Governo do Estado entrega benefício de R$ 10 mil aos estudantes estaduais da classe hospitalar e domiciliar
Esforço e dedicação de estudantes que não podem frequentar a escola regular porque estão internados em hospitais públicos, ou porque têm condições raras de saúde, também são recompensados por meio do Bora Estudar
A educação é uma das ferramentas mais poderosas da humanidade, pois, com ela, é possível transformar sonhos em realidade e mudar o presente e o futuro. Por isso o Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), criou o maior programa de reconhecimento de desempenho escolar para estudantes da rede estadual de ensino, o “Bora Estudar”. A iniciativa inédita no país premia, com cheques de R$10 mil, os melhores estudantes de cada turma e também, os que se destacaram com notas a partir de 900 na Redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). E não seria diferente com os estudantes das classes do Atendimento Educacional Hospitalar e Domiciliar (AEHD) da Coordenadoria de Educação Especial (COEES) que, mesmo com necessidades específicas, se dedicam constantemente aos estudos e, consequentemente, tiveram todo o esforço reconhecido.
“O Atendimento Educacional Hospitalar e Domiciliar é um trabalho incrível que muitos dos nossos professores já fazem. Só no Hospital Octávio Lobo, atendemos 50 alunos que vêm de diversas partes do Estado, inclusive de outros lugares, que por fazerem diversos tipos de tratamentos de câncer, alguns inclusive mais raros, acabam não podendo frequentar a escola e vamos até eles para que a escola, a educação, possa ser continuada. Sendo assim, sempre que o aluno estiver hospitalizado, ou não puder frequentar a escola, a gente oferece isso. E o Governo do Estado tem a honra de premiar, por meio do Bora Estudar, o cheque de R$10 mil, estes estudantes também. São histórias de desafios, superação, e ver que eles querem continuar estudando e ver a paixão dos professores, de toda a equipe, o cuidado com todos os estudantes é emocionante”, considerou o secretário de Estado de Educação, Rossieli Soares.
Em tratamento no Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo (Hoiol), em Belém, o estudante Alexsandro Duarte, que cursa a 1ª série do Ensino Médio na Educação de Jovens e Adultos (EJA) na classe hospitalar, há um ano e meio trata na unidade, um osteossarcoma. Nascido e criado no município de Portel, no Marajó, o jovem de 19 anos descobriu o câncer nos ossos após machucar a perna esquerda em uma partida de futebol. Com a doença já em estágio avançado, a perna do estudante precisou ser amputada e uma batalha de tratamento e adaptação começou para ele, junto com a família, em meio a uma rotina cansativa entre Portel e Belém. "Quando recebi a notícia, não tinha noção do que era, mas com o tempo fui entendendo. Ao saber que eu teria que amputar a perna foi triste, chorei, chorei muito. Sinto falta dela [perna] até agora, mas é isso, não adianta ficar triste, tem que levar a vida para frente, vida que segue. Tive que começar a usar muleta e agora estou acostumado”, relatou Alexsandro.
Dois anos antes de receber o diagnóstico de câncer, Alexsandro cursava o 9° ano do Ensino Fundamental quando se tornou pai e abandonou os estudos para trabalhar. Durante o período de internação para tratamento do osteossarcoma no Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, o jovem voltou a estudar, desta vez, na Classe Hospitalar Professor Roberto França, um programa de educação especial que garante aos estudantes da rede estadual de ensino o direito à continuidade do processo de ensino-aprendizagem e a reintegração ao grupo escolar.
Matriculado na Escola Estadual Barão do Rio Branco, em Belém, o estudante assiste às aulas no hospital e conta que ser contemplado no Bora Estudar, além de ser uma grata surpresa, vai fazer a diferença na vida da família. "Eu não estava esperando ganhar, mas veio na hora que estávamos precisando. A educação pode mudar vidas. Vale a pena estudar porque a educação traz um futuro lindo e esse cheque chegou em boa hora e vai ajudar muito. Minha mãe precisa ajeitar a casa e isso vai ajudar a nossa família. Ter sido premiado com esse cheque significa muito para mim, até porque é uma conquista pelo meu esforço e meu estudo. Sem educação eu sei que não somos nada. Agradeço por tudo que estão fazendo por nós aqui e espero que mais e mais pessoas ganhem esse prêmio também”, disse.
Para a mãe de Alexsandro, Fátima Duarte, o Bora Estudar foi importante presente. Segundo a dona de casa, que precisou largar a venda de lanches para cuidar do filho, há mais de 10 anos a família tenta terminar a construção da casa e agora, esse sonho será possível graças ao programa do Governo do Estado. "Deus realiza sonhos. Eu não esperava e fiquei muito feliz por termos recebido esse cheque. A gente precisava para terminar de construir a casa e não tínhamos como conseguir e agora tenho a oportunidade. Só eu e Deus sabemos o que passo com meu filho nesse hospital, meses sem poder sair daqui, operação, tratamento, mas agradeço a Deus por esse reconhecimento”, contou a mãe.
Emocionada, a professora Anna Elvira dos Santos, que acompanha Alexsandro nas aulas de Educação Física, conta como é difícil segurar as lágrimas ao ver os frutos da educação sendo colhidos. “A gente vê nossos alunos chegarem às vezes com estado de saúde bem debilitado e hoje a gente fica emocionado de ver o quanto o Alexsandro cresceu, não só na parte educacional, mas como ele está bem diferente da primeira vez que a gente se encontrou um ano atrás, depois de uma cirurgia. Ele estava há dois anos parado e a gente acolheu e hoje vemos o fruto desse acolhimento, me emociono muito em ver”, compartilhou a docente.
Em parceria com o Programa Sua Casa, da Companhia de Estado de Habitação (Cohab), o Bora Estudar garante que, com o cheque no valor de R$10 mil, os estudantes e suas famílias possam construir, reformar, ampliar, melhorar ou adaptar suas casas.
Classe Domiciliar - Portadora da Síndrome de Proteus, doença congênita e extremamente rara que causa crescimento exagerado e patológico da pele com tumores subcutâneos, a estudante Ana Luiza Silva, 20 anos, cursa a 2ª série do Ensino Médio em Classe Domiciliar e recebeu o cheque de R$ 10 mil, devido o seu ótimo desempenho nas aulas. Muito atenta aos estudos, a jovem sempre se destacou pelas boas notas. Orgulhosa da neta, a avó da estudante não conteve as lágrimas ao falar sobre ela. “Estamos muito felizes porque eu não tinha condição de mexer na casa, fazer um quarto, uma sala para ela estudar. Os professores vêm dar aula na cozinha para ela e a gente quer dar mais conforto para ela e para eles. Esse recurso caiu do céu, mandado por Deus mesmo. A gente estava precisando muito. Nosso banheiro falta ajeitar também e pelo estudo da Ana Luiza, por ela ser uma menina obediente, dedicada, a gente agora vai conseguir. Estou muito orgulhosa da minha neta. É uma felicidade muito grande“, declarou dona Maria do Carmo.
“Sinceramente, eu achei que não ia ganhar. E esse prêmio não é só meu, é da minha família e dos meus professores que me ajudaram. Foi um trabalho em conjunto. Com certeza esse cheque vai fazer muita diferença para nós. Vejo essa premiação como uma recompensa para todos os alunos pelo esforço, é uma gratificação, um incentivo. A gente vai conseguir dar continuidade na nossa casa”, disse Ana Luiza, que sonha cursar química na universidade.
A professora Érika Amorim é a primeira professora do programa a dar aula domiciliar para Ana Luiza. A professora de história acompanha a jornada da estudante desde 2018 e reforça o papel fundamental do atendimento domiciliar e hospitalar. “As doenças raras acabaram entrando na minha vida por meio do atendimento domiciliar e eu decidi me aprofundar, a vida me desenvolveu (porque eu tenho uma rara em casa) e isso, pesquisando, me fez conhecer melhor a realidade da Luiza e de todos os nossos alunos porque 80% dos nossos alunos de atendimento domiciliar têm algum tipo de condição rara. Doenças que não permitem que essas crianças frequentem a escola regular e o atendimento domiciliar vem ao encontro dessas necessidades para que contemplem o modelo de educação que garanta o direito à educação e é isso que a gente faz, um exercício de garantia de direitos por meio da Secretaria de Educação”, frisou a educadora.
Também em atendimento educacional domiciliar, o estudante Ezequiel Gama, 21 anos, está na 3ª série do Ensino Médio. Com Neoplasia Benigna do Encéfalo e de outras partes do Sistema Nervoso Central, doença que se caracteriza pelo surgimento de tumores que afetam o cérebro ou tronco encefálico, o estudante recebe atendimento educacional domiciliar desde 2019. Ao longo de toda a vida, Ezequiel tem vivenciado um agravamento clínico, em virtude de uma neoplasia na lombar que restringe gradualmente a mobilidade de seus membros inferiores e com isso, ele precisou do auxílio de muletas e cadeira de rodas. Apesar das adversidades, o jovem não deixou a paixão pelos estudos e foi o melhor aluno da turma em 2023, sendo contemplado no Bora Estudar. Alegria e orgulho para ele e toda a família. “Quando descobri que tinha ganhado o Bora Estudar fiquei muito feliz e orgulhoso de mim mesmo. Esse recurso vai me ajudar bastante, principalmente meus pais. Então ganhar esse prêmio é muito gratificante porque eu vou ajudar bastante a minha família. Pretendemos reformar meu quarto e principalmente minha escada, que é bastante difícil para minha locomoção. Para mim, esse reconhecimento é importante porque mostra que meu esforço não é em vão, estou aprendendo, me desenvolvendo e é gratificante”, ponderou Ezequiel.
Irene Gama, mãe de Ezequiel, conta que o filho nunca deixou as limitações impedirem suas conquistas. “Nós comemoramos muito por ele ter ganhado e eu sempre achei que ele era capaz porque ele é muito inteligente. Ele tem limitações, mas isso nunca foi obstáculo para ele estudar. Para mim, foi uma emoção, uma importância muito grande, porque devido a esse problema de saúde, o Ezequiel passou quatro anos sem estudar, até que eu conheci o programa da Classe Hospitalar e Domiciliar. E junto com o problema de saúde do Ezequiel, os sonhos de estudar, fazer uma faculdade, foram esquecidos e foi muito frustrante para mim, como mãe. Eu o colocava nas escolas, mas ele não conseguia ficar, sentia muitas dores. O programa da Classe Hospitalar acolheu o meu filho. Depois que ele voltou a estudar, voltou a sonhar, teve mais alegria, mais ânimo até mesmo para viver e hoje eu sou só gratidão por esse programa”, afirmou.
Conforme a coordenadora do Atendimento Educacional Hospitalar e Domiciliar da Seduc, Eliana Celino, o resultado é gratificante pois ressalta que o objetivo de garantir o direito à educação tem sido cumprido com qualidade. “Eu quero dizer, em nome de todos os professores, em nome da COEES, em nome da Escola Estadual Barão do Rio Branco também, que nós estamos muito felizes e orgulhosos por esse momento, por nós vermos o crescimento, não só do Alexsandro, Ana Luiza e Ezequiel, mas também dos outros alunos. Isso é muito gratificante porque sabemos que estamos no caminho certo, que nós não tiramos esses alunos da educação. Apesar de estarem em tratamento de saúde, eles continuam concorrendo com todos os nossos alunos da rede, estão incluídos, fazemos um trabalho de inclusão, então só temos a agradecer e dar parabéns para a equipe, para os estudantes, Seduc e Governo do Pará”, destacou.
Atualmente, o programa de educação especial de Atendimento Hospitalar e Domiciliar da Seduc funciona em nove espaços, além de Santarém, no oeste paraense. Só no Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo (Hoiol), a Classe Hospitalar atende 50 estudantes. Em todo o programa são atendidos de 250 a 270 estudantes por mês.
Texto: Fernanda Cavalcante - Ascom Seduc