resposta super bacana”, elogiou.

O cenário tem uma estrutura metálica no qual foi usada madeira de reflorestamento no revestimento. “É uma grande construção. Compramos tudo aqui nas lojas de construção e o miriti, nós compramos no mercado do Ver-o-Peso”.

Cássio disse que ficou encantado em saber que a população usa, rotineiramente, o miriti pra fazer isolamento, pequenas cercas. “E nós estamos descobrindo outras maneiras de utilizá-lo”, disse.

O templo, que é o principal elemento do cenário, é construído com certa precariedade, entre escarpas, expressando a força do conjunto, mas com uma certa precariedade ribeirinha à beira do rio. “Na verdade, tem também inspiração na estação Galo do Oriente, em Lisboa, que é feita de metal completamente super tecnológico, de uma geometria que encanta o mundo. E foi muito legal transpor um pouco dessa ideia pra cá”, observou.

Carreira - Cássio é arquiteto formado pela Universidade de São Paulo, diretor de arte e cenógrafo. Ele começou como assistente de Daniela Thomas, em 1993, na criação e construção dos cenários da Companhia de Ópera Seca de Teatro, de Gerald Thomas. Mas o primeiro trabalho dele para o cinema foi como assistente de direção de arte e cenografia em “Terra Estrangeira”, de 1995, filme que Daniela Thomas co-dirigiu com Walter Salles.

Em seguida trabalhou em “Central do Brasil” (1998), no qual dividiu a direção de arte com Carla Caffé. A partir daí, assinou a direção de arte de vários filmes brasileiros, entre eles, “Ação Entre Amigos” (1998), de Beto Brant; “Bossa Nova” (2000), de Bruno Barreto; “Abril Despedaçado” (2001), de Walter Salles; “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” (2007), de Cao Hambúrguer; “A Encarnação do Demônio”, de José Mojica Marins; “As Melhores Coisas do Mundo, de Laís Bodansky”; “Xingu” (2012), de Cao Hambúrguer.

Participou de diversas séries de televisão como diretor de arte, trabalhando com profissionais como Fernando Meirelles (em “Som e Fúria”), Selton Mello, Fabio Mendonça e Luis Villaça, e para emissoras como TV Globo, GNT e HBO. Além disso, foi responsável pela cenografia das cerimônias anuais de premiação do Video Music Awards (VMB) e de diversos programas diários para a MTV Brasil. 

Serviço

A ópera “Os Pescadores de Pérolas” será apresentada em quatro récitas, nos dias 9, 11, 13 e 15 de setembro, às 20 horas, no Theatro da Paz, com ingressos que variam de R$ 20,00 e R$ 70,00, e já estão sendo vendidos na bilheteria do teatro.  (Com a colaboração de Noely Lima)