Restauração produtiva avança na Amazônia e vira chance real de renda e inclusão para agricultores familiares
No Pavilhão Pará da COP30, especialistas destacam como recuperar Reservas Legais pode unir conservação, produção agrícola e fortalecimento da agricultura familiar
O painel “Oportunidades da Recuperação Produtiva de Reservas Legais: integrar conservação, produção e inclusão”, realizado na sexta-feira (14), na Sala Castanheira do Pavilhão Pará na COP30, reuniu especialistas, produtores e representantes de instituições públicas e privadas. A discussão apontou caminhos para transformar áreas degradadas em sistemas produtivos diversificados, ampliando renda, fortalecendo a agricultura familiar e recuperando a floresta.
A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (SEMAS) tem impulsionado essa agenda no Estado, articulando normas, programas e orientações técnicas que estimulam a recuperação de passivos ambientais por meio de modelos produtivos. Para a pasta, a restauração produtiva representa uma oportunidade real de conciliar regularização ambiental, inclusão socioeconômica e geração de trabalho no campo.
O painel contou com a presença de painelistas especialistas em regularização e restauração produtiva. Fizeram parte da mesa de discussão Silvio Brienza Junior, EMBRAPA; Marcela Eberius Mendonça, Coordenadora de Regularização Ambiental Rural do SFB e Coordenadora do Projeto Regualriza Rural Kfw; Gracialda Costa Ferreira Professora da UFRA; Martin Ewert, Coordenador de Agricultura Familiar e Sistemas Regenerativos da TNC e o Moderador foi Luiz Edinelson Cardoso, Analista Ambiental da SEMAS.
No debate, foi ressaltado que a evolução das práticas de recuperação, especialmente por meio de sistemas agroflorestais, tem consolidado a restauração produtiva como alternativa eficaz para agricultores familiares que não querem perder área de uso. Segundo os especialistas, a combinação de espécies nativas com cultivos comerciais, como cacau, contribui para reestruturar solos, ampliar a biodiversidade e fortalecer uma economia de base florestal.
Martin Ewert, Coordenador de Agricultura Familiar e Sistemas Regenerativos da The Nature Conservancy (TNC), reforçou esse avanço ao comentar que modelos produtivos já mostram resultados concretos em diferentes regiões do Pará.
“Em sete anos de evolução do sistema, a gente está voltando a ter uma floresta produtiva. Estamos trazendo renda para os agricultores e recuperando áreas de pastagem degradada”, afirmou.
Um marco importante para essa expansão foi a instrução normativa construída pelo Ideflor-Bio, com participação de diversos parceiros, que autorizou o uso de sistemas agroflorestais com cacau em áreas de Reserva Legal. O instrumento, alinhado às políticas ambientais coordenadas pela SEMAS, abriu novas possibilidades de regularização e de restauração produtiva no estado.
Para garantir a permanência das famílias no campo e a expansão dos sistemas agroflorestais, o acesso à assistência técnica, insumos, capacitação e crédito rural continua sendo apontado como um dos principais desafios. A SEMAS vem atuando na ampliação dessas frentes por meio de programas de fomento, regulamentação e articulação interinstitucional.
União pela restauração
As universidades também desempenham um papel estratégico nesse processo. Representando a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Gracialda Costa Ferreira destacou que a restauração é essencial para reequilibrar sistemas ambientais e sociais, além de ser um caminho inadiável diante da degradação acumulada na Amazônia.
“A floresta está doente, mas ainda é possível curá-la. Para isso, precisamos agir imediatamente”, afirmou.
Ela reforçou que o momento exige cooperação entre instituições, governos, organizações e sociedade civil. “Não há mais tempo para sonhar com um futuro sustentável. Se o presente não for sustentável, não há futuro. Precisamos de união agora”, declarou.
A pesquisadora lembrou ainda que saúde humana e saúde da floresta são indissociáveis.“Se a floresta está doente, nós estamos doentes. A restauração é sobre equilíbrio e justiça ambiental”, concluiu.
O painel reforçou que a restauração produtiva das Reservas Legais não é apenas uma pauta ambiental, mas uma estratégia de desenvolvimento sustentável que combina geração de renda, fortalecimento da agricultura familiar, conservação da biodiversidade e redução dos passivos ambientais — uma agenda que avança no Pará com apoio técnico, políticas públicas e compromisso das populações amazônidas.
Texto Lucas Maciel / ASCOM SEMAS
