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Professor do Marajó ganha prêmio nacional por ação de combate ao racismo

Por Redação - Agência PA (SECOM)
23/09/2015 14h13

O Pará foi destaque no 7º Prêmio Educar para a Igualdade Racial e de Gênero: experiências de promoção da igualdade étnico-racial em ambiente escolar, pela execução do projeto "Semana Integrada de Combate ao Racismo", desenvolvido em parceria com as escolas públicas estaduais Ademar de Vasconcelos, do município de Salvaterra, e Gasparino Batista, do município de Soure, na Ilha do Marajó. A experiência será colocada num catálogo com as 2.300 práticas vencedoras.

A premiação foi na categoria "Professor de Educação Escolar Quilombola", coordenado pelo professor Vinicius Darlan da Silva Andrade, que receberá a premiação no Dia do Professor, em 15 de outubro, em São Paulo, numa cerimônia promovida pelo Centro de Estudos de Relações do Trabalho e Desigualdades (CEERT), o organizador da premiação.

O reconhecimento serve como amostra para outras escolas e ações pedagógicas, dentre as práticas vencedoras mapeadas em todo o Brasil, e é reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC) como uma das principais ações de promoção da igualdade étnico-racial na educação, realizada por uma instituição da sociedade civil.

Vinicius Darlan explica que a ideia da Semana teve como ponto de partida a Lei Federal nº 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira nas escolas de Ensino Fundamental e Médio.

A primeira instituição a receber o projeto foi a escola Ademar de Vasconcelos, em 2010. Embora a escola esteja localizada na zona urbana de Salvaterra, pelo menos 60% dos 700 alunos matriculados são de dezesseis comunidades remanescentes de quilombolas.

Com a experiência, o projeto também foi levado para a escola Gasparino Batista, localizada na zona urbana de Soure, a 15 minutos de Salvaterra. Dos 1.100 alunos matriculados no ensino fundamental e médio, 60% são estudantes negros. A escola também recebe alunos de duas comunidades da zona rural, que utilizam transporte escolar para sair de suas casas, nas Vilas de Cajuuna e Pesqueiro.

No período de março e abril, são realizadas várias ações pedagógicas para trabalhar a interdisciplinaridade e discutir as relações étnico-raciais em sala de aula. Leituras direcionadas com autores negros e conteúdos que enfatizam o abolicionismo e o etnocentrismo são trabalhados nas disciplinas de Língua Portuguesa.

Os professores de Biologia desenvolvem atividades a partir dos conteúdos das raças humanas para desmistificar a ideia de uma suposta raça branca superior, reforçando que seres humanos estão enquadrados dentro de uma única espécie.

As aulas de História reforçam o que a lei determina, desenvolvendo conteúdos voltados para a História da África. Já nas aulas de Artes, entram em cena a produção das máscaras, adereços e outros ornamentos de origem africana, além dos ensaios das danças e ritmos, como o carimbó e a capoeira.

O professor de inglês aproveita para traduzir com os alunos a minibiografia de importantes líderes negros, entre eles, Martin Luther King, um dos mais importantes líderes dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, e de Nelson Mandela, o mais importante líder da África e ganhador do prêmio Nobel da Paz, em 1993.

Todo esse trabalho de mobilização e sensibilização da comunidade escolar pela superação do racismo recebe a culminância na Semana Integrada de Combate ao Racismo, que ocorre geralmente na primeira quinzena de maio, próximo ao dia 13 de maio, quando se celebra o Dia Nacional de Denúncia contra o Racismo.

A semana tem na programação exibição de vídeos, documentários e palestras com os professores das escolas e de técnicos da Coordenação de Educação para a Promoção da Igualdade Racial (Copir), da Secretaria de Educação do Pará (Seduc), que também fazem o acompanhamento pedagógico do projeto.

Além disso, os estudantes e a comunidade participam de concurso de beleza para valorizar a negritude, estimular as meninas a soltarem os cabelos e a valorizarem as roupas e adereços afro. No encerramento da Semana, toda a comunidade do entorno das escolas é mobilizada para participar de uma caminhada com os alunos pelas principais ruas dos municípios.

Segundo o professor Vinícius Darlan, a premiação é resultado do comprometimento e envolvimento de toda a comunidade do entorno das duas escolas estaduais. "Eu não fui pego de surpresa, mas fiquei muito feliz com a notícia da premiação. Eu sabia que o projeto tinha consistência pedagógica fundamentada em conteúdo, mas a interdisciplinaridade e o envolvimento dos outros professores e dos alunos foram fundamentais", disse ele, que também explica que os resultados alcançados, embora subjetivos, já são perceptíveis. "Essa lei quer atingir uma palavra-chave, a autoestima, e isso é imensurável: esse reconhecimento de ser brasileiro e de ter orgulho de se enxergar enquanto negro", completou.

Segundo ele, o mote do projeto é trabalhar a diminuição da evasão escolar por conta do preconceito, partindo do pressuposto de que o aluno com autoestima elevada tende a se manter na escola.

"Ele (o aluno) percebe que a história é dele e que não é algo estranho falar da feijoada, do carimbó, da maniçoba, do samba e das palavras africanas que estão em nosso dia a dia, como xodó, dengo e cafuné", enfatizou Vinícius Darlan.