Estado garante assistência a travestis e transexuais com novo ambulatório
“Nunca me vi como menino. Apesar de ter os traços, sempre me senti menina. Sou uma mulher num corpo masculino, e por uma necessidade comecei a usar hormônios desde os 12 anos. Nunca tive acompanhamento, e até hoje uso. Não sei como está meu organismo. Eu me preocupo, claro, e esse ambulatório é para isso, para que tenhamos um acompanhamento certo. É uma vitória muito grande para nós, pois traz dignidade”. O relato cheio de expectativas é da estudante transexual Izabella Santorini Braga, 26, que participou da inauguração do primeiro Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais do Estado, na manhã desta quinta-feira (8).
De iniciativa das secretarias de Estado de Saúde Pública (Sespa) e de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), em cumprimento à Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), instituída pela Portaria nº 2.836, do Ministério da Saúde, este é o sexto ambulatório que oferece o serviço gratuitamente no Brasil. O novo espaço oferece equipe multissetorial composta por assistentes sociais, endocrinologistas, psicólogos, nutricionistas, fonoaudiólogos, psiquiatras e enfermeiros.
“Aqui vamos aliar duas coisas que são fundamentais: a saúde e a liberdade de ser quem você quer ser. Essa é uma grande realização da Sespa. É poder identificar a necessidade das pessoas e acolhê-las de maneira digna”, disse a secretaria adjunta de Saúde do Estado, Heloisa Guimarães. Por falta de atendimento na rede pública, muitas pessoas transexuais acabam recorrendo à automedicação, o que pode acarretar em problemas graves de saúde, devido ao uso inadequado dos hormônios.
Avanço - “É uma conquista, pois vamos nos sentir mais à vontade. Avançamos muito nessa questão. Ainda estamos na expectativa da continuidade desse trabalho e esperamos que ele traga não só dignidade, como respeito para os trans”, disse Sebastian Salustiano, representante paraense da Rede Trans Brasil.
Para quem procura a hormonização, é preciso passar primeiramente por sessões com os especialistas. “A Sejudh faz parte do processo de triagem dos atendimentos que serão feitos no ambulatório, fazendo a entrevista prévia e um processo de seleção e encaminhando para as especialidades oferecidas no espaço”, informou o titular da Sejudh, Michell Durans, enfatizando que o ambulatório é um avanço na política para os LGBT. “O ambulatório é só um passo dentro de todo um universo que é a política LGBT”, concluiu o secretário.
Esse tipo de terapia busca induzir o desenvolvimento de características sexuais compatíveis com a identidade de gênero da pessoa. É um tratamento contínuo pela vida toda, interrompido apenas para cirurgias. “O ambulatório é uma conquista obtida pela luta e resistência de transexuais e travestis, que deve ser abraçada por todos nós enquanto Governo do Estado e sociedade civil. Estamos de parabéns”, assinalou o gerente de Livre Orientação Sexual da Sejudh, João Augusto dos Santos.
O ambulatório funciona no prédio da Unidade de Referência Especializada em Doenças Infecto-Parasitárias e Especiais (Uredipe). O atendimento é em dois turnos: pela manhã, de 7h às 11h, e à tarde, de 13h às 17h. O agendamento será feito conforme as escalas dos profissionais, e todos os atendimentos deverão ter marcação prévia. As atividades se iniciam nesta terça-feira (13).