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Projeto da Uepa utiliza Escape Room no ensino de Química conectado à Amazônia

Aliar metodologia ativa com o contexto da região no aprendizado dessa Ciência em escolas públicas é um dos objetivos da iniciativa da instituição

Por Monique Hadad (UEPA)
24/07/2025 18h00

Divididos em grupos, em uma sala, cercados por pistas e enigmas, os participantes têm uma missão a partir de uma situação fictícia: solucionar desafios e encontrar fórmulas de compostos, para produzir um medicamento e salvar os moradores de uma aldeia, acometidos por uma doença desconhecida, que se espalha rapidamente. Mas, ao contrário do que parece, essa experiência não é um jogo de entretenimento, e sim uma atividade acadêmica, que integra conteúdos de Química Orgânica com o contexto amazônico, em uma proposta lúdica e colaborativa.

Escape Room Pedagógico 'Entre Folhas e Fórmulas: o Desafio da Floresta' estimula os participantes a solucionar desafios

Assim é constituído o Escape Room Pedagógico “Entre Folhas e Fórmulas: o Desafio da Floresta”, no qual os alunos participam de desafios envolvendo classificações do carbono e estrutura molecular das cadeias carbônicas, promovendo raciocínio lógico, trabalho em equipe e valorização dos saberes locais. O Escape Room Pedagógico (ERP) é uma metodologia ativa de ensino, que vem ganhando espaço no contexto educativo, ao transformar conteúdos curriculares em desafios envolventes, que estimulam o protagonismo dos alunos e promovem uma nova forma de aprender na prática.

Bolsistas - O Projeto “Entre Folhas e Fórmulas: o Desafio da Floresta” foi desenvolvido no âmbito do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), e produzido por alunos do curso de Licenciatura em Química da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Juliana Pereira, Débora Marinho e Israel Nóbrega, sob a coordenação dos docentes Ronilson Souza e Lucicléia Silva, vinculados ao Centro de Ciências Sociais e Educação (CCSE) e professores permanentes do Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia (PPGEECA).

Participantes do Escape Room ocorrido em junho, no Planetário do Pará

De acordo com o professor Ronilson Souza, a ideia de elaborar o projeto surgiu da vontade de tornar o ensino de Química mais interessante e conectado com o dia a dia dos alunos. “A gente percebe que temas como classificação dos carbonos, tipos de ligações e estrutura das cadeias orgânicas acabam sendo muito abstratos. Então, pensamos em criar uma atividade interativa, no formato de Escape Room, que unisse esses conteúdos com desafios baseados na floresta amazônica”, informa Ronilson Souza.

Atividade atrela conhecimento de Química à realidade da Amazônia

Aliar metodologia ativa com o contexto amazônico para o ensino de Química em escolas públicas é um dos objetivos do Projeto. “Propusemos ações que visam articular o uso de metodologias ativas e as questões ambientais, com enfoque na sustentabilidade, explorando o contexto amazônico para abordar um ensino de Química contextualizado nas escolas públicas vinculadas ao Pibid. Dentre as metodologias ativas, selecionamos o Escape Room Pedagógico”, ressalta Lucicléia Silva.

A professora explica que os jogos de Escape Room foram criados com a finalidade de recreação e entretenimento, “simulando, a partir de uma narrativa, situações reais ou fictícias, com o objetivo de envolver jogadores em um espaço simulado, no qual precisam encontrar pistas, resolver enigmas e executar tarefas para escapar de um ambiente fechado em um determinado período”. 

De acordo com a docente, entre as diferentes adaptações há uma versão analógica portátil, denominada como Escape Room Pedagógico. “São exploradas características do formato original, com objetivos de aprendizagem definidos de forma clara, podendo ser aplicados em qualquer ambiente de aprendizagem, seja ele formal ou não-formal, com ou sem uso de tecnologias digitais”, detalha Lucicléia Silva.

Alunos reconheceram a importância do Projeto

Resultados - Em abril deste ano, o Escape Room “Entre Folhas e Fórmulas: o Desafio da Floresta” foi aplicado na Escola Estadual Izabel dos Santos Dias, no distrito de Icoaraci (pertencente a Belém). Participaram da atividade 22 alunos do 3º ano do Ensino Médio, com a supervisão da professora Adriana Queiroz, que atua na escola. 

“Me surpreendi com o engajamento dos alunos na utilização do Escape Room para o ensino de Química Orgânica. Ao transformar esse conteúdo em desafios e enigmas a serem resolvidos em equipe, os alunos ficaram muito motivados e participaram ativamente da atividade. Em um trabalho colaborativo, fizeram a aplicação prática dos conceitos químicos em situações-problema. Em nossas observações, percebemos que os alunos reagiram de forma entusiasmada e curiosa, demonstrando iniciativa e envolvimento com os conteúdos abordados”, ressalta Adriana Queiroz.

O Projeto também foi uma das iniciativas integrantes da programação do “Dia do Químico 2025: Educação, Ciência e Inovação”, que ocorreu, em junho, no Centro de Ciências e Planetário do Pará (CCPPA). A dinâmica atraiu o público e foi elogiada pelos participantes. Aluno de Licenciatura em Química, Vitor Brito, um dos participantes, diz que, “através dos conhecimentos de Química - como as ligações sigma e pi, que a gente desvendou -, foi possível ter um ensino efetivo, com a junção da atividade lúdica com a teoria, que muitas vezes é vista na sala de aula de forma tradicional. Foi uma atividade muito interessante para nós, e que a gente também vai poder levar futuramente aos nossos alunos”.

Projeto foi aplicado na Escola Estadual Izabel dos Santos Dias, no distrito de Icoaraci

Aluna da Uepa, Juliana Alves integra a equipe que desenvolveu o Escape Room “Entre Folhas e Fórmulas: o Desafio da Floresta”. Ela ressalta a importância de a atividade atrelar o conhecimento de Química à realidade da Amazônia. “A gente desenvolveu um projeto em que os alunos têm a oportunidade de revisar conteúdos, como as ligações sigma e pi, cadeira saturada e insaturada, e reforçar a importância da contextualização do assunto com a região amazônica. A gente pensou no projeto todo voltado ao nosso contexto da Amazônia, como a história indígena e a nossa forte relação com o uso dos medicamentos e das plantas medicinais”, acrescenta Juliana.

Formação sobre Escape Room Pedagógico, na Uepa, com a presença dos professores Ronilson Souza e Lucicléia Silva, e de alunos da instituição

Realidade - O professor Ronilson Souza destaca, ainda, que a abordagem do conhecimento tradicional da Amazônia também aproxima os estudantes do conteúdo científico. “Usamos exemplos de plantas como andiroba, copaíba e jucá, que os alunos conhecem do cotidiano, para montar os enigmas. Isso ajuda a dar sentido ao conteúdo, porque eles conseguem relacionar o que aprendem na sala com o que está ao redor deles. O objetivo é que os alunos aprendam resolvendo problemas, de forma colaborativa e divertida, mas com foco nos conteúdos de Química Orgânica do Ensino Médio”, enfatiza.

Os alunos da Uepa que integram o Projeto “Entre Folhas e Fórmulas: o Desafio da Floresta” apresentaram os resultados da iniciativa durante a I Mostra de Experiências Didáticas e Produtos Educacionais em Ciências, ocorrida em julho. O evento foi promovido pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) para valorizar e divulgar iniciativas voltadas à formação de professores e ao ensino de Ciências da Natureza.