Agência Pará
pa.gov.br
Ferramenta de pesquisa
ÁREA DE GOVERNO
TAGS
REGIÕES
CONTEÚDO
PERÍODO
De
A
CULTURA E INCLUSÃO

"Vozes da Democracia" explora temas relacionados ao cidadão como ser político na Feira do Livro

Por Carol Menezes (SECOM)
13/09/2023 20h52

O encerramento do espaço Arena das Multivozes no dia dedicado às Vozes da Democracia teve "Papo, Prosa e Versos" com o escritor paraense e mestre em Ciência Política Gabriel Conrado e a jornalista paraense e ex-repórter da rede Globo Cristina Serra, mediados pela jornalista paulista e colunista cultural Elisa Dinis. O trio falou sobre temas relacionados a "Polifonia da Democracia".

Autora do recém-lançado "Nós, Sobreviventes do Ódio", Cristina Serra falou sobre o papel do Jornalismo em um futuro próximo para contar a recente história do Brasil. "Acho que nosso maior desafio é construir esta democracia, nem se trata de reconstruir, porque ela ainda é muito incompleta, está em aperfeiçoamento. Talvez esteja completa quando todo mundo tiver comida na mesa, escola pública de qualidade, negros sem medo de andar, sem serem encontrados por balas perdidas, com indígenas donos de suas terras demarcadas. Isso é democracia", explanou a jornalista.

Conrado admitiu que, apesar de hoje ser maior a quantidade de autores negros no mercado e considerados referência, o acesso a essas leituras ainda é financeiramente difícil. "A gente precisa de mais, de novos, até mesmo para ajudar a formar os mais novos, o pensamento crítico das próximas gerações. E esse acesso também precisa ser facilitado. Hoje, mesmo eu comprei um livro que preciso para uma pesquisa que custou quase R$ 100. Como ter acesso em um país onde a maioria vive com um salário mínimo, pagando absurdo de luz, de água, de aluguel, de ônibus. Como vai promover o letramento desse jeito?", questionou.

Antes, no momento "Política é lugar de todas, todos e todes", a escritora, cantora e compositora baiana Preta Ferreira e a professora paraense e doutora em História Social da Amazônia, Luana Guedes, mediadas por Lilia Melo, professora de Língua Portuguesa que em 2018 ganhou o prêmio nacional Professores do Brasil, do Ministério da Educação, pela criação do projeto "Juventude Negra Periférica - Do Extermínio ao Protagonismo", com jovens do bairro Terra Firme, em Belém, promoveram um debate sobre a necessidade de a sociedade se sentir parte de um organismo político, e do cidadão se sentir um ser político.

Preta Ferreira"Nasci um corpo político, visto que nasci em um país onde a maioria da população é preta, mas é a população que menos têm oportunidades. Somos políticos porque existimos. Nossas leis são feitas por outros, brancos, burgueses, que muitas vezes não atendem as demandas das mulheres, dos indígenas, dos negros. A maior dica que posso dar é: não desistam disso, e busquem formação política de base, porque sem saber quem somos, nossa história, não temos como saber para onde vamos. Reclamam quando relacionamos racismo a não termos uma mulher negra no Supremo Tribunal Federal. Reclamam porque incomodamos. Mas nós já estamos incomodados todos os dias, há muito mais tempo", discursou Preta Ferreira.

Luana GuedesLuana Guedes, por sua vez, reforçou a necessidade de se deixar de lado a ideia de que a existência do Executivo e do Legislativo são suficientes. "Nós todos temos demandas e esses poderes deviam espelhar isso, mas historicamente não é assim. Sabe por que é tão importante falar de África? Porque é falar sobre representatividade política afirmativa e tomada de consciência. Até bem pouco tempo, ser negro era considerado ruim. Nenhuma menina queria ser ter cabelo duro. Hoje além do orgulho se questiona a estrutura política que temos, os poucos representantes que temos, principalmente na Amazônia. E insisto: esse debate tem que ir para a sala de aula, em todas as esferas, para a formação de um cidadão crítico, que vai poder fazer a análise de sua vivência, e reconhecer aquilo que não lhe espelha, não lhe representa", avaliou a pesquisadora.

Durante a manhã, também Ângelo Tupinambá falou sobre democracia e de que forma ela é construída pelo povo, com intervenção artística de Matemba.