Especialistas debatem monitoramento e reabilitação da fauna amazônica no Pavilhão Pará da COP30
Discussão evidenciou a importância de redes colaborativas capazes de responder com agilidade e responsabilidade aos desafios da conservação
O Pavilhão Pará, na Green Zone da COP30, recebeu nesta quarta-feira (13), um dos debates mais sensíveis e necessários para o futuro da biodiversidade amazônica. O painel “Estratégias de Conservação da Fauna Aquática: Gestão em UCs, Monitoramento e Reabilitação”, que reuniu pesquisadoras, gestoras e especialistas que dedicam suas carreiras à proteção de espécies ameaçadas.
Conduzida pela analista ambiental do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio), Lorena Lisboa, a discussão evidenciou a importância de redes colaborativas capazes de responder com agilidade e responsabilidade aos desafios da conservação.
Logo na abertura, Lorena destacou o caráter integrado das ações que envolvem unidades de conservação, monitoramento e atendimento emergencial de animais debilitados. “Nosso painel mostrou como trabalhamos em rede. Muitas vezes o Ideflor-Bio é acionado quando um animal aparece debilitado; fazemos o monitoramento e conseguimos apoio dos nossos parceiros, como o Instituto Bicho D’Água, a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) ou o Instituto Bioma”, explicou.
Ação integrada - Para ela, essa articulação solidária permite que cada instituição contribua com sua especialidade. “Falamos sobre a importância da conservação e da preservação desses animais, de manter o ambiente limpo e fortalecer nossas unidades de conservação”, completou.
A participação da presidente do Instituto Bicho D’Água, Renata Emim, reforçou a relevância do atendimento qualificado e do trabalho de reabilitação. A instituição atua no resgate e manejo de mamíferos, quelônios e outros animais aquáticos, com foco especial em espécies ameaçadas. “Foi muito importante trazer o trabalho do Bicho D’Água para esse espaço. Atuamos nas unidades de conservação, sempre em parceria, realizando resgates, tratando e reabilitando os animais para tentar devolvê-los à natureza”, relatou. Renata lembrou que o retorno desses indivíduos às áreas protegidas contribui diretamente para a manutenção dos ecossistemas amazônicos.
A diretora do Hospital Veterinário da Ufra, Ana Ribeiro, trouxe uma reflexão contundente sobre o papel da fauna nas discussões ambientais. Segundo ela, mesmo em eventos globais como a COP, a relevância da fauna ainda é pouco reconhecida. “A fauna ainda está muito invisível. A sociedade não reconhece seu papel para a conservação e para a própria manutenção das florestas”, afirmou. Ana destacou que, nas florestas tropicais, cerca de 80% da dispersão de sementes depende de animais. “A ausência da fauna é a ausência de florestas. É a degradação do ecossistema”, alertou.
Aprendizagem na prática
A professora enfatizou ainda que a participação da universidade em ações de reabilitação e pesquisa é essencial para a formação de novos profissionais preparados para atuar em conservação. “É uma oportunidade para desenvolvermos um trabalho que vai além da reabilitação: formamos pessoas capazes de atuar de forma responsável nesse novo momento. A COP marca um ponto sem retorno; a responsabilidade agora é muito maior para todos nós”, enfatizou Ana, destacando o peso do encontro para avanços institucionais e científicos.
Também presente no debate, a coordenadora do Instituto Bioma, Doracele Alcântara, compartilhou experiências voltadas ao monitoramento da fauna e à aplicação de metodologias que ampliam o conhecimento sobre espécies aquáticas em risco. Sua fala reforçou a importância de alinhar dados científicos, gestão pública e ações comunitárias para garantir eficiência nas estratégias de conservação. A articulação com o Ideflor-Bio, segundo ela, amplia a capacidade de resposta do sistema estadual de biodiversidade.
A coordenadora do Museu de Zoologia da Ufra, Andrea Magalhães, destacou o papel da pesquisa científica e dos acervos zoológicos como base para decisões estratégicas de conservação. Andrea ressaltou que a atualização de inventários, o estudo das populações aquáticas e o conhecimento sobre a distribuição das espécies são ferramentas indispensáveis para orientar planos de manejo e políticas públicas. Sua contribuição mostrou como a ciência, quando conectada às demandas dos territórios, gera impactos reais.
A importância da fauna
Ao longo do painel, o público pôde compreender como a conservação da fauna aquática depende tanto do resgate emergencial quanto de ações sistemáticas de gestão em unidades de conservação, educação ambiental, fiscalização e produção científica. As falas das especialistas demonstraram que, diante das mudanças climáticas, a proteção desses animais, muitos deles indicadores da saúde dos ecossistemas, torna-se ainda mais urgente.
O encontro no Pavilhão Pará encerrou-se com um chamado coletivo à ação. As painelistas reforçaram que conservar a fauna aquática amazônica é garantir o equilíbrio dos rios, a vitalidade das florestas e a sobrevivência das comunidades que dependem deles.
