Kayapós recebem diploma superior em Licenciatura Intercultural Indígena
O curso de Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade do Estado do Pará (Uepa) formou a primeira turma da etnia Kayapó, nesta quinta-feira, 6, em São Félix do Xingu, sudeste do estado. Dezesseis concluintes receberam o título de licenciados pelo Programa Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor). Esta é a sexta turma do curso, que já formou 142 indígenas no estado.
A composição da turma recebeu alunos de diferentes municípios: São Félix do Xingu, Pau D'Arco, Ourilândia do Norte e Cumaru. Para Beko Kayapó o momento de celebrar a formatura é importante. "Estamos recebendo nossos diplomas. Essa formação trouxe muitos conhecimentos ocidentais, temos que assimilar outra cultura, sem deixar de lado a nossa própria", destacou.
Patkore Kayapó acredita que a conquista ajudará a comunidade na luta por direitos e na valorização da cultura indígena. "Eu, como aluno acadêmico, estudando ao longo de quatro anos, fiquei muito feliz e quero continuar a estudar e buscar cada vez mais conhecimento e ajudar todos os meus parentes", afirmou. A filha dele, Iredjopti Kayapó, estava emocionada e já pensa em seguir seus passos. "Foi muito difícil para ele se formar. Estou muito feliz. Tenho vontade de seguir o ensino superior, mas não como professora, quero trabalhar como enfermeira na área da saúde", afirmou.
A coordenadora do curso, Joelma Alencar, falou sobre o desafio de formar professores que possam atuar nas suas aldeias e qualificar ainda mais a educação básica. "Os kayapó são falantes da língua portuguesa, um grande desafio para nós da universidade, pois é bem mais complexo. Hoje eles estão aptos a atuar desde a educação infantil até o Ensino Médio, e foram preparados para utilizar metodologias específicas para suas escolas e produzir materiais para atender a realidade do seu público, também formado por alunos indígenas", explicou.
No curso de Licenciatura Intercultural Indígena, alunos de diversas etnias recebem professores nas aldeias e comunidades onde vivem. A graduação está vinculada ao Núcleo de Formação Indígena, que visa garantir aos povos originários formação superior, realização de pesquisas, atividades de extensão e formação continuada, de acordo com as suas necessidades e realidades. Atualmente oferta turmas em quatro municípios: Paragominas (aldeia Cajueiro), Tucuruí (aldeia Trocará), Santarém (aldeia Caruci) e Jacareacanga (aldeia Sai Cinza).
O curso é vinculado ao Núcleo de Formação Indígena (Nufi) da Uepa, que oferta também cursos de pós-graduação voltado para os egressos da licenciatura. Em 2018, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) aprovou a implantação do Programa de Pós-Graduação Profissional em Educação Escolar Indígena, em nível de Mestrado.
A Uepa é a proponente do programa, mas trata-se de uma proposta em associação interinstitucional, tendo auxílio executivo da Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).
Por Dayane Baia