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Psicólogos garantem escuta humanizada e contribuem com tratamento oncológico

No Hospital Ophir Loyola (HOL), assistência especializada ajuda usuários a enfrentarem os dias difíceis com olhar mais positivo diante das limitações

Por Leila Cruz (HOL)
27/08/2024 09h08

No Brasil, cerca de 600 mil adultos necessitam de cuidados paliativos, conforme a estimativa do Ministério da Saúde (MS). A assistência especializada promove qualidade de vida para pessoas acometidas por doenças graves e que ameaçam a vida, como o câncer. Em Belém, no Hospital Ophir Loyola (HOL), referência em oncologia na região Norte, os psicólogos integram a equipe multidisciplinar para intervir nos aspectos psicoemocionais que envolvem os pacientes.

Atualmente, quatro psicólogas prestam atendimento em cuidados paliativos oncológicos no hospital e contam com o suporte da residência ofertada em parceria com a Universidade Estadual do Pará (Uepa). Os internados são acompanhados diariamente enquanto aqueles assistidos em nível ambulatorial passam por sessões periódicas de acordo com a necessidade. Conforme explicou a  psicóloga Roberta Santos, o atendimento psicológico “ameniza sentimentos como angústia, derrota, medo, revolta e solidão, que acometem tanto os enfermos quanto os familiares". 

“O psicólogo utiliza de estratégias com o intuito de acolher, apoiar, aliviar as dores emocionais. Trabalhamos ainda outros aspectos relacionados ao fator espiritual e o fim da vida, sendo a escuta a principal ferramenta de intervenção para ajudar o enfermo a passar pelos estágios do luto, como a negação e o isolamento, a raiva, a barganha, a depressão e  aceitação da sua condição clínica”, esclareceu.

Roberta enfatiza que cada paciente é um ser único, por isso são colhidas informações sobre a vida dele. “A escuta é individualizada, sem lançar mão dos nossos valores. Nós, psicólogos, ficamos aptos a ajudar a partir dessa escuta  a fim de fazer a mediação entre a emoção e a razão diante do quadro de vida do paciente. Utilizamos todos os mecanismos de enfrentamentos que ele apresenta, e trabalhamos a ‘ferramenta’ que ele trouxe para poder utilizá-los da melhor forma possível”, destacou.

“Os cuidados paliativos garantem qualidade de vida dentro da limitação orgânica do indivíduo. A psicologia orienta e acolhe o doente e a família que vai prestar todo esse cuidado diário. Então, buscamos lançar um olhar mais positivo diante de todas as limitações que esse paciente possa apresentar, ressignificar as dores, o luto,  as despedidas, a vida vivida e falar também sobre o processo de finitude humana, que é um processo natural”, destacou a psicóloga.

Nascido no Maranhão, Francisco Sales, veio para o Pará ainda menino, aos 10 anos de idade. Foi em terras paraenses que constituiu família com Sofia Costa, com 60 anos atualmente. Para sustentar a família, Francisco sempre fez muitas viagens pelo Sul do estado para exercer a função de mecânico de veículos de grande porte. A correria do dia a dia não lhe permitia fazer alimentações adequadas. Os enlatados formavam o cardápio diário, produtos que não fazia ideia do alto potencial cancerígeno.

Ele também foi fumante dos 14 até os 24 anos, assim como fazia a ingestão de bebidas alcoólicas. Mas, somente em junho deste ano, aos 72 anos, o idoso sentiu-se mal e passou cinco dias internado em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), em Ananindeua, onde reside, até ser transferido para o Hospital Jean Bitar. Após exame de endoscopia com biópsia detectou-se um câncer de estômago com 10 centímetros. 

Por três vezes, foi entubado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) até ser transferido para o Hospital Ophir Loyola, onde passou mais uma semana em UTI. Desde o dia 17 de julho recebe cuidados paliativos oncológicos. “Às vezes, eu me sentia empachado depois de almoçar. Ninguém da minha família teve esse tipo de câncer, fui o primeiro. Eu era fumante, fumava muito mesmo, mas parei há 23 anos. Quando viajava a trabalho, não tinha muitas opções de alimentos, comia só conserva e sardinha enlatadas. E, com fome, eu comia mesmo”, disse o idoso.

Internado em estágio avançado, o organismo de Francisco não mais responde ao tratamento curativo, contudo, tem a esperança de recuperar a saúde. Ele e a esposa são acompanhados por uma equipe multiprofissional. “Essa atenção é importante, não temos nada a reclamar porque nos dão um suporte incrível. Carinho, afeto e conversa temos sempre. Quando estamos para baixo, elas nos animam. Eu falo principalmente por mim, pois tem dias que o desespero bate”, disse Sofia Costa.

Até cinco anos atrás, Francisco era um homem ativo. Trabalhava, dançava e se dedicava à leitura. Os passos de dança já não podem ser feitos. Agora os livros, as palavras palavras-cruzadas oferecem algum entretenimento entre uma medicação, um curativo e os diálogos com a equipe assistencial. “Eu gostava muito de dançar, também gosto de ler e estou lendo um livro de oração, procuro sempre estimular a minha mente”.

Hoje se apega à fé para encontrar a força necessária para passar à companheira de uma vida. “A fé é importante a todo momento, se não tiver fé a gente não chega em lugar nenhum. Temos que aceitar, não é mesmo? Não sei se foi uma casualidade ou se foi algo que fiz que colaborou para isso. Para sobrevivermos, temos que aceitar certas coisas e é isso o que está acontecendo comigo agora. Depois de toda a medicação que eu tomei, graças a Deus, eu não sinto dor, está controlada”, afirmou o paciente.