Seirdh entrega Comenda 'Egídio Machado Sales Filho de Defesa dos Direitos Humanos'
Dez personalidades e instituições com destaque na luta pelos direitos humanos, no Pará e no Brasil, foram agraciadas em cerimônia no auditório da Alepa
Na semana em que se comemora o Dia Internacional dos Direitos Humanos - 10 de Dezembro - e dos 56 anos da assinatura do Ato Institucional nº 5 (AI-5), que iniciou o período mais violento e sombrio da ditadura militar no Brasil, em 13 de dezembro de 1968, a Secretaria de Estado de Igualdade Racial e Direitos Humanos (Seirdh) entregou a Comenda “Egídio Machado Sales Filho de Defesa dos Direitos Humanos” para dez personalidades e instituições com destaque na luta pelos direitos humanos no Pará e no Brasil. Os agraciados tiveram alguma relação com a trajetória do advogado e militante Egídio Machado Sales Filho, que morreu em 2020, aos 66 anos.
No início da cerimônia, ocorrida na manhã desta quarta-feira (11), no Auditório João Batista, da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), foram exibidos depoimentos de pessoas que relembraram a importância de Egídio Sales Machado Filho para a causa dos direitos humanos no Estado. Amigos, colegas de trabalho e companheiros de militância, entre outros, destacaram a trajetória de Egídio Filho e sua relação íntima com a defesa dos direitos humanos.
O titular da Seirdh, Jarbas Vasconcelos, e a secretária-adjunta Edilza Fontes (c)Reconhecimento - “O governador Helder Barbalho decidiu que a Comenda da Seirdh se chamaria Egídio Machado Sales Filho como uma homenagem a um dos grandes defensores dos direitos humanos no Estado do Pará. Egídio foi o único advogado que integrou, pelo Pará, a primeira Comissão da Memória e Verdade do Brasil, que foi o Projeto ‘Tortura, Nunca Mais’, da Comissão de Justiça e Paz da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Foi o advogado que defendeu os padres do Araguaia (Aristides Camio e Francisco Gouriou) presos pela ditadura militar, e que esteve no júri como assistente de acusação, para obter a condenação dos assassinos de Paulo Fonteles (advogado, sindicalista e ex-deputado estadual), além de ter atuado em outros casos importantes, como o massacre de Eldorado do Carajás, e de ter sido fundador da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos. Esse prêmio, para nós, é um motivo de muita satisfação, porque é um reconhecimento a uma primeira geração de direitos humanos, aquela que realmente enfrentou a ditadura e construiu a democracia e as liberdades civis que nós temos hoje”, destacou o titular da Seirdh, Jarbas Vasconcelos.
Ângela Sales (à dir.) destacou o compromisso pessoal do irmão com a defesa dos mais vulneráveisA advogada Ângela Sales, irmã de Egídio, lembrou características da personalidade do homenageado, visto pelos amigos e familiares como uma pessoa corajosa e generosa, que sempre intercedeu pelos mais vulneráveis. “Algumas pessoas pensam que o ‘Egidinho’ tinha essa personalidade de defensor dos mais frágeis porque estudou Direito, Filosofia etc. Mas não. Há pessoas que nascem humanistas, e o meu irmão nasceu assim. Ele sempre foi exemplo, e, à medida que foi crescendo, só foi se dedicando cada vez mais. Quero agradecer a todos, e de modo especial ao secretário Jarbas Vasconcelos, pela instituição dessa Comenda. Meu irmão morreu muito jovem, com 66 anos, e a dor de perder um irmão assim, fora de hora, ainda é muito grande”, disse Ângela Sales.
Referência - Também emocionada com a homenagem à memória de Egídio Sales Filho, a secretária-adjunta da Seirdh, professora Edilza Fontes, ressaltou que “o Egídio Machado Sales Filho marcou toda uma geração de pessoas que viveram essa história da redemocratização do Brasil e que enfrentaram a ditadura, e fizeram valer os direitos humanos. ‘Egidinho’ nos deixou tão cedo, e desde sempre estava com a gente; era uma referência para todos. Graças ao trabalho dele começamos a ter provas das torturas, prisões arbitrárias da ditadura. Ele fez parte desse processo e se expôs. Foi meu advogado, e de quase todos que resistiram naquele momento. Nos defendeu várias vezes e, por tudo isso, nada mais justo que fosse dele o nome dado a essa Comenda, para honrar também o nome do pai dele, que também atuou na defesa de direitos humanos e marcou muito a nossa vida”.
O deputado Carlos Bordalo com a Comenda: "nome de Egídio Machado Sales Filho personifica coragem, ética e perseverança' O deputado estadual Carlos Bordalo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alepa, recebeu a Comenda e falou em nome dos outros homenageados. “A trajetória de Egídio é uma luz para todos que acreditam nos direitos humanos. Esta homenagem, antes de ser um reconhecimento individual, reflete o esforço coletivo de todos aqueles e aquelas que, ao longo da história, têm se dedicado incansavelmente à luta pela justiça, pela liberdade e pela dignidade humana. Esta condecoração carrega o nome de Egídio Machado Sales Filho, que personifica a coragem, a ética e a perseverança na busca pela verdade e reparação às vítimas da ditadura militar", destacou o parlamentar.
Os demais agraciados com a Comenda foram Paulo César Fonteles de Lima (in memoriam), Paulo Roberto Monteiro Rodrigues, Humberto Rocha Cunha, Paulo de Tarso Vannuchi, Rosemiro Salgado Canto Filho, Luiz Gonzaga da Costa Neto, Hecilda Mery Ferreira Veiga, Carlos Alberto Barros Bordalo, Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará (Cedenpa) e Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH).
Durante a cerimônia, a cantora paraense Andréa Pinheiro cantou músicas relacionadas ao período da ditadura, de autoria de Chico Buarque, Edu Guedes e outros compositores.