Indígenas discutem deslocamento forçado e o potencial da sociobioeconomia para a defesa dos territorios
Como parte da programação do Diálogos Amazônicos, a Secretaria de Estado dos Povos Indígenas (Sepi), compôs a mesa “Deslocamento forçado de povos indígenas na América do Sul - sociobioeconomia ancestral como estratégia de defesa dos territórios”, neste domingo, 06, no Parque dos Igarapés, em Belém.
Lideranças indígenas do Estado do Pará participaram da plenária, onde foram discutidos os processos de invasão, desterritorialização e expulsão dos indígenas de seus territórios e formas de defesa e sustentabilidade. Gabriel Tardelli, representante da Acnur - Agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para Refugiados, explicou que os indígenas refugiados passam por dois processos.
“A gente tem dois movimentos, o de desterritorialização, que é a expulsão dos indígenas de seus territórios, e o processo de deslocamento forçado. Quando essas populações deixam seus territórios, não deixam de ser indígenas, não perdem sua cultura. Cada um deles vive inúmeros desafios. Para a gente avançar, é importante ter em mente que essas pessoas foram obrigadas a sair de seus territórios e não podem voltar”, explica Tardelli.
Indígena da etnia Warao e refugiado venezuelano, Jhonny Rivas deu o seu depoimento para a plenária, destacando a importância de manter a cultura viva. “Nós viemos da Venezuela, comecei aqui minha própria vida, meu artesanato, minha cultura que aprendi com meus pais e avós. Nós temos 12 comunidades indígenas aqui em Belém e Ananindeua. Falo em nome dos indígenas Warao que vieram para Belém, queremos mostrar nossa cultura, queremos espaço para mostrar nosso trabalho”, destaca.
Sociobioeconomia - Como forma de manter as comunidades indígenas fortalecidas, foi apresentada a sociobioeconomia como estratégia de sustentabilidade e defesa dos territórios. A técnica da Sepi e engenheira florestal Amanda Paiva conceituou o termo.
“Sociobioeconomia: sócio é gente, bio é natureza e economia é dinheiro. Trabalhar as cadeias produtivas, como a do açaí, da castanha, da farinha, é atuar de maneira eficaz na bioeconomia, mas, só manejar e extrair o produto não é suficiente. As cadeias produtivas devem ser trabalhadas desde a ponta, nos territórios, até o mercado. Para isso, precisa-se incentivar a melhoria da organização, para que a produção chegue ao mercado de forma eficaz”, ressalta a técnica.
Ao longo da discussão sobre a sociobioeconomia, foram destacadas três questões importantes para o fortalecimento das comunidades nos territórios: a primeira é a organização, ou seja, a criação de associações e cooperativas; a segunda destacada é a formação técnica para ganhar mais competitividade no mercado e, por último, a importância das políticas públicas, como fomento e linha de crédito, assim como assistência técnica e extensão rural que valorize e respeite a cultura local.
Integrantes da mesa - A mesa foi composta pelo cacique Raoni; por Ubirajara Sompré, secretário-adjunto da Secretaria de Estado dos Povos Indígenas (Sepi); Nayra Kaxuyana, representante do Ministério dos Povos Indígenas (MPI); Gabriel Tardelli, da Acnur - Agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para Refugiados; Concita Sompré, presidente da Federação dos Povos Indígenas do Estado do Pará (Fepipa); Ronaldo Amanayé, liderança indígena e coordenador tesoureiro da Fepipa; Jhonny Rivas, representando o Conselho Warao Ojiduna; Amanda Paiva, técnica da Secretaria de Estado dos Povos Indígenas (Sepi); Botxie Xikrin/Nhokae Xikrin, cacique geral da aldeia Xikrin, integrante da Fepipa; e Val Eloy Terena, coordenadora executiva da Apib. O debate foi mediado por Eli Tupinambá.