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Assistência psicológica reduz impactos do diagnóstico do câncer

Por Redação - Agência PA (SECOM)
31/08/2015 14h30

Mesmo com avanços na área de oncologia, o câncer ainda é visto com grande estigma pela sociedade, porque a doença causa mudanças e perdas em diversas áreas da vida. O impacto ocasionado pelo diagnóstico provoca diferentes reações nos pacientes, dentre elas, a sensação de insegurança, instabilidade e vulnerabilidade. Nesse momento, os mecanismos de defesa psicológicos (ansiedade, medo, culpa, revolta) são ativados e variam de acordo com os recursos de cada pessoa como a história de vida, suporte familiar, dinâmica social e a comunicação no diagnóstico.

A psicóloga Elvira Gama, do Hospital Ophir Loyola, afirma que muitos pacientes dizem ‘perder o chão’ ao se descobrirem com a doença. “Ninguém espera adoecer, muito menos de uma doença que traz muita dor e sofrimento. Não existe uma forma boa de dar uma má notícia, mas há técnicas que podem ser usadas na comunicação do diagnóstico e amenizar a situação. Isso não vai impedir a pessoa de se emocionar, ficar triste ou sentir raiva, mas a forma como essa informação é transmitida ao doente também tem um reflexo de como reagir à notícia”, explica.

Segundo a psicóloga, nas diferentes fases do adoecimento, a assistência psicológica é fundamental para dar suporte aos pacientes e familiares. As dificuldades para se ajustar à nova realidade não terminam no momento do diagnóstico. Durante todo o tratamento o paciente pode sofrer com efeitos colaterais, mudanças físicas e corporais, abalo emocional e psicológico que atravessarão várias dimensões na vida social, familiar, econômica e espiritual.

Maria Silva, 59 anos, sentiu a dor da perda da sogra recentemente. Ela faleceu em março com câncer de estômago. “Tinha muito amor por ela e sofria muito por vê-la naquele estado. Sei o quanto o apoio da psicóloga nos ajudou a encontrar forças para superar toda aquela angústia e aflição”, disse.

Elvira Gama ressalta que a doença também atinge a família, que passa por um processo de reestruturação e de ‘adoecimento’ junto com o paciente. Os efeitos colaterais frequentes, por exemplo, prejudicam o desempenho profissional e o papel no âmbito familiar.

“O diagnóstico é o primeiro momento. Depois são diferentes fases de tratamento, a reabilitação e os cuidados paliativos (impossibilidade de cura da doença). A representatividade desse adoecimento, a significação que a pessoa consegue dar nesse momento da sua vida, é que vai direcionar as reações dela”, complementa Elvira.

Segundo a profissional, toda pessoa tem potencial para se refazer frente às situações difíceis. “O sofrimento só é intolerável e causa desesperança quando ele não tem um sentido, quando obtemos um sentido para todas as situações que causam sofrimento ou situações limites, conseguimos mobilizar um potencial chamado de criativo, que são os recursos internos emocionais ou de ideais que o ser humano apresenta ao lidar com novas situações”, esclarece.

Morador do município de Igarapé-Miri, Eduardo Costa, 57, foi fumante durante 25 anos e teve câncer de pulmão. “Não sei nem dizer o que senti no começo, não foi fácil. Depois a ficha caiu e criei ânimo para seguir em frente”, informou. Eduardo fez a cirurgia de retirada do tumor há um ano e seis meses. Agora, ele faz o controle da doença e não abre mão de ser assistido pela psicologia. “Eu me sinto beneficiado, sou ouvido e entendido, saio daqui aliviado”, externou.

Fases fundamentais – A psicóloga do Ophir Loyola explica que o adoecimento atinge diversas dimensões da existência humana e pode enfrentar cinco fases da perda que foram descritas pela psiquiatra norte-americana Elizabeth Kubler-Ross, pesquisadora que identificou características comuns vividas por doentes em estágio terminal. No estudo, os mecanismos psíquicos não necessariamente estão conscientes, porém são observados no comportamento de pessoas enfermas e devem ser acompanhados pelo psicólogo mediante intervenções que ajudem no ajuste emocional e funcional e contribuam para o enfrentamento da doença e dos tratamentos.

Durante o processo de perda e mudanças, cinco fases (negação, raiva, barganha, depressão e aceitação) são observadas e apresentadas de forma não linear. Às vezes, apenas uma fase é notada, várias são vivenciadas ou ainda todas são superadas rapidamente até a aceitação pelo enfermo. Não existe uma regra ou ordem a serem cumpridas, apenas profissionais que estudam a mente estão aptos a avaliar e a identificar as fases para entender o processo do adoecer.

Mensalmente, o Serviço de Psicologia do Ophir Loyola realiza de cinco a seis mil atendimentos sistemáticos nas clínicas, ambulatório e a visita domiciliar. Atua em todas as etapas do tratamento, desde o acolhimento (entrada) no hospital.

Para a identificação e compreensão dos fatores emocionais que interferem na saúde, os pacientes são acompanhados durante o processo de adaptação, mudanças e tomadas de decisões frente às opções de tratamento por meio de técnicas de entrevista e intervenção. “Não dizemos o que é melhor para o paciente, mas ele é quem diz qual é a melhor forma de ajudá-lo a trabalhar com essas questões”, finaliza.