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DIA DOS POVOS INDÍGENAS

Hospital Oncológico Infantil celebra povos indígenas

Durante a atividade, foram exibidas algumas peças de artesanato, alimentos e ervas medicinais utilizadas no dia a dia dessa população para crianças e acompanhantes

Por Leila Cruz (HOIOL)
19/04/2024 13h50

Para marcar o Dia dos Povos Indígenas, celebrado nesta sexta-feira, 19, o Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo (Hoiol), em parceria com a Casa de Saúde Indígena (Casai), promoveu uma exposição para apresentar e valorizar a diversidade cultural dos povos originários. Durante a atividade, os profissionais da Casai exibiram algumas peças de artesanato, alimentos e ervas medicinais utilizadas no dia a dia dessa população para crianças e acompanhantes.

"É necessário educar as crianças sobre a população indígena, porque elas são o futuro do amanhã, nossos futuros médicos, nossos futuros advogados. Mostramos um pouco dos nossos hábitos e costumes e balançamos o maracá, instrumento utilizado em nossos rituais de música e dança. Isso representa muito para nós, a nossa vida, o ar que respiramos", disse o enfermeiro da Casai, Raimundo Tembé.

O Hoiol busca fortalecer a relação de colaboração com a Casai visando prestar uma melhor assistência às crianças e adolescentes de diversas etnias que passam por tratamento de alta complexidade em oncologia. A harmonia entre as instituições de saúde é fundamental para facilitar o acesso ao diagnóstico e às intervenções terapêuticas utilizadas no combate ao câncer.

A coordenadora de Humanização do Hoiol, Natacha Cardoso, enfatiza a importância da inclusão dos agentes indígenas nas práticas de atenção à saúde, com o intuito de garantir aos povos de diferentes etnias o exercício da cidadania. "A população brasileira é formada por muitas raças, muitas cores e muitas culturas, portanto o hospital, enquanto instituição de saúde, busca conscientizar sobre o respeito a essa diversidade e promover a equidade, a fim de reconhecer o direito de cada um", afirmou.

"A população indígena tem o direito a um atendimento prioritário e digno, conforme a cultura dessas pessoas. Estamos buscando evoluir no atendimento a essa cultura, porque entendemos que existe uma diversidade social, cultural e histórica que tornam esses povos mais vulneráveis aos agravos de saúde. E para prestarmos um melhor acolhimento sem fugir do plano terapêutico, contamos com o apoio do Serviço Social da Casai", enfatizou.

"Desde 2020 esse diálogo e a interação com as equipes multidisciplinares do hospital vem se fortalecendo a cada dia. A nossa assistente social faz essa intervenção quando necessário, mas quando os indígenas não aceitam ou colaboram com o tratamento, os enfermeiros indígenas entram em ação.  Isso porque eles depositam uma confiança maior em nós.  E estarmos inseridos nesse contexto de assistência à saúde do nosso povo nos deixa honrados", destacou o enfermeiro da etnia Tembé.

Ele ressalta que existe uma dificuldade para os povos originários entender o câncer e todo o contexto de intervenções terapêuticas que envolvem a doença. "Nosso povo vive na aldeia, está habituado à liberdade para andar e viver sem restrições. E quando alguém recebe o diagnóstico do câncer, fica retido no tratamento, em uma casa de saúde onde já não tem uma vida livre para brincar em razão da quimioterapia, da radioterapia", explicou. 

Somado a isso, existem os efeitos colaterais como a perda do paladar e do cabelo, além da mudança na alimentação que interferem na melhor adesão à realidade do adoecimento. "Para um indígena habituado a viver livre no seu habitat, onde faz o que quer e corre para onde quer, a hospitalização é um desafio muito grande.  Não só para ele, enquanto usuário de saúde, mas para a equipe assistencial fazer uma manobra para que o tratamento seja eficaz. Não é que a gente não consiga, mas existem peculiaridades, como a língua, hábitos e costumes", esclareceu Raimundo Tembé.

Amostra - A brinquedista da Humanização, Bruna Dias, informou que uma pesquisa foi realizada para trabalhar a temática do dia comemorativo no ambiente hospitalar. "Percebemos que muitas informações estavam erradas e que até existe a questão de apropriação da cultura de forma incorreta. Então decidimos aprofundar esse estudo sobre nossas raízes e fizemos o convite aos profissionais da Casai para que pudessem conduzir a atividade a partir do ponto de vista da população indígena, apresentar os costumes e saberes, bem como lembrar sobre os direitos e o início da história da população brasileira".

O lavrador Miguel Lourenço Neto, 42 anos, reside no município de São Félix do Xingu com o filho Miquéias Lima, que atualmente está internado no hospital e aguarda o fechamento do diagnóstico. Ele interagiu com os profissionais da Casa de Saúde Indígena e sinalizou que muitos aspectos do cotidiano dos paraenses foram absorvidos pela cultura dos povos originários.

"A programação ensinou as crianças e nos ajudou a conhecer mais sobre uma cultura que está enraizada no nosso cotidiano, como comer mandioca, farinha. Moramos na região amazônica e existem bastante indígenas na região do Xingu, mas aprendemos com eles a como viver no Brasil", disse Miguel.

Serviço - Credenciado como Unidade de Alta Complexidade em Oncologia, o Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo é referência na região Norte no diagnóstico e tratamento especializado do câncer infantojuvenil, na faixa etária entre 0 a 19 anos. A unidade é gerenciada pelo Instituto Diretrizes, sob o contrato de gestão com a Secretaria de Estado de Saúde Pública, e atende pacientes oriundos dos 144 municípios paraenses e estados vizinhos.