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Pará comemora marca histórica no transplante de órgãos

Por Redação - Agência PA (SECOM)
30/09/2017 00h00

Aos 13 anos, Gabriela Ribeiro descobriu que era paciente renal crônica. Ao longo de dois anos sofreu com demoradas e dolorosas sessões de hemodiálise, realizadas três vezes por semana. Porém, um mês depois de completar 15 anos, a jovem ganhou um presente que transformaria sua vida. Um rim novo, transplantado após seis tentativas frustradas por conta da rejeição de órgãos incompatíveis.

Hoje, com 17 anos, Gabriela voltou aos estudos, leva uma vida normal e cultiva dois sonhos: tornar-se uma biomédica e conhecer a família do menino de 14 anos, cujo rim ela recebeu. “Logo depois do transplante eu ficava imaginando como era essa família, tinha muita vontade de abraçar essas pessoas. Eles nem imaginam o tamanho da gratidão das pessoas que, como eu, recebem um órgão. É um gesto de amor difícil de ver nos dias de hoje”, disse Gabriela.

O final feliz na história de Gabriela é um exemplo da evolução dos transplantes no Estado do Pará. A menina, nascida no município de Turiaçu, no Maranhão, entrou na fila de espera por um rim por meio da Central de Transplante de Órgãos da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).

No final do “Setembro Verde”, mês que reforça a importância da doação de órgãos e tecidos, a Central de Transplantes do Pará comemora uma marca histórica: mais de quatro doadores para cada um milhão de habitantes, índice nunca alcançado em nível estadual.

O número de transplantes registrados neste ano também é animador. Até agosto, foram realizados 197 transplantes de córnea, numero superior ao registrado em todo o ano passado, que foi de 195. O mesmo desempenho também pode ser constatado nos transplantes de rim, que no ano passado somaram 57 e, neste ano, somente até o mês de agosto, já chegam a 58.

“Essa superação motiva a todos a prosseguir com o trabalho de captação de órgãos nos hospitais, que exige muita dedicação, em regimes de plantão 24 horas. Essa marca mostra que estamos no caminho certo e estimula tanto os nossos profissionais, quanto a população”, comemora Ana Beltrão, coordenadora da Central de Transplantes.

A meta da Central de Transplantes é avançar ainda mais, para chegar perto de estados como Santa Catarina, que registra uma média superior a 36 doadores para cada um milhão de habitantes.

Onde são realizados - No Pará são realizados os transplantes de rim e córnea nos hospitais Ophir Loyola (córnea e rim), Saúde da Mulher (somente rim), Betina Ferro (córnea, pelo SUS), Clínica Cinthia Charone (córnea pelo sistema privado e SUS), além de algumas clínicas privadas credenciadas.

Em Santarém, por meio do Sistema Único de Saúde e da rede privada, é feita a captação de córneas e rins para transplantes. Já está credenciado o transplante renal no Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), no qual já foram realizados seis transplantes de rim neste ano.

Quem pode doar - A doação de rins pode ser feita tanto entre pacientes intervivos ou, no caso de paciente que tenha vindo à óbito, diante da comprovação de morte encefálica. No caso da córnea, todo indivíduo que morre torna-se um doador em potencial, exceto nos óbitos provocados por hepatites, infecção generalizada e HIV. Pessoas idosas ou com câncer também podem doar córneas, exceto nos casos de câncer hematológico.

O trabalho de captação é feito pelas equipes da Organização de Procura de Órgãos que atuam 24 horas no Hospital Regional do Baixo Amazonas, em Santarém, e no Hospital Regional de Redenção. Em Belém, a captação é feita no Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência, no Hospital e Pronto Socorro Mario Pinotti, (14 de Março), Hospital e Pronto Socorro Municipal Humberto Maradei Pereira (Guamá)  e no Hospital Ophir Loyola. Nesses locais, as equipes entram em contato pessoalmente com os familiares dos pacientes mortos para fazer a abordagem.

Em breve, outros hospitais do estado devem receber os serviços da Organização de Procura de Órgãos. Para isso, cursos de capacitação estão sendo desenvolvidos pela Central de Transplante de Órgãos da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).

Nos hospitais onde ainda não existem equipes de captação, basta que um familiar do doador que, em vida, tiver autorizado o procedimento, entre em contato com a Central de Transplantes por meio do celular (91) 98115-2941 (24 horas) e dos telefones fixos (91) 3223-8168 e 3244-9692, ou ainda para o Banco de Olhos do Hospital Ophir Loyola, pelos números (01) 3265-6759 ou 98886-8159. Qualquer pessoa maior de idade pode ser doador, desde que sua família autorize.

O potencial doador precisa estar internado em uma Unidade de Terapia Intensiva ou urgência, mantido com equipamentos e medicamentos de suporte à vida. A doação de córneas, por sua vez, pode decorrer de qualquer serviço de saúde, visto que o órgão pode ser retirado até seis horas depois do coração do paciente ter parado.

O Banco de Olhos do Hospital Ophir Loyola funciona 24 horas com equipes de plantão prontas para se deslocar até os hospitais onde estão os doadores, fazer a retirada do tecido e transportá-lo até o banco de órgãos, onde as córneas podem ser mantidas por até 14 horas  para que sejam transplantadas.

A vida em cores - A córnea recebida na semana passada por Maria Dinair Marques, 71 anos, devolveu alegria à vida da aposentada. “Eu não conseguia perceber nem a cor das minhas roupas, era muito triste. Já tinha realizado seis transplantes, três em cada olho, mas houve rejeição.

Hoje, dona Dinair já consegue se locomover em sua casa, dependendo menos de sua cuidadora. Quando retirou o tampão da córnea transplantada e percebeu que voltava a enxergar, ela soltou um grito de felicidade. Ainda emocionada, ela faz um apelo: “Queria pedir aqui, para todo mundo que tenha um parente falecido, em condições de doar qualquer órgão ou tecido, para que não tenha medo. Hoje eu sinto na pele o quanto é importante um transplante. Eu renasci com essa córnea”, disse dona Dinair.

Santarém: aumento do número de doações

De 2012, quando iniciaram as captações de órgãos em Santarém (município do oeste do Pará), a 2016 foram registradas nove doações de múltiplos órgãos. Em 2017, até o mês de agosto, já foram realizadas oito captações. Uma das explicações para a diminuição das negativas familiares para doação foi o início do programa de transplantes do Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), em novembro de 2016.

Até o momento, em 10 meses, o hospital já realizou 11 transplantes. Apesar da modalidade do procedimento ser diferente – entre vivos -, a nova realidade estimula a população a doar órgãos. Desde a implantação da Organização de Procura de Órgãos (OPO) no Hospital Regional, já foram captados 77 órgãos e tecidos, sendo 33 córneas, 32 rins, oito fígados e quatro corações.

Captação - Segundo dados divulgados pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o Brasil tem mais de 33 mil adultos e crianças na fila de espera por um transplante. Em 2016, além do início do programa de transplante, o HRBA começou a captar órgãos com equipe própria. Como a unidade ainda não está habilitada para o transplante com doador falecido, as captações são disponibilizadas para outras unidades que realizam o procedimento, seguindo a lista estadual.

O plano logístico traçado pode ser determinante. A equipe do Hospital Regional trabalha para realizar essa modalidade de transplante na própria unidade, criando uma lista regionalizada. “Não é só uma conquista do hospital; é uma conquista do oeste do Pará, do Estado e até da Federação, porque quanto mais unidades estiverem transplantando, maior é a possibilidade de se ter um efeito na vida dos pacientes, permitindo que esses pacientes saiam da diálise e consigam ter uma vida melhor e mais adequada”, afirma o cirurgião Marcos Fortes.

(Colaboração: Joab Ferreira)