Seirdh e Secult promovem roda de conversa sobre a Cabanagem
A Secretaria de Estado de Igualdade Racial (Seirdh), em parceria com a Secretaria de Estado de Cultura (Secult), promoveu, nesta terça-feira (7), dentro da programação chamada de Preamar Cabano, uma palestra e uma roda de conversa sobre a Cabanagem, revolta popular ocorrida na então província do Grão-Pará, entre 1835 e 1840. A palestrante foi a historiadora, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História (PPHist) da Universidade Federal do Pará (UFPA), Kelly Tavares. O evento, que também contou com uma feira de livros usados voltados à temática da história, ocorreu no Museu Histórico do Estado (MEP), localizado na região central de Belém. O prédio onde está instalado o MEP é o Palácio Lauro Sodré, sede do governo provincial à época da Cabanagem.
A professora e historiadora Kelly Tavares destacou, em sua fala, alguns dos motivos que levaram à eclosão da Cabanagem, considerada como uma das revoltas populares mais importantes da história do Brasil, ocorrida em meados do século XIX. “Os estudos e, de modo especial, os estudos da professora Magda Ricci nos mostram que, no primeiro momento, a principal motivação dos revolucionários cabanos era a morte da elite local, ou seja, dos portugueses e dos maçons, mas a revolução possuía raízes muito mais profundas e não se resumiu ao episódio do 7 de janeiro (de 1835, quando os cabanos tomaram, de fato o poder). Lutas contra a escravidão, pelo direito à terra, contra o recrutamento forçado de trabalhadores, especialmente os indígenas e mestiços, foram fundamentais para esse movimento”, frisou a palestrante.
Para a secretária adjunta da Seirdh, Edilza Fontes, que também é historiadora e professora do PPHist/UFPA, é necessário, cada vez mais, jogar luz sobre os fatos que envolvem a Cabanagem, considerada por ela como uma passagem da história local ainda pouco discutida. “A Cabanagem é muito pouco visibilizada na cidade de Belém e na nossa educação básica. A data do 15 de agosto, por exemplo, que representa a adesão do Pará à independência do Brasil, constitui um feriado, mas a data do 13 e 14 de outubro, quando ocorre o episódio do Brigue Palhaço, no qual mais de 250 brasileiros natos, protestando contra essa adesão à independência, foram assassinados, é esquecida. Pouco se fala nisso. E o Brigue Palhaço, que acontece em 1823, é que fica como tragédia na memória desse povo, levando também à Cabanagem, que só ocorre em 1835. Os cabanos são justamente essa massa de trabalhadores, de brasileiros pobres, explorados, mestiços e que explode em 7 de janeiro de 1835. Então, acho que falta política de memória para discutir a Cabanagem e por que ela foi tão importante na história do Pará. Por isso que nós, da Seirdh, estamos atuando nesse campo da memória, que discute também a construção de identidades e as violações de direitos humanos”, pontuou.
Já o diretor do MEP, Bruno Silva, destacou a importância da parceria entre a Seirdh e a Secult, na programação que lembra a ocorrência da Cabanagem. “Estamos recebendo uma programação do Preamar Cabano, em parceria com a Seirdh, que é bem importante porque contempla as comemorações em torno do período da tomada cabana do Palácio Lauro Sodré, que hoje é o Museu do Estado. A palestra da professora Kelly abarca não apenas a importância da Cabanagem, mas também desses espaços históricos que hoje são patrimônio, mas que também durante muito tempo representaram tomadas históricas, povos e grupos específicos, então, para a nossa intenção, que é ressaltar a diversidade dos povos que constituíram a nossa história, é um evento muito importante e reforça a nossa identidade”, observou.