Ações de saúde priorizam atendimento a crianças na Vila do Conde
Na manhã desta quinta-feira, 15, as equipes de agentes das secretarias estadual e municipal de Saúde recebem o reforço da unidade móvel da Sespa, já instalada em Vila do Conde, distrito de Barcarena. O atendimento nessa unidade começará às 8h. A prioridade é a pediatria. No levantamento preliminar feito pela Secretaria de Assistência Social de Barcarena, constatou-se que cerca de 60% dos moradores daquela área são crianças. “É natural que comecemos pelas crianças, e em vez de utilizarmos a unidade móvel de forma itinerante, tanto o Comando Unificado como os coordenadores da área de Saúde concordaram que faremos o atendimento em um ponto fixo e central, com fácil acesso aos moradores”, explicou o secretário municipal de Saúde, Eduardo Tuma.
Ele recebeu do secretário estadual de Saúde, Vitor Mateus, a garantia de apoio e a reposição de todos os itens que porventura venham a se esgotar, por conta da grande demanda derivada do acidente. “Vacinas, medicamentos, hipoclorito de sódio, médicos, veterinários, agentes de defesa, todo o pessoal especializado. Faremos o possível para que nada falte ao município de Barcarena. Já estamos presentes com a 6ª Regional de Saúde e estamos em campo desde o dia 6, nas áreas de risco. Agora temos a unidade móvel, bem como uma grande equipe de servidores para atender os moradores e preservar sua segurança alimentar e saúde”, confirmou o titular da Sespa.
Água e hipoclorito
As equipes das secretarias estadual e municipal estão distribuindo frascos de hipoclorito de sódio aos moradores de Vila do Conde, cuja praia ainda está ocupada por carcaças de bois e apresenta resíduos de óleo derramado da embarcação Haidar, após o rompimento da contenção montada por empresa contratada pela Companhia docas do Pará (CDP).
O hipoclorito é usado para purificar a água, tornando-a própria ao uso e consumo humano. As equipes dispõem hoje de mais de 100 caixas da solução. Cada caixa contém 100 frascos. A Sespa deve enviar até amanhã novas caixas do produto. Todos os moradores de Vila do Conde deverão ser contemplados.
Nesta quarta-feira, agentes da Defesa Civil e Corpo de Bombeiros procederam à distribuição de água mineral para as famílias residentes no distrito - cerca de 8 mil moradores - e nesta quinta os agentes vão até as comunidades ribeirinhas. Mais de 1.700 galões de água potável são levados aos pontos de distribuição com acesso livre aos moradores. A Defesa Civil também acompanha e fiscaliza, ao lado da Secretaria de Meio Ambiente e Corpo de Bombeiros, o processo de remoção das carcaças de bois na praia de Vila do Conde. O trabalho é feito pela empresa Mammoet Salvatagem, contratada pela Companhia das Docas do Pará.
Segundo a CDP, estão sendo usados caminhões e tratores para remover os animais mortos e levá-los para uma área de descarte onde foram abertas covas impermeabilizadas para que sejam enterrados sem risco de contaminação para o meio ambiente, de acordo com as diretrizes da Semas, que supervisiona o trabalho com apoio do Ibama.
Monitoramento
Também nesta quinta-feira chega à Vila do Conde uma equipe do Laboratório Central do Estado (Lacen). O órgão vem fazendo a análise diária das amostras de águas do Rio Pará, para medir a qualidade da água.
O navio Haimar naufragou na madrugada do dia 6, no Porto de Vila do Conde, área administrada pelo governo federal, sob gestão da Companhia das Docas do Pará, órgão subordinado à Secretaria de Portos, do Governo Federal. A dimensão dos impactos ambiental, social e econômico ainda estão sendo avaliados.
Para minimizar esses impactos, uma força-tarefa envolvendo oito órgãos estaduais transferiu-se para Barcarena no dia 6, prestando apoio imediato aos moradores e dando suporte à prefeitura e secretarias locais. No primeiro momento, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e Polícia Militar isolaram a area. Uma empresa contratada pela CDP instalou a barreira de contenção, que acabou se rompendo no dia 11, diante da pressão exercida pelo peso das carcaças de boi, que foram então levados pela mare até a praia de Vila do Conde, junto com manchas de oleo diesel.
A Secretaria de Meio Ambiente reforçou a equipe na terça-feira e acompanha, passo a passo, o trabalho de retitrada das carcaças das praias, verificando se está sendo cumprido o protocolo estabelecido para evitar novos danos à população.
“As carcaças estão sendo levadas para uma área da própria CDP, nós estamos observando de perto o material utilizado, o modo de transporte e tudo aquilo que possa oferecer riscos. Urgência não quer dizer displicência. Estamos aqui para garantir a segurança ambiental dessa operação”, afirmou Luiz Fernandes, secretário de Meio Ambiente do Pará.
Todas as ações dos órgãos estaduais em atividade em Barcarena são coordenados pelo coronel Augusto Lima, do Corpo de Bombeiros, especialista em Sistema de Comando em Incidentes (SCI), uma ferramenta de gestão utilizada em situações como a do naufrágio, que exigem um comando unificado de ações. O SCI está regulamentado desde o ataque às torres gêmeas da ilha de Manhattan (EUA), em setembro de 2011, e é usado em todo o mundo em situações de emergência que envolvem vários organismos.
Antes mesmo de ser regulamentado, o SCI já vinha sendo incorporado à rotina da Defesa Civil, como no caso do desabamento do edifício Real Class, em Belém, em janeiro de 2011. Naquela ocasião, o comando da operação também coube ao coronel Lima.
Um dia após a instalação do SCI, na noite desta quarta-feira, 14, o Coronel Augusto Lima fez um balanço positivo dessas 24 horas. “Já começamos a colher os resultados”, afirmou. "O SCI permite à Defesa Civil o contato permanente com todos os agentes públicos e privados que atuam em Barcarena no controle, resgate e destinação dos resíduos da carga do Haimar e na mitigação dos impactos sociais, ambientais e econômicos", disse.
“A Defesa Civil aglutina esses agentes, promove a comunicação entre todos e permite a consolidação de rotinas. Não é um comando único, mas unificado, em que prefeitura local, órgãos estaduais, instituições federais e empresas privadas têm todos as suas missões e responsabilidades, suas coordenações próprias, convergindo essas ações para quem precisa, que é a população afetada pelo acidente”, ressaltou.
“Cada dia é um dia. Vamos fazer todo o trabalho necessário para prevenir, remediar, cuidar das pessoas, sem descanso. Este é o papel de todos, independentemente da esfera - municipal, estadual ou federal - a que pertença. Somos pessoas ajudando pessoas”, reafirmou o Coronel Lima.
Cosanpa - Em Belém, a Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) realiza diariamente testes bacteriológicos na captação de água do sistema que abastece a Região Metropolitana. Diante do ocorrido, ampliou para dois testes por dia o monitoramento da qualidade da água. Até o momento, não identificou quaisquer mudanças nos padrões. A Cosanpa trabalha dentro das especificações de potabilidade do Ministério da Saúde no tratamento da água.
Defensoria - Em reunião nesta quarta-feira, 14, a Defensoria Pública do Estado formou uma força-tarefa para auxiliar as comunidades atingidas pelo acidente. Quatro defensores passam agora a atuar exclusivamente na defesa dos interesses da população atingida pelo problema. Aline Rodrigues, Andréa Barreto, Márcio Cruz e Bernardo Moraes foram destacados para reunir com autoridades e comunidades, fazer levantamento das famílias prejudicadas com o acidente ambiental, buscar conciliação extrajudicial com as empresas envolvidas no episódio e ainda protocolar ações judiciais em caso de insucesso nas negociações.
A defensora Aline Rodrigues, que coordena a força-tarefa, informou que a prioridade é a retirada imediata dos restos mortais dos animais em todas as praias da região de uma forma mais rápida. O prazo de 40 dias não contempla a necessidade da comunidade atingida. Em reunião com representantes da Companhia Docas do Pará (CDP), ela conseguiu a confirmação de doação de cestas básicas para cada família atingida pelo naufrágio.
Já a segunda frente de trabalho, não menos prioritária, é a proposição e acompanhamento de ações coletivas que garantam aos moradores da área água potável suficiente, cestas básicas, atendimento médico e outros. A Defensoria também vai requerer das empresas Minerva, Serveporte e Global Agência Marítima o pagamento de auxílio financeiro às famílias de pescadores, ribeirinhos, barraqueiros e comerciantes que estão impedidos de exercer as atividades diárias de subsistência, de acordo com o defensor Márcio Cruz.
Outra medida que ele não descarta é ajuizar ações individuais de indenização por danos morais e materiais aos que foram prejudicados diretamente pela contaminação de toda essa área. “Primeiro queremos garantir o sustento imediato dessas famílias. Depois vamos correr atrás da indenização pelos danos sofridos”, pontuou.
“Em todas as reuniões há sempre representantes da CDP (Companhia Docas do Pará), Semas (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade), Ibama, Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual, Defesa Civil e Prefeitura. Menos as empresas”, observou a defensora pública Aline Rodrigues, que entende que as empresas têm co-responsabilidade ou responsabilidade solidária.
O Diretor de Interior da Defensoria, Daniel Lobo, informou ainda que muitas estratégias jurídicas estão sendo debatidas em parceria com o Ministério Público Federal e Ministério Público Estadual.