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CIÊNCIA NA AMAZÔNIA

Projetos inovadores para medicina e bioeconomia ganham destaque no PCT Guamá

Com o apoio do Governo do Pará, o Parque instalado em Belém integra ciência e tecnologia em iniciativas destinadas a promover qualidade de vida à população

Por Sérgio Moraes (PCTGuamá)
24/01/2025 13h01

O Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, em Belém, é um dos principais polos de pesquisa aplicada do Brasil. No Parque, laboratórios residentes e pesquisadores vinculados à Universidade Federal do Pará (UFPA) e à Universidade do Estado do Pará (Uepa) desenvolvem uma série de projetos, entre eles a criação de um biocurativo biodegradável, de um acionador automático para respiradores mecânicos utilizado em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) e de um filme bucal à base de jambu para pacientes com câncer, além de pesquisas sobre óleos amazônicos com propriedades medicinais e o cacau paraense, que resultam em chocolates saudáveis.

Integrando ciência, tecnologia e inovação sustentável, o Parque atua como uma ponte entre Academia e mercado, promovendo a busca por soluções que impactam positivamente o dia a dia da população. A iniciativa é viabilizada pelo Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica (Sectet).
Milksom Campelo, gerente de Tecnologia e Mercados da Fundação Guamá, organização responsável pela gestão do PCT, informa que as parcerias permitem transformar ideias em produtos e serviços sustentáveis. “O PCT Guamá é um ambiente que une a Academia aos setores público e privado, e a ciência moderna e o saber tradicional, para desenvolver inovações acessíveis à população em diversas áreas, inclusive na medicina, sempre com a sustentabilidade como pilar essencial”, destaca o gerente.

Espécies vegetais da Amazônia são matéria-prima para pesquisas

Tecnologia e saúde - No Laboratório de Óleos da Amazônia (LOA/UFPA), a pesquisadora doutoranda Sandrynne Guimarães desenvolve um biocurativo biodegradável, que combina biopolímeros (produzidos com materiais de fontes renováveis) compatíveis com o corpo humano e óleos vegetais da Amazônia, como buriti e mucajá. É uma alternativa ecológica e eficaz aos curativos convencionais, protegendo lesões, acelerando a cicatrização, lubrificando a pele e inibindo a proliferação de bactérias.

Os biocurativos são produzidos com menor consumo de materiais durante o tratamento e têm descarte mais ecológico. “Eles não apenas protegem as lesões, mas também auxiliam na cicatrização, promovendo tratamentos mais eficientes e sustentáveis”, explica Sandrynne Guimarães.

Atualmente, o desenvolvimento dos biocurativos encontra-se em processo de registro de patente. Além dos avanços médicos, o projeto promove práticas sustentáveis, valorizando a cadeia extrativista da região e fortalecendo a economia local.

Ventilador mecânico - Durante a pandemia de Covid-19, pesquisadores do Centro de Excelência em Eficiência Energética da Amazônia (Ceamazon/UFPA) desenvolveram o Acionador Automático de Ambu, um ventilador mecânico inovador, voltado a regiões com acesso limitado à energia elétrica.

O equipamento, econômico e de fácil montagem, utiliza peças nacionais e pode ser construído em apenas uma semana. Baseado em um sistema pneumático, o dispositivo automatiza a ventilação manual, oferecendo suporte vital em áreas remotas e ampliando o acesso à saúde em comunidades isoladas. Instituições como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a empresa Hydro financiaram a iniciativa.

Segundo Marcelo Silva, professor e coordenador do projeto, a ideia surgiu durante o colapso da rede de saúde na pandemia, quando a alta demanda de pacientes com síndrome respiratória aguda grave sobrecarregou o sistema. Ele relembra um episódio no Maranhão, onde a falta de energia elétrica obrigou profissionais de saúde a operarem manualmente o Ambu para dezenas de pacientes.

O Acionador Automático de Ambu foi pensado para solucionar esse problema, automatizando o processo de ventilação sem depender de eletricidade. Uma solução prática e economicamente acessível para emergências, com potencial para transformar a assistência médica em comunidades de difícil acesso.

PCT Guamá, centro de difusão de conhecimento na capital paraense

Jambu: da tradição à inovação - Reconhecido por suas propriedades sensoriais e medicinais, o jambu é objeto de pesquisas do Laboratório de Tecnologia Supercrítica (Labtecs/UFPA). Entre as inovaçõe, destaca-se um filme bucal para pacientes com câncer. O filme bucal foi projetado para pessoas que frequentemente enfrentam redução na salivação, causando feridas, dores e proliferação de microrganismos na boca.

“Sabendo que o jambu possui propriedades que aliviam a dor, estimulam a salivação e têm potencial anti-inflamatório, desenvolvemos um filme que se desintegra rapidamente na boca, ajudando a minimizar esses problemas”, informa a pesquisadora Ana Paula Silva. Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela UFPA, ela estuda o jambu há mais de cinco anos, explorando desde o cultivo e processamento até formas otimizadas de uso para o consumidor.
Além do filme bucal, a equipe criou um enxaguante oral sem álcool, indicado para tratamentos dentários. Ambas as inovações ampliam as aplicações terapêuticas do jambu, demonstrando o potencial do insumo amazônico para o desenvolvimento de produtos médicos.

Ciência e saberes tradicionais - Pesquisadores do Centro de Estudos Avançados da Biodiversidade (Ceabio/UFPA) e do Laboratório de Óleos da Amazônia, em parceria com a Uepa, estudam as propriedades terapêuticas do óleo de bicho, extraído das larvas do besouro Speciomerus ruficornis Germar, conhecido como tucumanzeiro. Esse óleo, utilizado há gerações por comunidades extrativistas do Arquipélago do Marajó, é aplicado tanto na culinária quanto no tratamento de doenças, e reconhecido por suas propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes, antitumorais e cicatrizantes.

O objetivo da pesquisa é modernizar os métodos de extração e ampliar o reconhecimento científico do óleo, promovendo sua valorização e sustentabilidade. Além disso, busca-se fortalecer a geração de renda para as populações locais que dependem do extrativismo. A valorização científica do produto reforça o elo entre o saber tradicional e o avanço tecnológico.

Gabriel Araújo, pesquisador do Ceabio e LOA, explica que a pesquisa visa criar um embasamento científico robusto para validar as propriedades terapêuticas do óleo de bicho. “Esse conhecimento é devolvido às comunidades, contribuindo para a valorização deste e de outros produtos marajoaras da Amazônia”, ressalta.

Andiroba: riqueza biotecnológica - Pesquisadores do LOA e do Ceabio realizaram um estudo sobre as propriedades biológicas da andiroba, destacando seu potencial para aplicações em medicina e biotecnologia. Publicado na revista científica Arabian Journal of Chemistry, o estudo contou com a colaboração de instituições nacionais e internacionais, e analisou 129 artigos científicos publicados entre 1993 e 2022.

Os resultados evidenciaram vários benefícios do óleo extraído da flor e da semente da andiroba, incluindo propriedades analgésicas, anti-inflamatórias, anticancerígenas, antibacterianas, antifúngicas e antiparasitárias. O óleo demonstrou potencial no combate à obesidade, na cicatrização de feridas e em tratamentos contra o câncer. O trabalho reflete o impacto do conhecimento tradicional como base para a validação científica, uma vez que o uso doméstico do óleo de andiroba inspirou muitos dos estudos realizados.

Renata Noronha, pesquisadora do Ceabio envolvida no projeto, destacou como o uso de tecnologias modernas tem acelerado e aprofundado as análises, gerando avanços mais precisos e promissores, e ressaltou o potencial da andiroba para o desenvolvimento de produtos que salvam vidas, previnem doenças e impulsionam a biotecnologia de forma sustentável.

Cacau paraense: aliado da saúde - A pesquisa conduzida por Giulia Lima, do Centro de Valorização de Compostos Bioativos da Amazônia (Cvacba/UFPA), investiga os benefícios do cacau paraense e seus derivados na saúde, com destaque para a prevenção de doenças como diabetes, câncer, Alzheimer e cardiovasculares. O estudo é concentrado nos compostos bioativos presentes no cacau, reconhecidos por suas propriedades antioxidantes superiores às do vinho e chá verde, que combatem radicais livres e retardam o envelhecimento.

Giulia Lima enfatiza a importância de selecionar amêndoas com alta concentração desses compostos para a produção de chocolates funcionais e outros produtos medicinais, recomendando o consumo de nibs ou chocolates com 70% a 80% de cacau.

A pesquisa, realizada em parceria com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento 
Agropecuária e da Pesca (Sedap) e a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), utiliza amostras de 19 das 20 variedades mais produtivas de cacau do Pará, buscando garantir qualidade e funcionalidade aos produtos.

O Pará, maior produtor de cacau do Brasil, responde por mais de 50% da produção nacional e abriga o maior banco genético da espécie Theobroma cacao L do planeta, com mais de 53 mil plantas. Características exclusivas, como o cacau de várzea que cresce em áreas alagadas, conferem ao fruto propriedades nutricionais únicas e aromas diferenciados, incluindo notas de banana, refletindo a biodiversidade local.

No PCT Guamá, o Centro de Valorização de Compostos Bioativos utiliza tecnologia avançada para apoiar os produtores na certificação da qualidade do cacau, avaliando aspectos como sabor, cheiro, cor e textura.

Segundo Giulia Lima, o laboratório auxilia na identificação das melhores amêndoas para atender às exigências do mercado, garantindo segurança e qualidade à produção de chocolates de alto padrão com propriedades saudáveis, além de promover o cacau paraense como um recurso de relevância global.

Investimentos - O Governo do Pará, por meio da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa ), investirá mais de R$ 30 milhões até 2026 em projetos que promovem economia sustentável, alinhando conservação da biodiversidade e desenvolvimento regional.

Desde 2022, já foram aplicados R$ 8,3 milhões, com previsão de chegar a R$ 17,6 milhões para complementar iniciativas em andamento. Atualmente, 89 projetos ligados à bioeconomia, inovação e formação de jovens pesquisadores estão sendo fomentados, incluindo a criação de núcleos de excelência e parcerias internacionais. Em 2025, novos editais destinarão R$ 15 milhões a iniciativas que fortalecem instituições de pesquisa.

Investidores, pesquisadores e iniciativas privadas e públicas, vinculados ou não ao PCT Guamá, podem acionar a instituição. Interessados devem entrar em contato pelo e-mail [email protected] ou pelos telefones (55) (91) 3321-8908 e 3321-8909.