Ideflor-Bio lança projeto de manejo medicinal com comunidades quilombolas do Marajó
Na oportunidade, também foi discutida a valorização dos saberes tradicionais e a conservação da biodiversidade amazônica

Durante o Seminário “Proteção e Conservação do Conhecimento Tradicional Associado à Biodiversidade”, o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio) lançou oficialmente o Projeto Manejo Florestal Comunitário de Espécies Medicinais para Produção de Fitoterápicos em Comunidades Quilombolas do Marajó. A programação, realizada no auditório da Universidade do Estado do Pará (Uepa) - Campus Salvaterra, também debateu a valorização dos saberes tradicionais e a conservação da biodiversidade amazônica.
Executado com recursos do Fundo Estadual de Desenvolvimento Florestal (Fundeflor), o projeto integra ações da Diretoria de Gestão da Biodiversidade (DGBio) e alinha-se às diretrizes do Plano Estadual de Bioeconomia (Planbio). A iniciativa se destaca como uma aposta estratégica no uso sustentável da biodiversidade por meio da valorização do conhecimento tradicional, em especial nos territórios quilombolas, onde floresta, cultura e identidade caminham lado a lado.
O evento reuniu lideranças das comunidades quilombolas do Rosário e Boa Vista, professores, estudantes, técnicos, pesquisadores e representantes de instituições públicas e da sociedade civil. O seminário se consolidou como espaço de escuta ativa e diálogo entre saberes ancestrais, ciência e políticas públicas, reforçando o papel central das comunidades tradicionais na construção de um modelo de desenvolvimento sustentável para a Amazônia.

Durante os painéis temáticos, temas como a repartição de benefícios e os marcos legais da biodiversidade ganharam destaque. A procuradora do Ideflor-Bio, Ellen Moura, apresentou os desafios jurídicos da proteção do conhecimento tradicional, com foco na Lei da Biodiversidade (Lei nº 13.123/2015) e no Protocolo de Nagoia. Já a técnica da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), Ágila Rodrigues, detalhou as ações do Planbio, destacando o protagonismo das populações tradicionais no fortalecimento da economia da floresta em pé.
Meta - O projeto lançado tem como meta capacitar 60 agentes comunitários para o manejo sustentável de plantas medicinais, além da instalação de viveiros de mudas, estufas de secagem e farmácias vivas nas comunidades beneficiadas. Com isso, a ideia é fortalecer práticas comunitárias que aliam conservação ambiental, autonomia econômica e cuidado com a saúde, por meio da produção artesanal de fitoterápicos baseados em saberes transmitidos de geração em geração.
A programação do seminário também incluiu oficinas práticas, como a ministrada pela doutoranda da Universidade Federal do Pará (UFPA), Tahnity Haarad, que ensinou técnicas de produção artesanal de sabões, pomadas e outros produtos de higiene a partir de insumos locais. A oficina exemplificou o potencial da bioeconomia comunitária e a força dos saberes tradicionais como ferramentas de desenvolvimento territorial e melhoria da qualidade de vida.

Experiências - Casos de sucesso inspiradores foram apresentados, entre eles, a experiência da Rede Bragantina de Fitoterápicos e as ações do Laboratório de Etnofarmácia do Núcleo de Meio Ambiente da UFPA. Já o professor Wagner Barbosa destacou a importância da pesquisa colaborativa e da escuta ativa das comunidades para a construção de uma ciência plural, enraizada nos territórios e conectada com os desafios sociais e ambientais da região.
Segundo a técnica em Gestão Ambiental do Ideflor-Bio, Claudia Kahwage, que também é uma das organizadoras do evento, o seminário simboliza um avanço nas políticas de justiça socioambiental no Pará. “Ao promover a articulação entre diferentes formas de conhecimento e incentivar o uso sustentável dos recursos naturais, o Ideflor-Bio dá um passo concreto em direção à construção de uma Amazônia mais justa, resiliente e inclusiva”, enfatizou.

A proposta do manejo florestal comunitário de espécies medicinais transcende a produção de fitoterápicos. Ela representa uma estratégia de empoderamento dos povos quilombolas, de fortalecimento da identidade cultural e de resistência frente aos desafios da degradação ambiental e da invisibilidade histórica. Ao reconhecer que o futuro da floresta depende de quem a conhece profundamente, o projeto aponta caminhos possíveis e necessários para o desenvolvimento sustentável.
“Com essa iniciativa, o Instituto reafirma seu papel como articulador de políticas públicas que unem conservação e protagonismo comunitário. O sucesso do seminário e o início das ações no território quilombola do Marajó evidenciam que proteger a biodiversidade é, acima de tudo, proteger as pessoas que dela dependem e que a mantêm viva com sabedoria, respeito e tradição”, concluiu Kahwage.