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Nova sala de Integração Sensorial é entregue na Uepa

Por Monique Hadad (UEPA)
29/03/2023 14h10

Piscina de bolinhas, balanços, tirolesa, equipamentos suspensos e rolos. Estes são alguns dos variados recursos utilizados na nova sala de Terapia de Integração Sensorial, inaugurada neste mês no Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade do Estado do Pará (Uepa). Voltada a pacientes de 3 a 14 anos e com atendimento exclusivo pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a sala foi projetada para oferecer estímulos sensoriais, principalmente proprioceptivos, táteis, vestibulares e visuais, com segurança e criatividade, para auxiliar no processo de aprendizagem de crianças com diagnósticos como Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), entre outros.

O atendimento é realizado com um paciente de cada vez. A criança é acompanhada pelo terapeuta ocupacional, em sessões que duram em média 40 minutos. A Uepa é a única universidade que oferece a terapia de forma gratuita no Pará. A sala já está em funcionamento pleno e sem vagas disponíveis no momento, contando com lista de espera.

O novo ambiente é baseado na Teoria de Integração Sensorial, desenvolvida na década de 1960, na Calífórnia, pela terapeuta ocupacional, psicóloga educacional e neurocientista Anna Jean Ayres. A abordagem foi uma das primeiras a serem formuladas na prática da Terapia Ocupacional, a partir de evidências científicas. Ayres define a Integração Sensorial como um processo neurológico que organiza as sensações do próprio corpo e do ambiente, e possibilita utilizar o corpo de forma eficiente no meio. Dessa forma, é um processo inconsciente que organiza as informações recebidas por meio dos sentidos (paladar, visão, audição, olfato, tato, propriocepção e vestibular) e dá significado aos sentimentos vivenciados, ao filtrar informações e escolher no que focar.

Essa é a segunda sala de Integração Sensorial disponibilizada pela Uepa, que já trabalha com atividades embasadas na teoria desde o ano de 2020. De acordo com a professora e terapeuta ocupacional Ana Irene Alves de Oliveira - que atua há 38 anos na Universidade e foi fundadora do curso de Terapia Ocupacional -, os tratamentos que utilizam a Integração Sensorial têm se expandido. “Está crescendo cada vez mais no mundo a Terapia de Integração Sensorial, que é realizada pelo terapeuta ocupacional. A autora do método faz toda uma discussão sobre como os sistemas sensoriais se integram para um melhor desenvolvimento humano, de que forma a gente absorve pelos sentidos e elabora essa entrada de sensações de uma forma mais organizada, mais adequada”, afirma a docente, que atualmente coordena o Centro Especializado em Reabilitação III (CER III) e a Unidade de Ensino e Assistência de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Ueafto), localizada no CCBS da Uepa.

Acompanhamento Individualizado - A avaliação das crianças que são atendidas é realizada de forma individualizada pelos profissionais, que dispõem de bases científicas, tais como formulários e testes padronizados, para verificar o nível de sensibilidade do paciente. “Analisamos de que forma a criança está se organizando, quais as respostas que ela está dando para cada estímulo, e assim avaliamos o antes, o durante e o depois da terapia. Todos os instrumentos são padronizados, dessa forma, temos como detectar melhor os problemas pelos instrumentos avaliativos e intervir também com todo esse processamento sensorial”, detalha Ana Irene.

Um exemplo citado pela professora é o de uma criança com TEA, que geralmente possui disfunção sensorial, como hipersensibilidade auditiva e tátil. “Essa criança pode ter uma insegurança gravitacional, que se não for organizada e não for oferecido um ambiente estruturado para se organizar, ela não conseguirá, por exemplo, estar em sala de aula, pois não conseguirá selecionar os estímulos”, explica.

Segundo Ana Irene, os profissionais que atuam nas salas de Integração Sensorial observam melhorias no desenvolvimento de crianças que são submetidas à terapia: “A gente percebe evoluções significativas de como a criança lida com os sons, com as sensações de toque e de cheiro. O trabalho também é feito para melhorar a alimentação de crianças que têm seletividade alimentar, porque o cheiro e a textura de certas comidas costumam incomodar. Então, orientamos a como trabalhar essa seletividade, organizando essas sensações, para que passe a aceitar determinados alimentos”.

Durante a sessão, um dos recursos utilizados é o mergulho na piscina de bolinhas, que, segundo a professora, possibilita o toque, a sensação antigravitacional e o controle dos movimentos do corpo no espaço, fatores que ajudam a criança a organizar as sensações corporais. Outro material usado é a tirolesa, que auxilia o paciente a desenvolver o autocontrole e trabalha a insegurança gravitacional. A sala de Integração Sensorial segue todas as medidas de segurança internacionais no uso dos equipamentos.

“A gente oferece esse ambiente enriquecido de estímulos, para exatamente ajudar a criança a fazer essa organização neurológica, pois na entrada dos estímulos sensoriais ela vai aprendendo a modulá-los, e o terapeuta ajuda exatamente na condução dessas experiências da forma mais favorável”, destaca.

Inovação - Os equipamentos existentes nas duas salas de Integração Sensorial da Uepa foram doados pela empresa Integris, a partir de parceria firmada. O objetivo é montar a terceira sala até o final deste ano, para detecção e intervenção precoce de autismo em crianças de 0 a 3 anos de idade. A iniciativa será inovadora, pois não há atendimento baseado no método de Integração Sensorial para essa faixa etária, em Belém.

Com o apoio da empresa, a Universidade também oferta o curso de Certificação Brasileira em Integração Sensorial, destinado a profissionais de Terapia Ocupacional. A Uepa é a única instituição do Brasil que oferece o curso, que possui 220 horas de formação. A cada seis meses, 40 profissionais são capacitados para desenvolver pesquisa e prática clínica no campo de conhecimento da Teoria de Integração Sensorial.

Ao término do curso, o aluno elabora um artigo científico para ser inserido no e-book da Coletânea de Estudos em Integração Sensorial, que integra a produção realizada e contribui para a produção e socialização científica da Integração Sensorial. Três e-books já foram produzidos e todos podem ser acessados aqui. A publicação mais recente, lançada neste ano, conta com o prefácio da vice-reitora da Uepa, Ilma Pastana.

Para a diretora da Integris e idealizadora da Certificação Brasileira em Integração Sensorial, Danielle Zaparoli, “é de grande importância a parceria com a Uepa na realização do curso nesse modelo, tanto para a região, como para os profissionais e para as pessoas que são atendidas na Ueafto, que são as crianças atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS)”.

“No Pará, temos muitos profissionais de Terapia Ocupacional com mestrado e doutorado, além de anos de prática de pesquisa na área. Então, esse foi um dos motivos que me fez ofertar o curso em Belém e para a Uepa. Sou grata pela Universidade ter aberto as portas e estar com a gente nesse curso, que é uma inovação. Estamos vendo um resultado bem significativo”, ressalta Danielle.

Equipe Multiprofissional - Os pacientes atendidos na Unidade de Ensino e Assistência de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Ueafto) da Uepa são encaminhados por Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou procuram o serviço de forma espontânea. Para cada criança acompanhada é elaborado um Plano Terapêutico Singular (PTS), conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas a partir das necessidades do indíviduo. A Integração Sensorial é apenas uma das diversas terapias disponibilizadas. Atualmente, o Centro Especializado em Reabilitação III (CER III) dispõe de serviços de Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Psicologia, Neuropsicologia, Ortopedia, Psiquiatria e Neurologia.

Para mais informações, entre em contato pelo telefone (91) 3131-1761 ou pelo e-mail cer.uepa@gmail.com