Trabalho social da Emater ajuda famílias rurais a localizar parentes "desaparecidos"
Há mais de uma década, Marinéia de Jesus perdeu o contato com os três filhos pequenos, que foram morar com o pai depois que o casal se separou. A família, de Novo Repartimento, no sudeste do Estado, se desencontrou quando, ao longo do primeiro ano do divórcio, a agricultora se mudou para Anapu, na Transamazônica, e o ex-marido, Manoel Silva, acabou indo para o distrito de Monte Dourado, em Almeirim, no Baixo Amazonas.
Sem acesso à internet e morando dentro de assentamentos federais onde celular não funciona, filhos e mãe poderão se rever, no fim deste mês, graças ao cruzamento de dados dos diagnósticos sociais elaborados pelos escritórios locais da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) em cada município.
A mãe desesperada atrás da prole e um pai interessado em que os filhos voltassem a conviver com a mãe foram identificados por meio de metodologias de pesquisa de perfil humanístico da agricultura familiar, que a Emater executa regularmente quando no mapeamento e atendimento das propriedades rurais. O pai, Manoel Silva, horticultor atendido pela Emater, fez o primeiro relato ao chefe do escritório em Almeirim, o técnico em agropecuária Elinaldo Silva: "E daí nós conversamos com o escritório da Emater em Anapu, fomos pesquisando, até localizarmos a Marinéia. Quando ela soube, quase desmaiou", diz Silva.
Agora Manoela, 20; Jotaniel, 18, e Daniele, 15, viajarão mais de 400 km, da Comunidade Repartimento dos Pilões, até o Travessão Novo Horizonte, com o apoio da Emater e da Fundação Jari. O caminho pode envolver trechos de estrada, rio e aéreos.
“É muita emoção. Nossa mãe desenvolveu até depressão porque não tinha a gente perto. Eu tenho a dor de não conseguir lembrar direito do rosto dela”, desabafa Manoela, que já tem um filho de cinco anos para apresentar à mãe.
Diversos casos similares já estão sendo encaminhados pela Emater: o próprio Manoel quer notícias dos pais e irmãos que deixou em Novo Repartimento; já o empresário mineiro Mário Vasconcelos, que mora no estado do Tocantins, procura a tia Maria de Fátima, que sondou estar no distrito Casa de Tábua, em Santa Maria das Barreiras, no sudeste do estado: “Minha outra tia já está bem velhinha e quer muito ver a irmã por pelo menos uma última vez”, conta, esperançoso.
“Para quem acha que a Emater só ajuda a plantar, com assistência técnica, eis um grande exemplo de ‘extensão rural’: são muitas histórias.É chefe de família que foi tentar a vida em ‘lugar melhor’ e nunca voltou. É filho que fugiu de casa. Muitos agricultores familiares até hoje não têm capacidade financeira para viajar atrás dos parentes ou investigar paradeiro. Muitos são idosos, não sabem mexer em celular e internet ou moram em localidades onde os sinais são instáveis. É uma alegria muito grande que a Emater possa exercer também esse papel social”, complementa Silva.