Pesquisa no Pará utiliza mandioca e caroço de açaí na produção de embalagens sustentáveis
Com apoio de instituições científicas do Estado, UFPA investe na redução do impacto de resíduos plásticos que degradam principalmente os oceanos

Pela primeira vez realizada na Amazônia, a COP 30 - conferência que reunirá países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) - encontrará em Belém um cenário promissor na busca por soluções sustentáveis. Uma dessas iniciativas é o Projeto “Bioembalagens da Amazônia”, desenvolvido pelo Laboratório de Biossoluções e Bioplásticos da Amazônia (Laba), da Universidade Federal do Pará (UFPA), com apoio do Governo do Estado, por meio da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) e Universidade do Estado do Pará (Uepa).
A partir de dois elementos essenciais na gastronomia paraense - a mandioca e o açaí -, pesquisadores trabalham para reduzir o impacto ambiental causado por resíduos plásticos, que degradam principalmente os oceanos, utilizando os recursos naturais da Amazônia.
O Projeto, que também conta com o apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), e intervenção da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp), visa substituir embalagens derivadas de petróleo por alternativas biodegradáveis, produzidas a partir de amido de mandioca e resíduo do caroço de açaí — matérias-primas abundantes no Pará.
Bioeconomia - “O objetivo é criar protótipos de embalagens sustentáveis, alinhados a políticas públicas de inovação tecnológica e sustentabilidade, reduzindo o descarte inadequado de plásticos convencionais. Além disso, valorizamos recursos naturais locais e fortalecemos a bioeconomia regional”, explica o coordenador da pesquisa, professor José de Arimateia Rodrigues.
O açaí foi escolhido como base devido à sua relevância socioeconômica — o Pará é o maior produtor nacional do fruto, que integra o cardápio diário da maioria da população. Já a mandioca, além de expressiva na agricultura local e também obrigatória na alimentação (principalmente na forma de farinha), é amplamente estudada como matéria-prima para bioplásticos.

O desenvolvimento das embalagens envolve análises físico-químicas, produção de filmes biodegradáveis, testes tecnológicos e criação de protótipos para aplicação industrial.
Contribuição para o planeta - A pesquisa realizada no Pará busca solução para um problema global. Conforme o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), os plásticos representam 85% dos resíduos encontrados nos oceanos. Até 2040, esse volume pode chegar a 37 milhões de toneladas por ano. No Brasil, mais de 3 milhões de toneladas de plástico têm potencial para poluir o meio ambiente anualmente, e a foz dos rios amazônicos é uma das áreas mais críticas.
Estudos da UFPA apontam que 98% dos peixes analisados na Amazônia possuem partículas plásticas em seus organismos. “Esse projeto contribui diretamente para enfrentar essa realidade, promovendo o uso sustentável de resíduos agroindustriais e fortalecendo cadeias produtivas locais”, destaca José de Arimateia Rodrigues.

Conhecimento científico - O projeto também está integrado aos marcos estratégicos do Governo do Pará voltados ao desenvolvimento sustentável, como a Política Estadual sobre Mudanças Climáticas (PEMC), o Plano Estadual Amazônia Agora (PEAA) e a Estratégia Estadual de Bioeconomia (PlanBio). Além disso, atende a diversos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, como o ODS 12 (Consumo e produção responsáveis), ODS 13 (Ação contra a mudança global do clima), ODS 14 (Vida na água) e ODS 15 (Vida terrestre).
“O conhecimento científico pode ser a base para políticas públicas mais sustentáveis e para um futuro climático mais seguro. Nosso projeto mostra que a Amazônia é também um centro de inovação e soluções sustentáveis, contribuindo diretamente para os debates que antecedem a COP 30”, afirma o coordenador.
Além de contribuir para a preservação ambiental e inovação científica, a iniciativa tem um papel importante na formação de profissionais qualificados. Já participaram do projeto 13 estudantes de graduação, três de mestrado, dois de doutorado e três de pós-doutorado, consolidando o “Bioembalagens da Amazônia” como um polo de excelência acadêmica e científica na região.
Texto da estagiária Alice Mendonça, com supervisão da jornalista Manuela Oliveira