Diagnóstico precoce salva vidas na luta contra o câncer infantojuvenil
Por mais de um ano, Vinícius Caian Sales, 10, tomou remédio contra o que ele, a família e o médico achavam que era reumatismo. Com uma febre intermitente, que ia e voltava, o menino foi levado a um hospital de Tailândia, no nordeste do Pará, onde recebeu o diagnóstico e o receituário. Entre pequenas melhoras e muitas recaídas, a situação dele foi piorando. Um dia, um profissional do Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, de passagem pela cidade, viu o estado do garoto e imediatamente recomendou que ele fosse transferido para Belém. Veio então a surpresa: Vinícius não tinha reumatismo, e sim câncer.
Infelizmente, a história de Vinícius não é uma exceção. A falta de informação continua sendo o principal obstáculo para tratar o câncer infantojuvenil. Para conscientizar pais e preparar profissionais de saúde a identificar os primeiros sintomas da doença, o Oncológico Infantil promoveu durante todo este mês a campanha Setembro Dourado. O foco este ano foi a escola, afinal, é nela que as crianças passam grande parte do tempo. Profissionais da equipe multidisciplinar do hospital visitaram unidades de ensino para levar informação e destacar a importância do diagnóstico precoce, que garante mais chances de cura e tratamento mais eficaz.
Os pais devem desconfiar de alguns sinais. Uma febre que não passa por mais de sete dias, anemia aguda, manchas no corpo, aumento do volume abdominal, dores de cabeça intensas e atrasos no desenvolvimento já devem motivar ajuda mais específica. O desafio da campanha é promover a conscientização em uma região onde, culturalmente, esses sintomas são tratados com o bom e velho remédio caseiro – ou, o que é pior, com medicamentos erroneamente receitados por médicos na atenção básica. “O diagnóstico precoce, foco da campanha, é fundamental. Os sintomas, em si, podem não significar nada grave, mas a associação deles com fatores como emagrecimento deve ser investigada”, explica a oncologista pediatra Laudreísa da Costa Pantoja.
Do primeiro atendimento na unidade básica de saúde até a chegada às unidades referenciadas – como o Oncológico Infantil –, o caminho às vezes é longo, mas uma vez que o paciente chega ao hospital, é prontamente atendido. E passa a receber o que é reconhecido internacionalmente como um dos melhores acolhimentos da oncologia brasileira. “Em menos de dois anos de funcionamento já recebemos do Ministério da Saúde o título de Unacon e obtivemos a Acreditação ONA 1, concedida pela Organização Nacional de Acreditação. É a garantia de segurança ao paciente, que recebe atendimento multidisciplinar e humanizado”, afirma a diretora geral do Oncológico Infantil, Alba Muniz.
Acolhimento
O compromisso de prestar a melhor assistência vai além dos muros do hospital, e a campanha Setembro Dourado representa isso. “Este ano focamos nas escolas porque os professores e diretores muitas vezes são os que mais convivem com a criança no período mais ativo dela. Esse tipo de iniciativa vem nos assegurando resultados significativos e avanços no diagnóstico precoce do câncer infantojuvenil”, frisa a diretora. “As pessoas têm medo de falar sobre câncer. Precisamos acabar com isso e encarar a questão com responsabilidade”, continua.
O trabalho de conscientização e a regulação na rede assistencial fazem do Hospital Oncológico Infantil do Pará o que mais registra casos de câncer infantojuvenil no Brasil. Desde a inauguração da unidade, em dezembro de 2015, foram 474 registros. A expectativa é chegar a 520 diagnósticos até o fim do ano. “Isso é uma vitória. Significa mais crianças em tratamento adequado. O número de diagnósticos tende a crescer à medida que abrirmos mais os olhos para a questão. Hoje somos referência. As pessoas já sabem que aqui é o lugar para trazer o filho que está com câncer. Hoje não há fila para este tipo de paciente no Pará”, assevera Alba Muniz.
Desinformação
A dona de casa Josiane Carlos Sales, 34 anos, mãe de Vinícius, que tomou remédio contra reumatismo durante um ano, não tinha ideia de que crianças também podiam ter câncer. Sem informação e mal orientada, ela submeteu o filho a um tratamento ineficaz. Para piorar, por causa do atraso na busca pela assistência adequada, a leucemia do menino se tornou de alto risco. Há um ano e oito meses os dois praticamente se mudaram para Belém, para que ele possa fazer as sessões de quimioterapia prescritas.
“Se eu soubesse antes que a febre do meu filho podia ser sinal de câncer, teria procurado na hora o atendimento certo para ele. A falta de conhecimento me impediu de ajudá-lo com mais rapidez. Felizmente aqui no Oncológico fomos acolhidos rapidamente e com muito amor. Ele tem o melhor tratamento que pode existir. Faz os exames sem demora, recebe visita constante de psicólogos e tem atenção total dos médicos. Sentimos carinho na forma como somos tratados, e isso sem dúvida ameniza o sofrimento. Tenho fé que, com esse tratamento, ele vai se curar”, diz a mãe.
Jadilson Santos, 31, e a esposa Adriana, 27, também passaram por mudanças drásticas na rotina. Eles saíram de Novo Repartimento, no sudeste paraense, para trazer o filho Jadson Willyam, 4, ao Hospital Oncológico Infantil. Portador de um câncer agressivo – o rabdomiossarcoma embrionário –, o menino já está em tratamento há um ano e dois meses. Depois de uma melhora no quadro, graças à quimioterapia, o câncer voltou, forçando a criança a retomar as sessões.
“Minha esposa viu um caroço na virilha dele, mas não ligou muito. Como não diminuiu, fomos ao médico. Ele disse que era apenas uma infecção e nos passou um remédio. Não adiantou. O quadro do menino piorou. Além do caroço, que tinha aumentado de tamanho, apareceram manchas na pele dele. Depois de idas e vindas aos hospitais da minha cidade e de Tucuruí, fomos encaminhados ao Regional de Marabá. De lá fomos encaminhados aqui para o Oncológico, e é graças a esse hospital que estamos hoje tratando o nosso filho como ele merece”, reconhece Jadilson.
Serviço: A campanha Setembro Dourado do Hospital Oncológico Infantil termina neste sábado (30), com uma caminhada que sai da Basílica de Nazaré e direção à unidade, a partir das 8h30, com a participação das crianças em tratamento.