Ararajubas retomam os céus de Belém: soltura de 15 aves marca capítulo histórico na COP30
O momento simboliza mais do que a abertura de uma porta: representa um reencontro da cidade com uma espécie que, por décadas, havia desaparecido da paisagem urbana
O Parque Estadual do Utinga amanheceu diferente nesta segunda-feira (17). Entre o canto das primeiras ararajubas e a expectativa de pesquisadores, gestores e visitantes, o Governo do Pará realizou a soltura das primeiras 15 das 30 aves previstas para este ano em homenagem à COP30. O momento simboliza mais do que a abertura de uma porta: representa um reencontro da cidade com uma espécie que, por décadas, havia desaparecido da paisagem urbana de Belém.
A ação marca novo avanço do Projeto de Reintrodução e Monitoramento de Ararajubas na Região Metropolitana de Belém, realizado há oito anos pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio), em parceria com a Fundação Lymington. Desde o início da iniciativa, 58 aves já foram devolvidas à natureza e outras sete nasceram em solo paraense, fruto de reprodução natural — um indicador poderoso de que a espécie começa, enfim, a se restabelecer no ecossistema local.
O governador do Pará, Helder Barbalho, participou da atividade e destacou o simbolismo do momento.
“Abrir essa porta e libertar essas aves representa repovoar a Amazônia. Espécies que antes eram dominantes voltam a viver plenamente em seu habitat. A pressão urbana afastou a ararajuba, mas, com este programa, estamos reintroduzindo dezenas de indivíduos para recuperar a atmosfera da nossa biodiversidade. Realizar esse gesto em plena COP30 reforça ao mundo que é possível conciliar desenvolvimento, conservação e vida na Amazônia legítima, pujante e sustentável”, afirmou.
Um esforço conjunto pela conservação
Essa conquista é especialmente significativa diante do cenário histórico. Até pouco tempo atrás, as ararajubas eram consideradas extintas nos arredores da capital. A maioria das aves que hoje sobrevoam Belém nasceu em cativeiro controlado na Fundação Lymington, em Juquitiba (SP), onde recebem cuidados veterinários, alimentação balanceada e estímulos comportamentais essenciais ao desenvolvimento. A viagem até o Pará inicia a fase mais sensível do processo: a aclimatação.
No aviário do Parque Estadual do Utinga, as aves permanecem de quatro a seis meses em um ambiente especialmente preparado para fortalecer suas capacidades naturais. Ali, passam por treinamentos de voo, socialização e avaliações de saúde rigorosas. A dieta também muda, incorporando frutos amazônicos como açaí, murici e uxi — etapa decisiva para que reconheçam alimentos do habitat ao qual estão prestes a retornar. É um período de reaprendizado e conexão com a floresta que as receberá.
O resultado desse esforço conjunto tem emocionado quem acompanha de perto a trajetória das ararajubas. Depois de décadas ausentes dos céus de Belém, elas voltaram a ser vistas em bandos, cruzando o horizonte com suas cores amarelo-ouro e verde vibrante. Esse renascimento desperta orgulho não apenas entre especialistas, mas também entre moradores que reencontram, na vida cotidiana, uma parte da memória ecológica da cidade.
Uma nova etapa e melhorias
O projeto ganhou novo impulso em abril de 2024, quando o Ideflor-Bio e a Fundação Lymington firmaram um Termo de Colaboração que permitiu ampliar estruturas do aviário, criar novos espaços de educação ambiental e instalar equipamentos interativos voltados ao público. A ampliação transformou o Utinga em um centro de referência em conservação da espécie e aproximou visitantes da ciência por trás da reintrodução.
Para o presidente do Ideflor-Bio, Nilson Pinto, o resultado é um exemplo de como o trabalho contínuo gera impactos duradouros. “O sucesso desse programa mostra que restaurar espécies ameaçadas é possível quando ciência e compromisso caminham juntos. As ararajubas voltaram para ficar, e cada ave libertada representa uma vitória para o Pará, para a Amazônia e para o futuro da conservação”, destacou.
O diretor de Biodiversidade do Ideflor-Bio, Crisomar Lobato, reforça que essa não é apenas uma ação ambiental, mas também educativa. “A ararajuba é um símbolo da Amazônia e do Brasil. Quando ela volta a ser vista livre, desperta identidade, pertencimento e responsabilidade. É uma espécie que ensina, que conecta as pessoas ao que estamos protegendo”, afirmou.
A Fundação Lymington, parceira desde o início do projeto, também celebrou a nova etapa. O biólogo Marcelo Vilarta, que acompanha diariamente o preparo das aves, explica que o trabalho visa fortalecer a população já estabelecida. Ele ressalta que os indivíduos soltos hoje passaram por treinamento intensivo de voo e alimentação com frutos nativos.
“Essa soltura reforça a população e diminui o risco de extinção local. O próximo grupo está em preparação e seguirá o mesmo processo, passando pelo aviário maior e depois por esta fase final antes da liberdade”, explicou.
