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Custodiadas do CRF de Ananindeua concluem curso “A Prática do Silêncio”

Instrutores ministraram curso de yoga de forma presencial para 15 participantes no ambiente carcerário. Através da meditação e respiração, elas melhoram suas condições de saúde e do ambiente das celas

Por Caroline Rocha (SEAP)
24/03/2023 11h20

Promovido pela Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) e a organização internacional “Arte de Viver”, por meio do programa “Respirando a Liberdade”, 15 custodiadas do Centro de Recuperação Feminino (CRF) de Ananindeua concluíram na quinta-feira (23) o curso de Yoga “A Prática do Silêncio”. Durante oito dias, os instrutores realizaram o curso de forma presencial em quatro unidades prisionais paraenses. A Yoga tem trazido benefícios para as praticantes dentro do ambiente carcerário.

O curso de Yoga nas unidades da Seap, originalmente, é realizado em formato on-line, sendo uma atividade inédita no país e já atinge quase 500 Pessoas Privadas de Liberdade (PPLs), em nove unidades prisionais do Pará. Estão contemplados o Centro de Recuperação Regional de Itaituba (CRRI), Centro de Recuperação Regional de Cametá (CRRCAM), Presídio Estadual Metropolitano II (PEM II), Presídio Estadual Metropolitano III (PEM III), Centro de Reeducação Feminino (CRF) e Cadeia de Jovens e Adultos (CPJA), Centro de Recuperação do Coqueiro (CRC), Central de Triagem da Marambaia (CTMAB), Central de Triagem Metropolitana II (CTM II). O curso presencial está sendo realizado também pela primeira vez no Pará.

“A liberdade está no nosso interior. O corpo pode estar aprisionado, mas não a sua mente”, disse Keliane Gonçalves Nunes, de 35 anos, durante o momento denominado “Compartilhamento”, uma das práticas do curso. Esse foi um dos muitos aprendizados adquiridos por Keliane e as outras 14 internas do CRF.

Durante esse processo, as participantes compartilham suas experiências e o aprendizado que levam do curso, conforme explica a empresária e voluntária do “Arte de Viver”, Andrea Sandoval. Ela explicou para as internas que a “libertação” é uma escolha. “Se vocês não se libertarem, vocês levarão a prisão com vocês. Quando saírem daqui, seus filhos, suas famílias vão perceber que vocês estão presos. Agora é a hora de vocês se libertarem”, disse Andrea.

Além da consciência sobre o que é a busca da felicidade, e encontrá-la, a partir, basicamente, da mudança pessoal, as custodiadas descobrem que é possível manter o bem-estar mental, físico e emocional no ambiente carcerário. Através da meditação, de exercícios de respiração e da Yoga, elas melhoram suas condições de saúde, do ambiente das celas e da própria unidade prisional.

Quem atesta esses benefícios que a Yoga promove é a própria diretora do CRF Rita de Cássia Canto da Costa. Segundo a gestora, na última semana foi possível acompanhar as atividades desenvolvidas pelas PPLs e ver a melhoria no aspecto mental, que é um dos objetivos da prática.

“Elas estão adorando. Foi uma semana muito intensa, mas com excelente resultado. Elas estão praticando dentro da cela a Yoga”, afirma.

Presencial - O curso “A Prática do Silêncio” é ministrado por Israel Mastrini, que é argentino e advogado de profissão, com formação em Psicologia Social, Pedagogia, Educação Artística e é também professor de Expressão Corporal e Teatro. Está ministrando o "Arte de Viver" desde 2002, e em 2009 deixou suas outras funções e se tornou instrutor. Desde então, passou a dedicar seu tempo a trabalhar com penitenciárias de toda a América Latina.

Atualmente é o coordenador do projeto "Prisão Inteligente", dedicado ao tratamento e reabilitação de internos e seguranças prisionais, sendo o único capacitado para ministrar o Curso de Silêncio nos países latinos. Aqui no Pará tem realizado o curso presencial e encerrou mais uma etapa com as custodiadas do CRF.

"Eu as vejo muito felizes agora. A participação delas foi bem positiva e participativa em todos os momentos, fazendo yoga e as práticas. Muito bom mesmo”, disse Israel Mastrini.

Giselle Pinho é outra voluntária da organização internacional e coordena os projetos no Brasil. Casada e mãe de dois filhos, ela possui formação como instrutora de Yoga e Meditação pela “Arte de Viver”, também, e é voluntária no projeto social Smart Prison Respirando Liberdade. Pinho diz que a Seap, através da Diretoria de Reinserção Social (DRS), tem sido fundamental no apoio para a realização da iniciativa.

“Esse curso foi também muito especial, como todos são. Mas esse teve um sabor de realização pessoal, pois pessoalmente batalhei muito para que essas ações ocorressem. Deixei um pouco de lado a vida pessoal, meus compromissos sociais e familiares porque realmente acredito na transformação dos seres humanos”, afirma Giselle.

Melhoria - Ingrid Lemos de Moraes, de 34 anos, é interna do CRF e conta que participar das atividades propostas foi uma experiência nova, um conhecimento que adquiriu e pretende levar para toda a vida. “Eu era uma pessoa conturbada com meus pensamentos. Com a meditação melhorei muito, parecia um furacão dentro de mim, mas com a respiração, eu me tornei uma pessoa melhor. Dentro do cárcere a gente aprende a adquirir a felicidade dentro da gente, mesmo estando presas, nossos espíritos estão livres”, garante. 

Keliane também pretende continuar com as práticas, agora na quarentena da nova etapa das práticas e diz que tudo que aprender vai repassar para quem não está participando do curso. Ela também agradeceu a equipe de instrutores da “Arte de Viver” e a Seap pela oportunidade.

“A gente vê que pessoas que veem de longe, tiram seu tempo para virem até aqui, que acreditam em nós, na nossa mudança. E hoje aprendi que a palavra viver, por mais que a gente esteja neste lugar, tem um grande significado. Temos que sair daqui com novos pensamentos e novos objetivos’, concluiu.

Texto: Márcio Sousa / NCS Seap