Mercado caribenho pode ser o novo destino das flores produzidas no Pará
Há pouco mais de seis anos o técnico em refrigeração José Torres decidiu buscar um novo rumo para sua vida e começou a plantar orquídeas. Para isso, abandonou a refrigeração de ambientes, seguindo exatamente o caminho oposto: começou a construir estufas. A mudança deu tão certo que hoje ele faz parte de um grupo de seis produtores reunidos no Orquidário Torres, em Castanhal, e vende a produção nos mercados do Maranhão, Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Pernambuco. O orquidário foi um dos locais visitados pela missão empresarial da Martinica, que esteve em Belém entre quarta-feira (22) e sábado (25) prospectando novas oportunidades de negócio no setor de flores e plantas ornamentais.
Além da proximidade do Pará com o mercado caribenho – onde se insere a Martinica –, o Estado foi escolhido para receber a visita da missão porque o cultivo de flores tropicais é uma atividade em expansão, principalmente nos municípios da Região Metropolitana de Belém e da região nordeste. A floricultura despontou como uma atividade econômica em 1996, incentivada pelo governo do Estado, que passou a oferecer ao setor ações de apoio à organização e capacitação do produtor, ao desenvolvimento tecnológico e à comercialização de produtos. As ações se complementaram com a criação, por parte do governo, do Flor Pará, um grande evento envolvendo programação técnica e feira de produtos, que este ano chega à 13ª edição.
Atualmente, estima-se que a atividade de cultivo de flores e plantas ornamentais no Pará gere 80 mil empregos diretos em toda a cadeia, que vai do plantio até a comercialização, e envolve desde agricultores familiares até pequenos e médios produtores. E a organização do setor cresce a cada ano. Um bom exemplo é a propriedade de Josuan Moraes, no distrito de Benfica, em Benevides. Nela, o produtor cultiva, em uma área de mil metros quadrados, plantas envasadas que são vendidas principalmente nas floriculturas e supermercados de Belém.
Qualificação – A atividade vem sendo desenvolvida há dez anos e, ao longo deste período, Moraes recebeu orientações técnicas da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap). “Foram quatro anos de aprendizagem, fazendo cursos e adaptando tecnologias para as especificidades da nossa região”, explica. Hoje, o local é, inclusive, usado pelos técnicos da Sedap para capacitar outros floricultores. A área das estufas irrigadas foi a que atraiu mais a atenção dos integrantes da comitiva caribenha, formada por representantes das câmaras agrícolas, paisagistas, produtores de flores e plantas e políticos da Martinica, Guadalupe e Saint-Martin.
A comitiva foi chefiada pelo prefeito dos Trois Ilets e vice-presidente do Conselho Geral da Martinica, Arnaud Rene Corail. Segundo ele, a visita aos produtores e as reuniões oficiais demonstraram que as possibilidades de intercâmbio comercial são as melhores possíveis. “É preciso agora que comecemos a afinar algumas questões técnicas, como as regulamentações e barreiras fitossanitárias para as exportações”, afirmou.
Na última quinta-feira, 23, o grupo reuniu-se com o secretário de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca, Hildegardo Nunes, em Belém. “A visita oficial é o primeiro passo para o fortalecimento dessa relação bilateral, que oferece a oportunidade de mostrarmos diferentes aspectos da economia e do turismo do Pará. A flor é só o começo, porque o desafio é muito maior”, disse Hildegardo. Segundo o secretário, a América Latina e Caribe têm pontos comuns, como clima favorável, produtos e agricultura familiar que reforçam a importância da cooperação econômica.
A ideia trazida pela missão caribenha é de criar uma rede comercial formada por sete países, incluindo o Suriname, Guiana e Brasil, além dos localizados no Caribe, e será fundamentada em seminários internacionais para o debate de experiências entre os países. O primeiro será entre 18 e 20 de maio, na Martinica. O seminário vai discutir os avanços científicos na área de floricultura e regulamentação das leis para comercialização das flores.
Além do seminário, que ocorre em maio, haverá a exposição internacional de flores, de 15 a 21 de junho, quando deverá ser lançada a rede internacional de comércio do Caribe. “A prioridade na nossa representação será para os produtores e técnicos que irão em busca de novos mercados e tecnologias de produção”, explicou Hildegardo Nunes.