Governo do Estado entrega obra de reconstrução da sede da cooperativa Coostafe
A Coostafe é a primeira e única cooperativa a funcionar em uma unidade prisional no Brasil
Nesta segunda-feira, 4, o Governo do Pará entregou a obra de reconstrução da sede da primeira cooperativa do Brasil formada exclusivamente por Mulheres privadas de liberdade, a Cooperativa Social de Trabalho Arte Feminina Empreendedora (Coostafe). Coordenada pela por meio da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), a iniciativa está localizada na Unidade de Custódia e Reinserção Feminina (UCRF), em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém e conta com 30 integrantes.
A Coostafe é um grande case de sucesso e referência em boas práticas de trabalho e renda no sistema penitenciário nacional e referência no Cooperativismo Social no Brasil, sendo reconhecida pela Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), no ano 2022.
A vice-governadora do Pará, Hana Ghassan, parabenizou o trabalho realizado pelas internas que compõem a Coostafe, e pontuou o quanto é importante que elas aprendam cada vez mais e assim recomecem uma nova vida.
"Desde sempre minha mãe falava e eu busco lembrar as palavras dela, que nós temos pessoas com boas intenções, nós temos pessoas com boas ideias, mas o que transforma a vida das pessoas são ações. Então, quero parabenizar a todos que fazem parte da Coostafe e a Seap por investir num projeto que é muito importante para cada um de nós, para a nossa sociedade. As mulheres que hoje estão aqui, eu quero dizer que o momento que vocês estão passando, não representa quem vocês são de verdade. Além de ser um trabalho importante para cada uma de vocês, vocês estão aqui aprendendo um ofício para o futuro. Então se agarrem nessa possibilidade, aprendam tudo que vocês puderem aprender, para que vocês possam começar uma nova vida ao sair daqui", disse a vice-governadora.
O secretário da Seap, Coronel QOPM Marco Antonio Sirotheau Corrêa Rodrigues, falou sobre a importância do cooperativismo para a mudança de vida das internas.
"Como sabemos, as cooperativas possibilitam a transformação através da união das pessoas, e é possível transformar social e economicamente. Essa experiência de cooperativa levada para dentro do sistema penitenciário é muito importante e tem tido sucesso. Um exemplo é a Coostafe, que é a primeira e única cooperativa a funcionar em uma unidade prisional no Brasil, até o momento. Sabemos que outros estados têm interesse em implementar algo parecido, mas, até o momento, apenas o sistema penitenciário do Pará conta com cooperativas", disse o titular da Seap.
A obra da nova sede contou com um novo layout, troca do piso e das esquadrias, revisão das instalações elétricas, pintura interna, refrigeração de todos os ambientes. Agora, a Coostafe conta com três espaços produtivos, recepção, sala administrativa e estúdio fotográfico. A mobília, composta por móveis planejados foram todos produzidos a partir da mão-de-obra prisional, sendo confeccionados por custodiados da Unidade de Custódia e Reinserção do Coqueiro (UCR), na unidade produtiva de marcenaria.
Os novos ambientes contam com áreas específicas voltadas para o desenvolvimento das atividades artísticas nos setores de produção, administrativo, crochê, pintura, bordado e fotográfico. Além da loja com a exposição e venda de produtos de antigas e novas coleções. Com todas essas mudanças, uma nova identidade visual também foi elaborada para esse recomeço.
As novas máquinas e equipamentos foram adquiridos por meio de uma parceria com o Ministério Público do Trabalho (MTP), que disponibilizou recursos, possibilitando a compra de materiais como máquinas de costura, impressoras, câmeras fotográficas, smart tv, entre outros.
Para Belchior Machado, diretor de trabalho e produção da Seap, esse novo momento da Coostafe apresenta aspectos importantes em relação ao trabalho digno e o lado artístico das cooperadas. "O primeiro aspecto diz respeito ao trabalho digno, essas mulheres não estavam trabalhando em um espaço tão adequado como agora, esta gestão tornou prioridade a pauta do trabalho digno. E, hoje, o nosso espaço é climatizado, seguindo todas as regras e normas de segurança do trabalho. Agora essas mulheres vão desenvolver o outro aspecto, que é o aspecto artístico, porque é um espaço que garante essa ambiência. Tanto para atividades coletivas, como também, individualmente, elas podem desenvolver o seu senso artístico, o seu senso crítico" assegura o diretor.
Processo Produtivo - Toda a produção feita pelas internas utiliza o reaproveitamento de materiais como lonas de banners, utilizados para deixar as mercadorias resistentes a água. A cooperativa vende seus produtos artesanais feitos à mão como bolsas, porta-moedas, almofadas, entre outros e participa frequentemente de feiras de empreendedores. Além disso, a Coostafe tem em seu portfólio a produção e confecção de uma coleção de roupas e acessórios, desde o bordado à costura do material.
Empresas privadas e outras cooperativas também são parceiros da Coostafe e contribuem para a manutenção do processo de reinserção social, capacitação, geração de renda e transformação de realidades, ao oportunizar uma nova vida para quem precisa.
Sonhos - Uma das internas, Paula Bezerra, disse que já aprendeu diversas etapas de produção dentro da Coostafe, hoje ela sabe fazer os moldes de bolsa e as medidas necessárias para fazer roupas. Além disso, ela também possui o certificado de costureira e conta com orgulho o que pretende fazer no futuro.
"Às vezes, antes de dormir, eu fico pensando no que já aprendi, em tudo que posso colocar em prática. E hoje sei que posso abrir meu próprio negócio, colocar meu certificado lá e todos vão ver que eu sou uma costureira", conta.
Durante a visita de familiares, ela contou ao irmão que aprendeu a costurar, e para incentivá-la ainda mais, a sua família adquiriu uma máquina de costura.
"Eu contei na visita para a minha família, que eu tinha aprendido a costurar. Meu irmão falou que esse trabalho me fez bem, e que já tem uma máquina lá em casa me esperando. Então, eu fiquei super feliz porque agora eles estão acreditando na minha mudança, mas antigamente eles não acreditavam porque aquela outra Paula não pensava em fazer essas coisas", disse.
Outra interna, Joyce Medeiros da Silva, de 22 anos, está há seis meses na Coostafe e já se identificou com a área da costura. A custodiada sonha em abrir um pequeno negócio no futuro, e vê no ambiente de trabalho uma forma de se aperfeiçoar.
"Hoje em dia eu tenho um pensamento muito diferente do que tinha antes, é gratificante para mim, porque eu passo o dia costurando e aprendendo cada vez mais. Aqui na Coostafe, é um ambiente bom para trabalhar e ótimo para evoluir. Esse projeto me ajudou muito mentalmente, hoje em dia eu penso em ter uma vida totalmente diferente, e realizar meu sonho de montar meu próprio negócio, um ateliê, e montar minhas próprias roupas e vestidos. Quero sair vendendo no mercado, e ver se vou ter o sucesso financeiramente lá na frente", afirma.
Estiveram presentes na solenidade, os secretários adjuntos da Seap, de Gestão Administrativa (SAGA), Coronel PM Luiz André Conceição Maués, o Secretário de Gestão Operacional (SAGO), Ringo Alex Rayol Frias, além de diretores e demais servidores da pasta. Também prestigiaram o evento, os secretários de Estado, Ualame Machado, de Segurança Pública e Defesa Social do Pará, Paula Gomes, titular da Secretaria de Estado das Mulheres, e Puyr Tembé, titular da Secretaria de Estado de Povos Indígenas, Fernando Flexa Ribeiro, diretor-presidente da Companhia de Gás do Pará, Brasilino Assunção, diretor-geral do CredCidadão, além do deputado estadual Fábio Freitas, Edivar Cavalcante, promotor de execução penal, do Ministério do Publico do Estado, entre outras autoridades.
Texto: Yasmin Cavalcante - Ncs/Seap