Fapespa destaca edital de incentivo a pesquisadoras no Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência

O Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado no dia 11 de fevereiro, é uma oportunidade para promover, de forma plena e igualitária, o acesso à ciência e a participação de mulheres e meninas nessa área, e foi com esse propósito que a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), por intermédio da Diretoria Científica (Dicet/Fapespa), em articulação com a Secretaria das Mulheres (Semu), lançou a Chamada Púbica N.º 003/2024, no dia 08 de março de 2024. O edital busca impulsionar pesquisas científicas que tenham por objetivo avançar na fronteira do conhecimento no âmbito da realidade Amazônica.  

A chamada pública “Fortalecimento de Grupos de Pesquisa Liderados por Mulheres no Pará", recebeu a submissão de 176 propostas, exclusivas de grupos de pesquisa liderados por mulheres. Dessas, 10 foram aprovadas e contratadas as quais foram contempladas com até R$ 600 mil cada, totalizando aproximadamente R$ 6 milhões em fomento de pesquisas lideradas por mulheres. 

O público-alvo foram pesquisadoras, líderes de grupos de pesquisas vinculadas a Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) com sede no Pará e cadastradas no sistema do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A Chamada representa o empenho do Governo do Estado, por meio da Fapespa, em alinhar as políticas públicas a uma maior inserção da mulher nas tomadas de decisão e à equidade de gênero nos projetos científicos do Pará, sobretudo com a aproximação da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30).

Assim, tendo como base o Plano Estadual de Bioeconomia do Pará (PlanBio) e o Plano Estadual de Políticas para as Mulheres, a chamada priorizou, entre outros temas, saúde coletiva, educação inclusiva, agricultura familiar - com ênfase às comunidades tradicionais, recuperação de vegetações nativas, ações coletivas de combate às mudanças climáticas e elaboração de empreendimentos ecologicamente viáveis. 

As propostas selecionadas pelo Edital permeiam temáticas inseridas nas discussões socioambientais, políticas e econômicas da atualidade como por exemplo, a aplicação de biotecnologias, propostas de conservação da biodiversidade amazônica, estudos sobre a educação bilingue de deficientes auditivos, iniciativas de desenvolvimento sustentável envolvendo mulheres empreendedoras amazônidas, combate à mineração ilegal e arquiteturas inclusiva. 

Foram aprovadas propostas nas mais diversas áreas, como ciências biológicas, engenharias e educação. Algumas propostas estão destacadas abaixo.  

Heterogeneidade Molecular do câncer de mama do subtipo triplo negativo e suas implicações na resposta ao tratamento

No campo da pesquisa acerca do câncer de mama, essa proposta objetiva identificar os diferentes subtipos do câncer de mama Triplo Negativo na população paraense e correlacionar os mesmos com prognóstico e resposta ao tratamento. Segundo os dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) para os anos de 2023 a 2025, o câncer de mama figura como o tumor mais frequente entre as pessoas do sexo feminino no Estado do Pará. O Câncer de Mama Triplo Negativo (CMTN) é responsável por 10 a 20% dos casos, principalmente em mulheres jovens. 

O projeto é liderado pela doutora e professora do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará (UFPA), Bárbara Borges. “A proposta é identificar, na população paraense, os diferentes grupos de tumores de mama que compõem o subtipo Triplo Negativo, bem como as assinaturas moleculares específicas para cada um dos grupos identificados. Dessa forma, espera-se que as assinaturas moleculares possam ser, futuramente, utilizadas por técnicas minimamente invasivas, no auxílio ao diagnóstico, e no direcionamento de terapias personalizadas para cada paciente, promovendo um melhor direcionamento clínico quanto a terapias e contribuindo para a melhoria da sobrevida dos pacientes”, detalha a coordenadora. 

“O lançamento de um edital voltado para grupos de pesquisa liderados por mulheres foi extremamente importante, especialmente no que tange à equidade de gênero e a inclusão em relação a ciência desenvolvida no Estado do Pará. Assim conseguimos desenvolver um projeto cujos resultados contribuirão para a melhora da qualidade de vida de pacientes, com câncer de mama no Pará”, ressalta a pesquisadora 

Bionanovetores: estratégia tecnológica sustentável e bioeconômica 

No ramo da engenharia, esse projeto propõe explorar as aplicações desse ramo científico com ênfase na aplicação da nanobiotecnologia, uma proposta de solução sustentável e de alto impacto em setores como saúde, agricultura e indústria. 

A coordenadora do projeto e professora do instituto de ciências biológicas da UFPA, Marcelle Passos detalha o tema da pesquisa. “Bionanovetores são sistemas ou estruturas desenvolvidos em escala nanométrica que atuam como transportadores inteligentes de substâncias bioativas em contextos diversos, como saúde, cosmetologia e agricultura. Por exemplo, eles podem carregar compostos naturais de óleos essenciais para combater microrganismos em produtos médicos ou melhorar a permeação de nutrientes em cosméticos. A bionanotecnologia permite a transformação de matérias-primas naturais em produtos de alto valor agregado. Isso pode fortalecer a cadeia produtiva local, criando oportunidades econômicas para comunidades extrativistas e agricultores, além de atrair investimentos para a região”, explica a docente. 

O projeto se insere na área de Engenharia de Materiais e Metalúrgica, com foco em materiais não-metálicos e no desenvolvimento de soluções baseadas na natureza, para gerar inovação tecnológica sustentável, capacitar mulheres na área de engenharias e nanotecnologia, e criar produtos bioeconômicos que utilizem recursos naturais da Amazônia. Além disso, promove a inclusão de comunidades locais como fornecedoras de insumos, fortalecendo a economia regional. 

A coordenadora Marcelle Passos destaca que “o apoio da Fapespa foi fundamental para viabilizar o projeto, fornecendo recursos para pesquisa, desenvolvimento e capacitação, o que possibilita a criação de infraestrutura, formação de pesquisadores, internacionalização da pesquisa, consolidação de redes de pesquisa, implementação de tecnologias inovadoras e potencial transferência de tecnologia, com benefícios para a sociedade e a economia da região”. 

A educação bilingue de surdos na Amazônia paraense: profissionais, pesquisas e prática educativos 

Esse estudo tem o objetivo de analisar a organização do conhecimento na área da educação de surdos (pesquisas, pesquisadores e grupos paraenses) e os delineamentos da proposta bilíngue em escolas da Amazônia paraense. O grupo coordenado pela professora da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) Eleny Cavalcante, busca investigar e avaliar o trabalho de profissionais da educação de surdos no Pará e na Amazônia brasileira. 

“O projeto tem como objetivo analisar a organização do conhecimento na área da educação de surdos, sejam pesquisas, pesquisadores ou grupos paraenses e os delineamentos da proposta bilíngue em escolas da Amazônia paraense. Além de mapear a educação de surdos, tanto no que diz respeito aos pesquisadores da área, grupos de pesquisa e suas produções, quanto percebendo as escolas, séries e tipos de atendimentos ofertados a esse público. A Ufopa é a instituição proponente e irá contar com os municípios de Santarém, Alenquer, Monte Alegre, Óbidos, Oriximiná, Juruti e Itaituba, para a coleta de dados”, esclarece a coordenadora. 

Eleny também destaca a importância de incentivar o aumento da participação de mulheres em pesquisas científicas, na contribuição para a equidade de gênero no Estado do Pará, e na valorização da diversidade de gênero na ciência. 

“Entender que as mulheres têm condições historicamente desiguais de trabalho e de se manter enquanto pesquisadora produtiva, destaca a necessidade de investimentos para amenizar essas desigualdades e oportunizar melhores condições de desenvolvimento de pesquisas, de publicações e participações em eventos, decisões e debates de sua área de pesquisa. Portanto, o edital tendo como foco o apoio a mulheres líderes de grupos de pesquisa, é de uma importância inquestionável pois precisamos de incentivos às mulheres pesquisadoras”, justifica a pesquisadora.

Investimento - Foram aprovados 10 projetos de pesquisa, totalizando um investimento de aproximadamente R$ 5.567.927,64, sendo R$ 2.376.000,00 em formação de recursos humanos, com o fomento de 20 bolsas de iniciação científica e de 20 bolsas de Pós-Doutorado Júnior. A coordenadora de Ciência e Tecnologia (CCT/Fapespa), Carina Silva, comenta sobre a chamada e destaca o apoio do Governo do Estado no fomento de projetos voltados as mulheres. 

“O objetivo da Chamada consiste em apoiar e fortalecer grupos de pesquisa liderados por mulheres, contribuindo para a equidade de gênero na pesquisa. O Governo do Estado do Pará vem desenvolvendo ações somando à luta da mulher, com destaque para a Criação da Secretaria da Mulher (Semu) e nesse sentido, a Fapespa, visando ações de fomento que contribuam para a luta de igualdade de gênero do Estado, lançou esta chamada para fomentar projetos de pesquisa científica que busquem contribuir no desenvolvimento de soluções de problemas amazônicos, por meio do fortalecimento dos grupos de pesquisas liderados por mulheres no Estado do Pará”, declara a coordenadora. 

Texto: estagiária Alice Mendonça, com supervisão da jornalista Manuela Oliveira