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Estudo financiado pela Fapespa avalia efeitos ecológicos e sociais de Sistemas Agroflorestais

Pesquisa é desenvolvida na Reserva Chico Mendes, no Acre (AC), integra a iniciativa 'Amazônia +10', um esforço coletivo dos estados do PA, AC e SP

Por Manuela Oliveira (FAPESPA)
24/10/2025 11h41

O cuidado com a floresta e com as pessoas que a habitam é o foco do projeto de pesquisa que estuda os efeitos das práticas agroflorestais no bem-estar e nos ecossistemas do sudoeste da Amazônia. A iniciativa integra a chamada Amazônia +10, e reúne esforços de três estados e suas respectivas fundações de amparo à pesquisa: a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a Fundação de Amparo à pesquisa do Estado do Acre (Fapac).

O projeto também conta com a participação ativa de importantes instituições acadêmicas: a Universidade Federal do Pará (UFPA), a Universidade Federal do Acre (UFAC), a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), entre outras, como o ICMBio, organizações não governamentais e associações comunitárias locais. 

“Realizar pesquisas na Amazônia envolve custos elevados e, ainda hoje, persistem significativas assimetrias na distribuição de recursos para ciência e tecnologia entre as regiões no Brasil, e o apoio da Fapespa tem sido decisivo não apenas para a execução das atividades, mas também para a consolidação de uma ciência de excelência, capaz de gerar indicadores robustos e interpretações inovadoras sobre o papel das práticas agroflorestais. Com os recursos recebidos, foi possível adquirir materiais permanentes e custear as campanhas de campo”, explica a professora doutora Grazielle Sales Teodoro, professora do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará (UFPA), e coordenadora do Grupo de Trabalho (GT) Ambiental.

Por meio das articulações com a Fapespa e o CNPq, o projeto obteve uma bolsa de mestrado financiada pelo CNPq, evidenciando a contribuição significativa do projeto para a formação de novos pesquisadores, a exemplo do pesquisador Anthony Barbosa da Silva, Mestre em Botânica Tropical pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (MEG), com projeto de pesquisa financiado pela Fapespa. Atualmente, ele é doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFPA.

As atividades são desenvolvidas de forma integrada e interdisciplinar, envolvendo pesquisadores, estudantes e comunidades locais, com o objetivo de buscar estratégias que conciliem a conservação ambiental com a geração de renda. 

O projeto atua, diretamente, na coleta de dados em campo, estabelecendo indicadores ecológicos e sociais que permitem compreender como as práticas agroflorestais adotadas influenciam o funcionamento dos ecossistemas e o bem-estar das populações amazônidas, especialmente, na Reserva Extrativista Chico Mendes (RESEX) – unidade de conservação ambiental no estado do Acre, criada em 1990, com o intuito de proteger a floresta Amazônica e conservar o modo de vida tradicional das comunidades da região, que dependem da extração sustentável dos recursos florestais.

A principal motivação do projeto é promover, de forma participativa, a avaliação e o monitoramento da efetividade de iniciativas alternativas ao desmatamento no sudoeste da Amazônia brasileira, com ênfase nos Sistemas Agroflorestais (SAFs), integrando dimensões ambientais, econômicas e sociais, todas de grande relevância para a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável. 

A equipe do Pará, coordenada pela professora doutora Grazielle Sales Teodoro, afirma que o  principal objetivo é monitorar a efetividade dos SAFs na conservação da biodiversidade aquática e terrestre, bem como nas funções ecossistêmicas promovidas pelos SAFs ao longo do tempo. "O projeto abrange dimensões sociais e econômicas, com o objetivo de avaliar o desempenho socioeconômico das famílias extrativistas na busca pelo fortalecimento de cadeias produtivas”, diz ela.

Na pesquisa, também são considerados os mecanismos de captura de carbono e a construção de indicadores sociobioeconômicos ajustados à realidade amazônica. 

Sistemas Agroflorestais (SAFs) - São sistemas de produção que integram o cultivo agrícola de vegetais e/ou animais com o plantio de árvores, visando a produção de alimentos de forma sustentável, a recuperação de áreas degradadas e, também, a recuperação do solo e da água. Esses sistemas buscam otimizar o uso da terra e criar um ecossistema resiliente nas regiões implementadas. 

Segundo Nota Técnica, o contexto Econômico da Produção Florestal do Pará, elaborada pela Fapespa em 2024, com dados do Censo Agropecuário dos anos entre 2006 e 2017, os SAFs são fundamentais para a sustentabilidade ambiental, pois contribuem para recuperar áreas degradadas, preservando a biodiversidade local e reduzindo os impactos das mudanças climáticas.  

Dados oficiais observam padrões de crescimento do uso desses sistemas na Região Norte, destacando o Pará, que se sobressai pelo grande potencial de implementação, em razão de sua ampla área e elevada diversidade ecológica. Os resultados indicam uma concentração das práticas agroflorestais no estado, que lidera com ampla margem, concentrando 60,5% do total regional e registrando o maior crescimento absoluto, com 3.684 novos estabelecimentos (+18,2%), saltando de 20.252 para 23.936 de estabelecimentos que possuem SAFs.

Resultados - Até o momento, o projeto avança com êxito e os resultados são bastante positivos em relação à implementação dos SAFs, que se destacam como alternativa eficaz ao desmatamento na Amazônia, uma vez que estes promovem o sequestro do carbono, a conservação da biodiversidade, e a manutenção das funções ecossistêmicas. Com a proposta, lacunas importantes acerca do funcionamento das SAFs estão sendo preenchidas, sendo que esses sistemas de plantio desempenham um papel fundamental para as comunidades da reserva extrativista Chico Mendes, que participa, ativamente, das suas diversas etapas desde a concepção.

Além disso, por meio da implementação dos SAFs, algumas áreas da RESEX estão sendo restauradas, no contexto desse projeto, evidenciando a importância da iniciativa na manutenção das áreas dessa comunidade. “Essa integração entre ciência e sociedade é essencial para assegurar que os resultados gerados promovam tanto o fortalecimento das comunidades quanto a conservação da floresta. Esperamos que os resultados possam contribuir para o aprimoramento de políticas públicas” reforça a pesquisadora.

Para o Grupo de Trabalho Ambiental, os resultados reforçam uma antiga discussão acerca do enorme potencial dos Sistemas Agroflorestais, pois eles fornecem não apenas o alimento e renda, mas também, os serviços ecossistêmicos essenciais como o estoque de carbono e a fertilização natural do solo. Com artigo submetido à revista Science of the Total Environment (STOTEN), mas ainda em fase de revisão, um resultado interessante da pesquisa é a constatação de que os agricultores, que manejam esses sistemas atuam, de certa forma, como “designers ecológicos”.

Essa denominação sugere que as decisões de cultivo nas áreas ambientais, aliadas ao tempo necessário para o estabelecimento das interações ecológicas, promovem uma “migração funcional” nas estratégias das plantas de espécies aquisitivas (de rápido crescimento) para espécies conservativas (que priorizam o armazenamento de recursos). Ao longo do tempo, tem-se ambientes mais férteis, multifuncionais e produtivos. Esses resultados inserem os SAFs em uma nova perspectiva ecológica, mostrando como a ação humana pode moldar, positivamente, as estratégias das plantas e o funcionamento dos ecossistemas nos SAFs, desenvolvendo alternativas para as gerações futuras dessas comunidades.

“A iniciativa Amazônia+10 é um esforço coletivo de 25 fundações estaduais, que estão trazendo insights importantíssimos da ciência, tecnologia e da inovação para o desenvolvimento sustentável da nossa região, e aqui nós temos um projeto que exemplifica muito bem isso: o entendimento de como os sistemas agroflorestais, realmente, funcionam. E promover esse entendimento para internalização das comunidades, que são os principais usuários e os maiores beneficiários dessa tecnologia, é fundamental para que a gente possa aprimorar cada vez mais modelos que unam a conservação da biodiversidade e a produtividade necessária para a qualidade de vida da nossa população " reforçou Marcel Botelho, diretor-presidente da Fapespa.

*Texto Jeisa Nascimento