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ESTUDOS E PESQUISAS

Pesquisas da Uepa ajudam na fiscalização de transporte e comercialização da madeira no Pará

Entre os trabalhos desenvolvidos pelo grupo, está a identificação de madeiras com finalidade forense, ou seja, para dar suporte à fiscalização do comércio e do transporte de madeira na região

Por Marília Jardim (UEPA)
12/09/2024 15h10

A pesquisa científica realizada no Laboratório de Ciência e Tecnologia da Madeira e na xiloteca Joaquim Ivanir Gomes da Universidade do Estado do Pará (Uepa), campus VIII, em Marabá, se tornou uma aliada importante para os agentes de órgãos como Polícia Rodoviária Federal (PRF), Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), envolvidos na fiscalização do transporte e do comércio de madeira de espécies amazônicas.

Como Marabá está localizada no sudeste paraense, cortada pela rodovia transamazônica, é uma cidade por onde passa todo tipo de carga agroflorestal, incluindo a madeira. Então, os estudos realizados por professores pesquisadores da Uepa, com a participação de estudantes do curso de graduação em Engenharia Florestal e do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Recursos Naturais e Sustentabilidade na Amazônia (PPGTEC), passou a ajudar na capacitação de profissionais envolvidos diretamente na fiscalização, fornecendo informações para que eles possam fazer a perícia e a triagem da madeira. 

Finalidade forense e curso de capacitação técnica 

Conforme o professor da Uepa Campus VIII, Luiz Melo, entre os trabalhos desenvolvidos pelo grupo, está a identificação de madeiras com finalidade forense, ou seja, para dar suporte à fiscalização do comércio e do transporte de madeira na região, desde 2017, e por volta do ano de 2019, houve um apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com a cedência de um contêiner e desde lá, a xiloteca chegou a um acervo com mais de 1.500 amostras de madeira.

A identificação forense de madeira tem a finalidade de combater o comércio ilegal e por essa razão surgiu uma pareceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. “Só que mais recentemente, o Ibama ficou sabendo disso e aumentou muito o transporte de madeira na transamazônica, que eles estão tendo muita necessidade, estão precisando muito de ajuda, nos procurou, visitou nossos espaços e nos consultou sobre a possibilidade de fazer um curso”, relembra o professor Luiz Melo.

A partir do interesse do Ibama, o grupo da Uepa iniciou uma mobilização junto ao Ministério Público do Estado, que se dispôs a entrar com a Uepa na realização do curso destinado especificamente para o aperfeiçoamento operacional de órgãos fiscalizadores de madeira na Amazônia. “O nosso estudo subsidia a informação técnica para que esses profissionais possam fazer a triagem e identificação desse material biológico nas cargas e assim possam fazer a checagem se esse material é de origem legal ou não, verificando se a espécie que consta no documento de fato é espécie madeireira que vem sendo transportada”, esclarece o professor Luiz Eduardo de Lima Melo.

Professor Luiz Melo explica que o laboratório e a xiloteca são duas estruturas físicas diferentes. A xiloteca é uma coleção de madeiras, um acervo de madeiras, mas tanto nesse espaço como no laboratório, são desenvolvidas pesquisas dentro da área de tecnologia e utilização de produtos florestais, especificamente com anatomia e propriedades da madeira, do carvão e da casca oriunda das árvores.

Etnobotânica

Uma das abordagens dos trabalhos realizados é na perspectiva da etnobotânica. “Nós temos trabalhos já publicados com as populações indígenas tradicionais do sudeste do Pará: Suruí, Gavião, Chicrim e Paracanã, onde nós realizamos um estudo de levantamento das madeiras que essas etnias utilizam, identificamos as espécies florestais que dão origem a essa madeira”, acentua o professor Luiz Melo. 

Conforme o professor, um dos principais objetivos desses estudos realizados junto às nações indígenas é conhecer as propriedades dessas madeiras para tentar entender por que essas etnias utilizam especificamente tais espécies para determinadas finalidades, como para a confecção de arcos, bordunas, para produção de lenha e geração de energia, enfim, inúmeras possibilidades. “Isso se chama estudo da cultura material dessas etnias, então nós estudamos a madeira para tentar entender um pouco do papel da madeira dentro da cultura material dessas etnias”, contextualiza o pesquisador.

Pesquisa e sustentabilidade

Professor Luiz Melo afirma que a outra linha de pesquisa do Laboratório da Madeira, no campus VIII da Uepa, conversa intimamente com a sustentabilidade das florestas. Isso se dá por meio do estudo sobre as características anatômicas e químicas de espécies florestais de valor comercial na Amazônia, para tentar dar um uso mais inteligente, mais rentável, que garanta a sustentabilidade das florestas.

“Nós estudamos a casca dessas espécies florestais para buscar entender as características anatômicas e químicas delas que podem, por exemplo, fazer essa casca, que seria um resíduo florestal, ser utilizada dentro da indústria de biorrefinaria ou então como fonte de antioxidantes naturais, por exemplo, em substituto a produtos químicos, a antioxidantes artificiais. Então, as cascas de diferentes espécies nativas da Amazônia, que normalmente geram um resíduo florestal, porque não são aproveitadas pelo setor madeireiro, podem fornecer subsídio, por exemplo, para diferentes indústrias de biorrefinaria, o que agrega valor a esse produto que seria desperdiçado na floresta”.

Serviço:

Curso Identificação anatômica de de madeira e carvão vegetal de espécies comerciais da Amazônia.
Público: servidores do Ibama, PRF e Semma da região sudeste do Pará.
Data: 16 a 18 de setembro.

Texto: Guaciara Freitas, jornalista (Assessoria de Comunicação - Ascom/Uepa).