Hospital Regional, em Santarém, alcança marca de 102 transplantes renais
Santarena de 38 anos foi uma das pacientes transplantadas na unidade de alta complexidade do Governo do Pará
Em um feito importante para a área médica na Amazônia, o Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), localizado em Santarém, município do oeste paraense, atinge a marca de 102 transplantes renais. A conquista destaca o comprometimento da unidade hospitalar em proporcionar uma nova oportunidade de vida a pacientes que enfrentam insuficiência renal, e fortalece a unidade como referência nesse segmento no norte do Brasil.
No último dia 12 de outubro, Edileuza Neves, 38 anos, foi levada ao centro cirúrgico do HRBA para receber um rim de um doador morto, após três anos em tratamento no setor de hemodiálise, e se tornou a paciente número 100 de transplantes realizados na unidade. O primeiro transplante feito na unidade foi em 2016, em um procedimento cirúrgico de doador vivo. Já o primeiro transplante com doador cadáver aconteceu em 2018. Até o momento, já foram realizados 102 procedimentos.
Qualidade - O Hospital Regional em Santarém atua como um centro de excelência em transplantes renais, destacando-se não apenas pela quantidade, mas pela qualidade do cuidado oferecido.
Para o cirurgião principal dos transplantes na unidade, Alberto Tolentino, que atua desde a implantação do serviço, esse marco é fruto de muito trabalho, empenho de uma equipe que envolve vários especialistas.
“Quem ganha é a população, principalmente para quem tem uma doença renal crônica. E ter um hospital no interior do Pará com esse serviço é motivo de orgulho. A gente fica muito feliz com o número alcançado, que evidencia que os médicos, todo o corpo clínico do transplante, sabe e faz a diferença”, enfatiza Alberto Tolentino.
Inspiração - Os pacientes que passaram pelo procedimento de transplante renal no HRBA compartilham histórias inspiradoras de recuperação e renovação da qualidade de vida. Esse marco não apenas simboliza um avanço técnico, mas também ressalta a esperança restaurada e a oportunidade de uma vida plena para aqueles que, anteriormente, enfrentavam desafios significativos. Edileuza conta que descobriu a doença durante uma gravidez, há cerca de três anos.
“Foi o momento mais difícil da minha vida. Eu não queria aceitar. Tinha uma vida muito ativa. Eu descobri a falência nos rins, e logo em seguida, com 5 meses de gravidez, perdi meu bebê. Isso aconteceu no período da pandemia (Covid-19), e eu fiquei em negação para não tratar a doença. O médico Júnior Aguiar foi um anjo nesse período. Hoje, o Regional da minha cidade conseguiu trazer uma esperança de nova vida”, afirma.
A paciente aproveitou para aconselhar as pessoas com o diagnóstico inicial que não tenham medo. “Eu achava que seria a pior coisa da minha vida se eu começasse a fazer hemodiálise. Eu tive que ser internada às pressas; não teve jeito. Colocaram o cateter e, depois disso, eu descobri uma nova família aqui. Mesmo com medo, venham e procurem fazer o tratamento”, alerta.
O marco no número de transplantes solidifica o Regional do Baixo Amazonas como um centro de excelência na região Norte, não apenas pela quantidade de procedimentos realizados, mas pelo impacto positivo na vida das pessoas. O Hospital continua a ser um farol de esperança e inovação médica no Pará, transformando desafios em oportunidades para uma vida mais saudável.
Evolução - A coordenadora da Central de Transplantes, da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), Ierecê Miranda, relembra que antes os transplantes só eram realizados em Belém, e em 2012 começou o processo de descentralização em todo o Estado.
“Em sete anos de atividade, o Regional em Santarém realiza, em média, entre 8 a 15 transplantes por mês. A capacidade de procedimentos cirúrgicos é maior, porém existe carência de doadores de rim. É importante a consciencialização sobre a doença, e que a pessoa comunique a família o desejo de ser doador de órgãos”, informa.
Ela destaca a importância dessa conquista em uma região em que a acessibilidade aos cuidados médicos avançados, muitas vezes, é desafiadora. “Nos últimos quatro anos houve avanço na política de transplante, com apoio do governo do Estado, e o envolvimento da Secretaria de Saúde, que vem possibilitando a ampliação tanto das doações quanto do número de transplantes”, diz a coordenadora.
Segundo o diretor-geral do HRBA, Gean Francisco Cercal, “realizar 102 transplantes de rim neste contexto geográfico é mais do que um número; é um compromisso com a saúde e a esperança. Muitos pacientes aqui enfrentam desafios únicos. Proporcionar a oportunidade de uma nova vida é uma recompensa além de palavras”.
“É, com certeza, um marco para a unidade e a região alcançar esse quantitativo de transplantes. Ter mais cadeiras de hemodiálise na rede estadual, assim como mais unidades de referência para o tratamento, facilita a vida da população, que não precisa mais se locomover por grandes distâncias para receber atendimento de qualidade. Esse número é o reflexo de investimentos e do comprometimento do governo do Estado com a saúde dos paraenses”, garante Ivete Vaz, secretária de Estado de Saúde Pública.
Procedimentos - Os transplantes renais não são apenas procedimentos médicos. São pontes para uma vida mais saudável, especialmente em lugares onde outras opções podem ser limitadas.
Entre as histórias destaca-se a jornada de Jobert Bentes, 41 anos, que ganhou um rim da esposa, Natália Cristina Guimarães, 36 anos. “Antes do transplante, eu mal podia sonhar com uma vida normal. Tinha fraqueza, cansaço. Agora, sinto como se tivesse recebido uma segunda chance. Agradeço a todos os envolvidos neste hospital incrível”, declara Jobert.
Complexidade – O Hospital Regional do Baixo Amazonas Dr. Waldemar Penna é uma unidade do Governo do Pará, administrada pelo Instituto Social Mais Saúde (ISMS), em parceria com a Sespa. Oferece desde o diagnóstico ao transplante renal. O trabalho do setor de transplante é altamente especializado e envolve uma série de etapas coordenadas para garantir o sucesso dos procedimentos. O Regional mantém uma infraestrutura que atende à integralidade das doenças renais para 1,4 milhão de habitantes.
O enfermeiro responsável pelo acompanhamento clínico no setor, Tiago Mendes, detalha o percurso do paciente quando entra na lista de transplante, que inicia no ambulatório, passa pela triagem e avaliação.
“Após isso, o paciente entra na lista de espera. Em seguida, a gente começa a procura por doadores cadáveres, e faz também a avaliação de doadores vivos. Quando o rim chega, partimos para o planejamento cirúrgico, realização da cirurgia de transplante, imunossupressão e cuidados pós-operatórios, com acompanhamento a longo prazo”, informa o profissional.
A atuação desse setor exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo cirurgiões, nefrologistas, imunologistas, enfermeiros, assistentes sociais, nutricionista e outros profissionais de saúde.
Texto: Ascom/HRBA