Paciente do Oncológico Infantil realiza sonho de conhecer a Curuzu e jogadores do Paysandu
Em cuidados paliativos na unidade de saúde do Pará, o jovem torcedor Márcio Kauã Rosa, 14 anos, conheceu o estádio e ídolos que só acompanhava pela TV

O adolescente Márcio Kauã Rosa de Jesus, de 14 anos, realizou na manhã desta sexta-feira (26) um sonho que carregava desde pequeno: conhecer o Estádio Leônidas Sodré de Castro, o Banpará Curuzu, do Paysandu. Paciente oncológico, o jovem torcedor recebe cuidados paliativos no Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo (Hoiol), em Belém.
A visita foi organizada pelas equipes de Humanização e de Cuidados Paliativos do hospital, em parceria com a Assistência Clínica em Consultas e Exames de Belém (ACCEB), Casa Ronald McDonald e com o Departamento de Responsabilidade Social do Paysandu. Kauã deixou a unidade em uma ambulância por volta das 9h, acompanhado por uma equipe multiprofissional. Ao chegar à Curuzu, foi recebido por dirigentes, jogadores e o mascote Lobo Mau. Visitou refeitório, vestiário, hotel, sala de troféus e conheceu o gramado, onde assistiu o treino do time bicolor.

Sonho - A mãe do garoto, a dona de casa Joelma Rosa, conta que a paixão de Kauã pelo clube paraense começou por influência do avô paterno. “Eles ouviam os jogos na rádio ao mesmo tempo em que acompanhavam na TV e sempre davam dicas de como melhorar o desempenho da equipe”, lembra Joelma aos risos. Ela revela ainda que o desejo do filho conhecer o estádio é antigo. “Somos de Castanhal (município situado no nordeste paraense) e toda vez que vínhamos a Belém e passávamos na frente da Curuzu, ele falava que queria muito conhecer por dentro e torcer pelo time de perto.”
Joelma conta ainda que a realização do sonho do filho veio em um momento importante e desafiador do tratamento. Kauã, como o rapaz prefere ser chamado, luta contra o linfoma linfoblástico T, um tipo raro e agressivo de câncer, diagnosticado em 2018. Após um período de remissão, a doença voltou a apresentar sinais em fevereiro deste ano. E apesar dos tratamentos de propostas curativas, o câncer avançou.

O jovem passou, então, a ser acompanhado pela equipe multiprofissional de cuidados paliativos da unidade. No Hospital Octávio Lobo, 43 pacientes recebem essa abordagem, que se dedica ao cuidado de pessoas com doenças graves que ameaçam a vida.
“Na semana passada, a família foi informada sobre a progressão da doença e que, infelizmente, não seria mais possível oferecer tratamentos modificadores, pois não trariam benefícios. Diante disso, o paciente entrou no que se costuma chamar de fase final de vida, quando não há mais opções terapêuticas que alterem o curso da doença", explicou o médico paliativista pediátrico do Hoiol, Thiago Gama.
Para Gama, a abordagem paliativa é parte essencial do cuidado. “Cuidamos da pessoa em sua totalidade. Para isso, precisamos conhecer sua história de vida, seus desejos e sonhos. Quando descobrimos que o maior desejo do Kauã era o de visitar a Curuzu, buscamos realizar. Afinal, cuidados paliativos não são sobre morte, são sobre vida. Proporcionar momentos de leveza, felicidade e a realização de um sonho não tem preço. Isso beneficia não apenas o paciente, mas os familiares”, completou. Vale destacar que a iniciativa de realizar o sonho de Kauã partiu do especialista e foi prontamente acolhida pela equipe multiprofissional e pela diretoria da unidade.

Joelma aprovou a ideia e agradeceu a equipe pelo apoio na realização do sonho do filho. "O Kauã é torcedor fanático e vê-lo realizando um sonho é muito especial. Ele queria conhecer a Curuzu. Conheceu e ainda encontrou com os jogadores e com o goleiro (Matheus Nogueira), de quem ele mais gosta. Muito obrigada por isso", disse.
Ao abordar o acolhimento ao torcedor Kauã e a presença do Paysandu em campanhas de doação de sangue, o vice-presidente do clube, Diego Moura, destacou a parceria com o Hospital Octávio Lobo e o compromisso do time em utilizar a força e a visibilidade do esporte no apoio a causas sociais. “É um privilégio participar dessas ações e proporcionar momentos de alegria, como esse, dedicado ao torcedor Kauã. Nós vemos a responsabilidade social como uma prioridade, é um dever nosso ir além do futebol”, disse.
Para a equipe que acompanhou a visita, a manhã na Curuzu evidenciou que o cuidado integral vai além do tratamento clínico. “Cuidados paliativos vão além do controle e alívio da dor. É uma abordagem que traz de volta os sentidos e abre espaço para a vida que ainda pulsa. Realizar um sonho, como esse do paciente Kauã, é lembrá-lo que, apesar da finitude, ainda há espaço para alegria, para o afeto e para a dignidade”, concluiu o psicólogo Thiago Pinheiro.
Referência - O Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo é credenciado pelo Ministério da Saúde como Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) e referência na região amazônica para diagnóstico e tratamento do câncer infantojuvenil. Mais de 1.300 pacientes estão em tratamento atualmente no hospital, gerenciado pelo Instituto Diretrizes (ID), sob contrato de gestão com a Secretaria de Saúde Pública do Pará (Sespa).
Texto: Ellyson Ramos - Ascom Hoiol