Adepará registra 1ª agroindústria artesanal de chocolate na região do Xingu
O município de Brasil Novo, na região de integração do rio Xingu, agora possui a primeira agroindústria de chocolate artesanal registrada pela ADEPARÁ

As melhores amêndoas de cacau produzidas no Pará estão na Transamazônica. Na região, municípios como Brasil Novo, estão plantando cacau em sistemas agroflorestais, ou seja, consorciados com espécies florestais nativas que garantem sombreamento e enriquecimento do fruto.
É neste sistema que se origina o cacau que abastece a produção de chocolate da produtora Jiovana Lunelli, dona da marca “Chocolate Cacau Xingu". Produzido em sistema agroecológico, de forma sustentável, a agroindústria de Brasil Novo tornou-se o primeiro estabelecimento a conquistar o registro artesanal concedido pela Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (ADEPARÁ) a uma fábrica de chocolate no Pará.

Para agregar valor e tornar o chocolate produzido na Amazônia ainda mais atrativo, a ADEPARÁ autorizou a agroindústria a fabricar mais de 10 tipos de chocolate, desde a barra 100% cacau, até geleias de cacau e nibs.
“O primeiro chocolate produzido com cacau orgânico da região da Transamazônica e Xingu obedece às boas práticas de fabricação, respeitando as normas higiênico-sanitárias em todo o processo”, ressalta Nelson Leite, fiscal agropecuário responsável pela Gerência de Produtos Artesanais Vegetais - GPAOV
A diretora de defesa e inspeção vegetal da ADEPARÁ, Lucionila Pimentel, comemora mais essa abertura do mercado para os produtos da sociobiodiversidade amazônica. “Nossa agricultura familiar está avançando e acompanhando as exigências do mercado. Precisamos também estar preparados para atender essa demanda do agricultor, cada certificado é entregue num misto de alegria e realização por nós do Serviço Oficial, e até a entrega do Selo acontecem vários processos nos quais a equipe local, a gerência do programa, e demais parceiros são fundamentais e imprescindíveis”, ressaltou.
Cacau Xingu - O chocolate cacau xingu é produzido no processo tree to bar (da árvore a barra), um modelo que consiste na fabricação artesanal utilizando ingredientes selecionados, que vão desde a plantação do cacau até o produto final.
É a primeira certificação de chocolate desde a criação da Portaria No 5094/2024, que estabeleceu os procedimentos para a produção artesanal de chocolates e seus subprodutos com vistas à comercialização. A norma detalha as exigências para preservar a qualidade do chocolate produzido no Pará e as especificações de produção, acondicionamento e rotulagem, além da qualidade da matéria-prima (amêndoa de cacau) e do local onde vai ser produzido, assegurando que o produto foi elaborado obedecendo às normas de segurança alimentar, sem risco à saúde pública.
“A certificação é importante porque dá segurança para quem produz e também para quem consome. Então, a gente leva um produto de qualidade até as pessoas, que passou por um processo de certificação por parte da Adepará”, explica Jiovana Lunelli.
Na propriedade de 96 hectares, a produtora rural foi desenvolvendo a lavoura cacaueira e com o objetivo de trazer mais renda para a família iniciou a produção de chocolate, uma história que começa ainda na infância.

Gosto de infância - A produtora Jiovana Lunelli chegou ao Pará nos anos 1970, ainda criança. É filha de uma das primeiras famílias a plantar cacau no estado. A relação com o chocolate vem desde essa época. Aos 9 anos, fez o primeiro chocolate num curso para as mulheres agricultoras. Ela e os irmãos cresceram comendo chocolate em várias receitas que a mãe fazia. Até se aventurar e produzir o próprio chocolate, criou receitas e se aprimorou. Quando entrou para a cooperativa de cacau orgânica fez um curso oferecido pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), onde usou derivados do cacau e se diferenciou. A partir daí, aguçou a curiosidade e comprou uma máquina para trabalhar.
A produtora se diz premiada por oferecer mais que um produto, mas uma experiência da floresta amazônica. “Nós oferecemos um chocolate produzido com cacau orgânico, da agricultura familiar, produzido sem agredir a natureza, levando as pessoas a ter esse contato. Então, degustar um chocolate cacau xingu é apreciar também a floresta viva, a floresta em pé e tudo que nela tem de tão precioso. Então, para nós, prêmio é isso”.
A certificação é resultado de anos de trabalho e de parceria. “Nós agradecemos todo o trabalho que foi feito para a conquista dessa certificação, porque foi um trabalho coletivo, foi uma teia de apoio que se fez em torno disso tudo. Tivemos o apoio do Sustenta Inova através do Sebrae, do IPAM, da ADEPARÁ. Foram muitas mãos que ajudaram a construir essa história, parcerias importantes para nós que moramos distante da capital, que precisamos de assistência técnica, de consultoria, para avançar”, afirma Lunelli.
De olho na COP 30
Com um olhar no futuro, a produtora acredita que a conferência da ONU sobre mudanças climáticas, que ocorrerá em Belém em novembro, será uma vitrine para o chocolate que produz. “Nós vamos mostrar que o governo está preocupado com o fortalecimento da agricultura familiar, com a verticalização da produção. Nós somos a primeira agroindústria certificada na linha de Cacau e Chocolate, mas muitas e muitas outras virão dentro desse trabalho pioneiro que a ADEPARÁ está fazendo. E nós estamos muito felizes de ter conquistado essa certificação e a gente precisa avançar cada vez mais, para que a gente cresça, se fortaleça nessa região, nesse Estado”, conclui.
Produção de cacau em Brasil Novo - Segundo dados da Sedap, por meio do Procacau, o município de Brasil Novo possui 441 produtores e uma área total plantada de 14.038 hectares. Destes, 8.912 hectares são áreas em produção. A quantidade de cacau produzida é de 10.659 toneladas. A produtividade é de 1.196 kg por hectares. A produção de cacau do município corresponde a 7,4% em relação à produção total do estado, que é de 143.675 toneladas.