Pará completa um ano como área livre de aftosa e pecuária alcança novos mercados
Com maior rigor nos protocolos sanitários, setor vive expansão da cadeia produtiva, geradora de empregos e renda à população paraense

Há um ano, o Governo do Pará realizou a última vacinação de bovinos contra a febre aftosa. O evento, em abril de 2024, marcou o fim de um ciclo para o setor pecuário no território estadual. Marabá foi o município escolhido para simbolizar esse encerramento, por ter sido pioneiro nas imunizações em 2007, com um dos maiores rebanhos e protagonista na pecuária regional.
Com o reconhecimento de área livre de aftosa sem vacinação, a Agência de Defesa Agropecuária do Pará (Adepará) deu início ao processo de substituição da vacina por uma vigilância baseada em fatores de risco. Foram intensificadas ações como a inspeção clínica de animais suscetíveis à febre aftosa, o mapeamento das propriedades e a inspeção regular de propriedades. Medidas importantes para manter a sanidade do rebanho e assegurar, por exemplo, a exportação de boi em pé, cujo maior produtor é o Pará.
“Sem dúvida nós avançamos. Temos hoje um Serviço de Defesa robusto do ponto de vista técnico, administrativo e operacional com um corpo técnico capacitado para atuar frente a essa nova realidade que é a ampliação do mercado para a carne bovina. Com a zona livre, nós podemos conquistar mercados mais exigentes como Japão, Canadá, Filipinas. Temos plantas especializadas que fazem atendimento de países mulçumanos e uma forte exportação de gado em pé para o Oriente”, ressalta Jamir Macedo , diretor-geral da Adepará.
Produtividade sustentável
A retirada da vacina contra a febre aftosa impõe um modelo de produção mais sustentável. Com o fim da imunização os produtores precisam estar mais atentos à saúde dos animais e comunicar a Adepará qualquer suspeita de sintomas sugestivos de doença vesicular nos animais, como febre, salivação excessiva, feridas na boca, dificuldade para se alimentar, mancar ou andar com dificuldade e lesões nas patas.

Após a retirada da vacina, o Serviço Veterinário Estadual continua atuando fortemente para atender protocolos sanitários mais exigentes. A preparação das equipes é feita pela Gerência Estadual de Vigilância para Febre Aftosa, Doenças Vesiculares e Análise de Risco (GEVFAR) em conjunto com a Gerência de Epidemiologia, Emergência Sanitária Animal e o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
“A abertura do mercado para o Marrocos, por exemplo, exige a apresentação de exames negativos para a febre aftosa dos animais que irão para abate no país. Por isso, a necessidade de padronizar as etapas de atendimento à notificação de suspeita de doença vesicular”, explica a fiscal agropecuária Audileia Teixeira.
Adoção de procedimento veterinários padrões
Nos estabelecimentos de pré-embarque (EPEs), o trabalho das equipes foi reforçado. Além dos treinamentos para o corpo técnico da ADEPARÁ, com o objetivo de atuar em casos suspeitos de doença vesicular, também foi realizada reunião com a participação do Mapa e Adepará, para padronizar procedimentos técnicos junto aos veterinários que atuam como Responsáveis Técnicos nesses locais, onde os animais ficam em quarentena antes da exportação.
“A preocupação do Serviço Veterinário Oficial é detectar precocemente a doença, caso seja introduzida na população alvo (bovinos, bubalinos, suínos, ovinos e caprinos) e demonstrar a ausência da doença. Nós estamos treinando o corpo técnico para que seja realizado o atendimento à notificação de caso suspeito de doença vesicular e tomadas as medidas necessárias para descartar a febre aftosa ou continuar com a investigação epidemiológica”, ressalta Glaucy Carreira, fiscal agropecuária e gerente de vigilância para a febre aftosa.
A sanidade do rebanho é atividade finalística da Adepará e a preparação do corpo técnico visa justamente o correto atendimento à notificação de suspeita de doença vesicular em estabelecimentos rurais.
Com o novo status sanitário e o futuro reconhecimento internacional de livre de aftosa sem vacinação, a Adepará está padronizando as ações. Por exemplo, os fiscais agropecuários fazem a vistoria geral no rebanho, a inspeção clínica e devem estar preparados para a identificação e acondicionamento de amostras de material biológico para diagnóstico laboratorial. E ainda estar aptos ao preenchimento das informações referentes aos atendimentos no Sistema Brasileiro de Vigilância e Emergências Veterinárias (e-SISBRAVET)
“A capacitação é útil tanto para a padronização dos procedimentos de atendimento quanto para preparar os médicos veterinários para uma emergência sanitária porque esses procedimentos executados nos EPEs são procedimentos que eles devem executar, também, durante o atendimento de uma suspeita provável de doença. Eles estão sendo treinados e preparados para atuarem nesses casos”, afirma a fiscal agropecuária e gerente de epidemiologia Samyra Albuquerque.
Atualmente, existem 19 Estabelecimentos de Pré-Embarque de bovinos vivos no Pará. O Estado responde por 51,9% das exportações de animais vivos no Brasil, seguido pelo Rio Grande do Sul (27,5%) e São Paulo (9,2%).
Mercado Internacional
A China é o maior importador de carne paraense e com a habilitação de mais 4 plantas frigoríficas, o Pará deve alcançar novos mercados internacionais. Segundo o boletim informativo das exportações do agronegócio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento e da Pesca (Sedap), a carne bovina é o principal produto exportado (94,08% ) no grupo das carnes, seguido dos miúdos bovinos (4,07%) e das demais carnes (1,78%).
No ano de 2024, 76 países compraram produtos da pecuária do Pará. A China importou US$ 509,18 Milhões (67,85%), Israel (9,72%), Hong Kong (5,92%), Emirados Árabes Unidos (3,19%) e Singapura (1,13%).
Em 2024, os bois vivos foram os principais responsáveis pelo crescimento de 113,90% nas exportações do grupo de animais vivos (exceto pescado), atingindo US$ 492,46 milhões e representando 13,85% das exportações do agronegócio paraense. Resultado que demonstra a importância da pecuária para a economia do estado.
Exportado para 8 países diferentes, o destino principal do boi em pé foi o Iraque, que adquiriu US$ 233,05 milhões (47,32% do total agro exportador). Egito, Líbano, Marrocos e Jordânia também tiveram uma parcela significativa das exportações desse produto paraense.
Pará tem o segundo rebanho bovino do Brasil
O Pará tem o segundo maior rebanho do país, com 26 milhões de bovinos, e cobertura vacinal acima de 98%. A pecuária estadual foi reconhecida com o novo status sanitário por meio da portaria nº 665/2024, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). O estado ficou por um período de um ano sem vacinar, e por igual período, sem receber animais vacinados, para que possa conquistar o status internacional de zona livre da febre aftosa sem vacinação, o que deve ocorrer em maio de 2025 no pleito da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).