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Infectologista destaca os principais avanços no tratamento do HIV no Brasil

A pessoa que seguir o tratamento corretamente, sem interrupção, pode tornar o vírus indetectável e não transmissível por relação sexual

Por Roberta Vilanova (SESPA)
06/12/2024 18h13

Médico infectologista, Julius Monteiro é membro da Câmara Técnica Assessora em Antirretrovirais da SespaMais de 40 anos depois do registro do primeiro caso de Aids no Brasil, houve um avanço muito importante no tratamento oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) às pessoas que vivem com HIV no Brasil.

O avanço foi tanto que a pessoa que seguir o tratamento corretamente, sem interrupção e em acompanhamento no serviço de saúde, consegue ter o vírus indetectável e intransmissível por relação sexual, permitindo, inclusive, que possa ter filhos sem risco de infecção.

Segundo o médico infectologista Julius Monteiro, referência em Genotipagem para HIV da Rede Nacional de Genotipagem do HIV do Ministério da Saúde e membro da Câmara Técnica Assessora em Antirretrovirais da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), o SUS oferece diversas oportunidades de tratamento e acompanhamento para pessoas que vivem com HIV/Aids.

No Pará, o tratamento especializado está disponível nos Serviços Ambulatoriais Especializados (SAEs) e Centros de Testagem e Aconselhamento (CTAs) em diversos municípios do Estado e na Unidade de Referência Especializada em Doenças Infecciosas e Parasitárias Especiais (Uredipe), localizada em Belém. “Nessas unidades, o usuário do SUS tem acesso a exames e consultas com equipe multidisciplinar, garantindo uma assistência integral à saúde”, informou Julius Monteiro.

“E cada vez mais no Brasil, com a descentralização dos atendimentos, esses serviços também estão sendo disponibilizados nas unidades de saúde, quer seja unidade básica de saúde ou de Saúde da Família, em especial para as pessoas sem comorbidades ou estáveis clinicamente”, acrescentou o especialista.

Em relação ao tratamento, Julius explica que atualmente o que há é a chamada Terapia Antirretroviral Contínua, que é disponibilizada única e exclusivamente por meio do SUS até mesmo para usuários de saúde suplementar. “Mesmo que a pessoa seja atendida por plano de saúde, ela recebe os medicamentos de forma integral e gratuitamente pelo SUS”, enfatizou o médico.

No que tange à diferença entre os primeiros tratamentos disponíveis no início da epidemia de Aids e o atual, o infectologista disse que é um cenário bem diferente de quando foi licenciado, em 1987, o uso do primeiro antirretroviral, a zidovudina (AZT), após identificação do agente etiológico, o HIV (em 1983). “Então, o que nós temos são medicamentos orais, a maioria comprimidos, seguros, com menos interações medicamentosas com outros fármacos, e menos efeitos colaterais”, comentou, lembrando que havia dificuldade na tomada em diversos  horários e poderia ocasionar efeitos colaterais gástricos, neurológicos ou alterações na composição corporal, o que aumentava ainda mais o estigma contra a doença e ao tratamento.

O fato é que houve um avanço muito importante nos últimos dez anos. Atualmente, o tratamento inicial está alinhado às Diretrizes Internacionais da OMS e IAS (International Aids Society), e é composto por dois comprimidos que são tomados uma vez ao dia, o Tenofovir com Lamivudina e o Dolutegravir. “O bom é que podem ser tomados em qualquer horário, desde que seja pactuado com a equipe médica, e produzem menos efeitos colaterais, e isso tem ajudado muito na adesão da pessoa ao tratamento”.

Esse assunto foi abordado por Julius Monteiro, nesta sexta-feira (06), no Seminário Prevenção Combinada: Quebrando Barreiras e Construindo Pontes, que integra a programação da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), em alusão ao Dia Mundial de Luta contra a Aids.

Indetectável e intransmissível - Na palestra intitulada “A terapia antirretroviral: conquistas para uma qualidade de vida”, Julius Monteiro deu visibilidade à possibilidade de o vírus se tornar indetectável e intransmissível se a pessoa diagnosticada com a infecção pelo HIV receber acolhimento, estar vinculada a um serviço de saúde, iniciar o mais precocemente possível a terapia antirretroviral e realizar o seu acompanhamento de saúde na unidade.

De acordo com o infectologista, no Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas, lançado neste ano de 2024, o Ministério da Saúde alerta que o ideal é que a pessoa inicie a terapia antirretroviral até sete dias após o diagnóstico. “Para isso, ela tem que estar orientada, consciente dos seus direitos e deveres, estar motivada a esse tratamento, ter suas dúvidas, aflições e anseios esclarecidos dentro do serviço de saúde. Isso tudo para que ao iniciar a terapia antirretroviral, seja possível, em até seis meses, alcançar a supressão viral”, explicou.

“E uma vez suprimido o vírus, a pessoa aderente ao tratamento e em acompanhamento no serviço de saúde, isso é uma verdade científica, ela não transmite o vírus pela relação sexual e isso é um grande aliado a favor da desestigmatização da infecção”, afirmou Julius Monteiro.

“Isso significa que ao alcançar a supressão viral, a pessoa que vive com HIV não irá adoecer por infecções oportunísticas, e pode ter a certeza de que a(s) parceria(s) sexual(is) não serão infectadas e, se quiser ter filhos, que eles não nascerão com a infecção”, assegurou o especialista.

Daí a importância do diagnóstico, do acesso ao serviço de saúde, à terapia antirretroviral e a retenção do indivíduo para que ele não perca o seguimento do tratamento. Pois, segundo o infectologista, só assim, essa pessoa não vai adoecer de infecções relacionadas à imunodepressão causada pelo HIV, que são muitas vezes infecções oportunísticas, também de outras doenças e agravos não relacionados à Aids como diabetes, doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e neoplasias.

Julius Monteiro também vai destacar no evento a importância do diagnóstico precoce por meio de campanhas que oportunizem cada vez mais a testagem e a autotestagem, para que a pessoa que já tiver o diagnóstico da infecção, que consiga ter acesso o mais rápido possível a um serviço de saúde e à terapia antirretroviral com qualidade e segurança, para que alcance uma qualidade de vida.

Prevenção – O infectologista também chama a atenção para a importância das ações de prevenção por parte da população, destacando a Mandala da Prevenção Combinada, que indica diversas estratégias preventivas tais como profilaxia pré-exposição (PrEP), pós-exposição (PEP), as vacinas contra hepatite B, hepatite A, HPV, a PEP, uso do preservativo interno ou externo, lubrificantes, testagem regular, testagem na gestação e outras medidas fundamentais para evitar a infecção pelo HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis. Todas essas estratégias estão presentes e disponíveis nas diversas unidades da rede de atenção à saúde do SUS.

Técnico da Coordenação Estadual de de IST/Aids da Sespa, Beto Paes reitera que acolhimento é fundamentalAcolhimento - Esse é um ponto fundamental para que a pessoa vivendo com HIV não perca o seguimento do tratamento contra o vírus. O assunto também foi abordado no Seminário desta sexta-feira, com palestra do técnico da Coordenação Estadual de IST/Aids da Sespa, Beto Paes, abordando o tema “Acolhimento, diversidade e inclusão”.

Segundo o técnico da Sespa, uma das problemáticas que fazem com que as pessoas não façam adesão ao tratamento é a discriminação ou um acolhimento deficitário. “Quando esse acolhimento não existe, as chances de diagnóstico e não adesão ao tratamento são muito grandes. O acolhimento é extremamente importante para vincular a pessoa ao tratamento”, enfatizou

Beto Paes disse que é a partir do acolhimento recebido que a pessoa se sente à vontade e segura para aderir ao tratamento. “A gente sabe que uma pessoa que faz adesão ao tratamento do HIV durante seis meses, torna a carga viral indetectável, ou seja, ela não tem chance alguma de passar o vírus para uma outra pessoa, mesmo tendo relações desprotegidas. Então é importantíssimo que a gente resgate o paciente para que ele faça adesão ao tratamento, para ter uma boa qualidade de vida”.

Ele ressaltou também a importância do diagnóstico precoce, para que as pessoas não saibam que estão com HIV somente quando já estão com outras coinfecções oportunísticas.

Outra questão levantada por Beto Paes é a diversidade, que precisa ser abraçada no âmbito do SUS, porque, conforme disse, ainda existe muito preconceito e discriminação em relação à orientação sexual e à identidade de gênero da pessoa. “Então, precisamos de um acolhimento verdadeiro, para que o usuário possa ter o diagnóstico e receber o tratamento a que tem direito de forma humanizada”, concluiu.