Agência Pará
pa.gov.br
Ferramenta de pesquisa
ÁREA DE GOVERNO
TAGS
REGIÕES
CONTEÚDO
PERÍODO
De
A
SAÚDE E SOLIDARIEDADE
English Version

Hospital Oncológico Infantil avança na construção do serviço de transplante de medula óssea

Unidade da região Norte integra projeto nacional para qualificação da assistência em todas as etapas, da identificação da doença hematológica ao pós-transplante

Por Leila Cruz (HOIOL)
09/07/2025 12h38
A paciente Ana Júlia Campelo, de 3 anos, na companhia da mãe, Aline Silva, e da equipe de Saúde do Oncológico Infantil

Em Belém, o Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo (Hoiol) ingressou em uma iniciativa que promete mudar o cenário do transplante de medula óssea no Pará. O convite para integrar o projeto “Qualificação do Programa de TMO do SUS - Da Identificação da Doença Hematológica até o Seguimento Pós-Transplante” veio após um criterioso mapeamento do Ministério da Saúde (MS). Por meio do Programa de Desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), foram identificados centros estratégicos com alto volume de atendimentos hematológicos, principalmente leucemias, e potencial de expansão para esse tipo de transplante.

A unidade de oncologia pediátrica da região Norte foi escolhida parceira do projeto, coordenado pela Beneficência Portuguesa, de São Paulo. Para a oncologista e diretora técnica Alayde Vieira, “o reconhecimento consolida a posição como Unidade de Alta Complexidade dentro da rede pública estadual e representa uma oportunidade histórica de avançar rumo à autossuficiência em TMO pediátrico”.

Crianças e adolescentes diagnosticados com leucemias agudas - principal indicação de TMO em pediatria - enfrentam o desafio de longos deslocamentos para regiões distantes. Isso implica separação familiar, alto custo social e risco clínico adicional. Com o suporte técnico e estratégico do projeto, o “Oncológico Infantil” se prepara para reduzir essas barreiras. “Estamos criando as condições para que, num futuro próximo, nossos pacientes possam realizar o transplante em nosso Estado, sem precisar se afastar de sua rede de apoio”, destaca  Alayde.

Entre os fatores que pesaram na escolha do Hoiol está o volume expressivo de crianças em tratamento ativo, que já passa de 900 pacientes. Soma-se a isso uma estrutura hospitalar em plena consolidação, com  Unidade de Terapia Intensiva (UTI)  pediátrica própria, equipe multidisciplinar especializada e o reconhecimento como unidade referência em alta complexidade no SUS.

O projeto nacional, por sua vez, atua em múltiplas frentes, desde a identificação precoce de pacientes elegíveis até a organização do seguimento após o transplante. O cronograma prevê capacitação da equipe multiprofissional, construção de fluxos assistenciais mais eficientes, reuniões de teleconsultoria com especialistas e cursos de educação à distância.

“Essa troca com a Beneficência Portuguesa  tem sido fundamental. Já passamos por avaliação diagnóstica, iniciamos a construção de um plano de ação robusto e estamos recebendo apoio direto para organizar nossa rotina assistencial”, explicou a diretora técnica.

Impacto positivo na rotina

Em fevereiro deste ano, os consultores da Beneficiência Portuguesa realizaram uma análise situacional junto à equipe da unidade hospitalar. Atualmente, é executada a segunda fase do projeto, cujo foco é deixar os profissionais mais aptos na programação de TMO, com a elaboração de planos de ação, definição de responsáveis e prazos. Posteriormente, será colocada em prática a fase de implementação. O prazo para o desenvolvimento é de dois anos.

Na prática, a qualificação vem transformando o dia a dia de médicos, enfermeiros, farmacêuticos, assistentes sociais, psicólogos e nutricionistas. Reuniões quinzenais e teleconsultorias mensais ajudam a equipe a discutir casos de forma mais integrada, homogeneizar condutas e adotar protocolos mais claros para monitoramento de pacientes, do diagnóstico ao pós-transplante.

Para as famílias, os primeiros impactos são percebidos na agilidade na definição de indicação de TMO, melhor preparo clínico e maior suporte psicossocial. A médio e longo prazo, a meta é ambiciosa: reduzir a mortalidade e aumentar a taxa de transplantes realizados com sucesso.

Moradora do município de São Félix do Xingu, Aline Silva é mãe de Ana Júlia Campelo, de 3 anos, que foi indicada ao procedimento após um recidiva da leucemia em janeiro deste ano. A criança recebeu a infusão de medula, no início do mês de junho, no hospital do Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (GRAACC), em São Paulo.

"A Ana sempre foi bem cuidada por todos os profissionais, tratada com muito carinho. Contudo, seria muito bom se o transplante fosse realizado em nosso Estado com tudo que é necessário, porque muitas famílias não têm condições de se deslocar para outras cidades brasileiras e precisam do benefício como o Tratamento Fora de  Domicílio (TFD). Os gastos são muitos, então a criação de um serviço próprio no Hoiol, ajudaria bastante”, disse Aline Silva.

Rumo ao próprio serviço de TMO

A concretização de um programa próprio de TMO pediátrico é um plano estratégico do Hoiol, a médio prazo. A cada ano, cerca de 20 crianças recebem a indicação do procedimento, número que justifica a criação de um programa próprio na região.

Oncologista pediátrica e diretora técnica, Alayde Vieira, classifica a parceria com o Proadi-SUS como 'um legado duradouro'

“Esse projeto é uma demonstração concreta de como políticas públicas bem articuladas e estruturadas, podem promover equidade regional e transformar a realidade de crianças e adolescentes com câncer. A parceria com o Proadi-SUS é um marco institucional que deixará um legado duradouro”, reforça a oncologista pediátrica, Alayde Vieira.

A diretora-geral, Sara Castro, destaca que enquanto o serviço não é implantado, o hospital envolve todos os setores na construção de uma rede de cuidado mais ágil e com alta capacidade de resposta. “Essa qualificação nos posiciona como um centro estratégico em nossa região, com capacidade de prestar assistência resolutiva e coordenada a pacientes com doenças hematológicas complexas. Também fortalece nossa articulação com a rede estadual e nacional de oncologia pediátrica. Para muitas famílias amazônicas, isso significa ter esperança de cura sem precisar abrir mão do colo de casa”, conclui a gestora.