Codec amplia debate na COP30 sobre descarbonização na indústria e economia circular
Soluções da cadeia do alumínio e do cimento reforçam o protagonismo do Pará em inovação climática, gestão de resíduos e transição energética
A Companhia de Desenvolvimento Econômico do Pará (Codec) voltou à Green Zone da COP30 na tarde desta quarta-feira (19), no Pavilhão Pará, para conduzir a segunda etapa do painel sobre descarbonização e economia circular. Na Sala Miritizeiro, o encontro reuniu representantes do governo e da indústria, especialistas, e sociedade civil para apresentar iniciativas que já reduzem emissões nos parques industriais, fortalecem cadeias produtivas e consolidam o Pará como líder nacional em inovação sustentável.
A programação deu continuidade ao primeiro painel, realizado no dia 15, e foi conduzida pelo diretor de Estratégia e Relações Institucionais da Codec, Pádua Rodrigues, que destacou o papel estratégico das políticas públicas do Pará no enfrentamento da crise climática. Para ele, o Estado vive um momento decisivo ao integrar desenvolvimento econômico, ordenamento territorial e compromissos ambientais de longo prazo.
“A descarbonização não é um discurso vazio. É uma política pública do Estado, que organiza o presente e define o futuro que queremos para o Pará”, ressaltou.
Pádua Rodrigues ressaltou o impacto dos modais energéticos e de transporte nas emissões de carbono, e reforçou a necessidade de escolhas estruturantes para reduzir os impactos no clima. “A emergência climática clama por ações efetivas em diversas esferas, incluindo os modais de transporte, para reduzir o uso de combustíveis fósseis. Uma ferrovia, planejada de forma sustentável, reduz em cerca de 25% a emissão de gases quando comparada com o modal rodoviário. Esse é o tipo de decisão que muda a trajetória de um território inteiro”, destacou.
Ele lembrou ainda medidas concretas adotadas pelo Estado, como a isenção de IPVA para veículos elétricos, o Plano Estadual de Bioeconomia e a matriz ambiental desenvolvida pela Semas (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade), ambos reconhecidos como referências nacional e internacional.
Economia circular e cadeia do alumínio - A Carbon Solution, representada por Rômulo Figueira, mostrou como a empresa se tornou peça-chave na economia circular da cadeia do alumínio, setor que concentra alguns dos resíduos industriais mais complexos do país. Instalada no Pará, a Carbon opera desde a geração até o beneficiamento dos resíduos carbonosos e não carbonosos do smelter (unidade de produção de alumínio primário), garantindo retorno produtivo e ambientalmente seguro.
Rômulo Figueira explicou que, historicamente, grande parte desses resíduos era subutilizada ou descartada, com custo elevado. Hoje, a Carbon transforma esse passivo em matéria-prima estratégica para indústrias da região, substituindo insumos fósseis, reduzindo emissões e agregando valor ao setor metalúrgico. “O que antes era resíduo sem utilidade e alto custo ambiental, hoje retorna à cadeia como matéria-prima técnica de alto valor agregado”, afirmou.
A operação mensal da empresa movimenta entre 3 e 4 mil toneladas de resíduos beneficiados, todos processados no Pará, o que significa retenção de tributos, fortalecimento da economia local e redução expressiva do transporte interestadual de cargas.
Outro ponto destacado foi o impacto social. Com 85% da equipe composta por paraenses, a Carbon investe em formação e inclusão, incluindo projetos de alfabetização para adultos das comunidades vizinhas. “Nós queremos devolver oportunidade, dignidade e formação às pessoas que vivem no entorno das nossas operações”, completou Rômulo Figueira.
Inovação energética - A Votorantim Cimentos apresentou dois cases, que ilustram a transição energética na indústria do cimento e da construção. Engenheiro da empresa, Aldo Alex Leite de Souza detalhou o uso crescente de biomassa e combustíveis alternativos como motores da reconfiguração do setor. Ele explicou que a empresa tem estruturado uma cadeia sustentável, que substitui combustíveis fósseis por energia derivada de resíduos e subprodutos industriais. “A nossa meta é clara: substituir combustíveis fósseis, transformar resíduos em energia limpa e reduzir a pegada de carbono do nosso setor”, assegurou.
Entre os destaques está o case pioneiro do reaproveitamento do caroço de açaí como fonte energética, uma solução que transformou um passivo ambiental de décadas na Região Metropolitana de Belém em uma alternativa renovável de alto desempenho. “Nós transformamos um problema histórico de saúde pública em uma solução energética sustentável”, reforçou Aldo de Souza.
Em seguida, Herbert do Nascimento, gerente da fábrica de argamassa da Votorantim em Belém, apresentou os resultados da unidade instalada no Distrito Industrial administrado pela Codec. A planta opera há mais de dois anos com 100% de substituição térmica, utilizando exclusivamente biomassa no processo produtivo, sem consumo de óleo diesel ou gás fóssil. “Não utilizamos um litro de óleo diesel desde então. Zero. Tudo é biomassa. Isso é impacto real na redução das emissões”, garantiu.
A fábrica atingiu sua capacidade máxima, e se prepara para uma expansão significativa em 2026, com investimento inicial de R$ 26 milhões, que permitirá operar com novas fontes renováveis, como cavaco de madeira, e ampliar a oferta para toda a região Norte e parte do Nordeste. Herbert do Nascimento também destacou a valorização da mão de obra local. “O nosso legado não é apenas industrial. É humano. Hoje, são lideranças paraenses que comandam operações estratégicas da Votorantim no Estado”, completou.
Pará é referência nacional - Ao encerrar o painel, o diretor Pádua Rodrigues reforçou que o Pará vive um momento histórico ao consolidar políticas que unem crescimento econômico e compromisso climático. “O Pará está sendo vanguarda. As nossas políticas estão sendo replicadas em outros estados porque representam uma visão estratégica, que precisa ser assumida com coragem”, enfatizou.
A Codec anunciou que ampliará o diálogo com o setor produtivo e promoverá novos seminários técnicos para aprofundar temas como descarbonização, logística sustentável, economia circular e inovação industrial.
