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COMUNICAÇÃO

Feminicídio, conteúdo digital e jornalismo cultural em pauta no Publicom

Por Redação - Agência PA (SECOM)
15/11/2017 00h00

É preciso falar sobre representação feminina na mídia. E do ponto de vista da mulher. O debate abriu o segundo dia do Encontro de Comunicação do Pará – Publicom Belém 2017 – Cultura 30 Anos, que ocorre até esta quarta-feira (15), no Teatro Maria Sylvia Nunes, da Estação das Docas, em Belém. Diante de um auditório lotado, a documentarista Lívia Perez alertou sobre a cobertura midiática que, até hoje, desconsidera a violência contra a mulher em detrimento de um discurso machista.

Antes do bate-papo, o público assistiu ao documentário “Quem matou Eloá?” (2015), uma leitura crítica sobre a cobertura do sequestro e morte da adolescente Eloá Pimentel, 15 anos, que depois de ficar em cativeiro por cinco dias, levou um tiro do ex-namorado Lindemberg Alves. O caso ocorreu em 2008 e teve grande repercussão na imprensa, em uma transmissão exaustiva e, quase sempre, unilateral.

Mediada pela presidente da Cultura Rede de Comunicação, Adelaide Oliveira, a conversa chamou atenção do público para a responsabilidade do profissional da comunicação na abordagem de temas como feminicídio. “O que me motivou a fazer esse filme foi o fato de sermos o quinto país que mais mata mulheres no mundo. Esse foi um caso clássico de violência contra a mulher sem que nenhum veículo tenha sequer usado esse termo em sua cobertura”, disse Lívia.

E o que mudou nestes quase dez anos do caso Eloá? A cobertura ainda é contaminada pelo verniz machista, mas já se discute mais a questão da mulher, muito graças aos avanços dos movimentos sociais e do debate na internet. Nesse sentido, para a documentarista, eventos como o Publicom são fundamentais. “Fico muito feliz de ver esse tipo de iniciativa. Discutir a responsabilidade do nosso papel enquanto comunicadores para melhorar a informação repassada ao público é um importante exercício”, defendeu.

Conexões

Após a conversa com Lívia Perez, o público participou de um bate-papo sobre “Criatividade e influência na era digital”. Kevin Albuquerque, Bruna Feia e Luly Mendonça, três dos principais influenciadores digitais do Pará, contaram histórias, deram dicas de como construir conteúdo atraente nas redes sociais e mostraram como a internet se tornou o veículo mais democrático da atualidade. O alcance imediato a diversos tipos de público e a liberdade para abordar qualquer tipo de assunto fazem dessa esfera um campo rico em debates e informação. O bate-papo foi mediado pelo diretor de Mídias Digitais da Secretaria de Estado de Comunicação (Secom), Petterson Farias.

“Influenciador digital não é profissão. É até pedante afirmar isso. Somos pessoas que falam com uma determinada comunidade. Pegamos assuntos do dia a dia e os transformamos em um post. Fazemos uma crônica da vida real”, definiu Luly, que é publicitária. Para Kevin, do canal Com Farinha, é importante conhecer o público com quem se fala e divulgar conteúdo de qualidade. “Temos que fazer um bom material. Não se deve publicar qualquer coisa”, frisou. Para Bruna Feia, que é bancária, é importante abordar temas com os quais se tem afinidade. “Minha pauta é o cotidiano. Faço sobre aquilo que me incomoda. É a minha opinião, que às vezes é compartilhada pelos meus seguidores”.

Engajamento

A terceira conversa do dia foi sobre “Jornalismo cultural no mercado contemporâneo”. Com mediação do jornalista Marcelo Damaso, as jornalistas Roberta Martinelli, do programa Cultura Livre, da TV Cultura de São Paulo; Marília Feix, da Revista Noize, e Ana Paula Andrade, diretora do programa “Circuito”, da TV Cultura do Pará, abordaram os desafios da editoria cultura nos meios de comunicação. Em uma coisa, todas concordam: a internet ajudou na disseminação de um conteúdo que foi perdendo espaço nos meios de comunicação tradicionais.

“Arte é política. Então falar de arte é um ato político. Por isso temos que ter consciência do nosso papel enquanto profissionais que dão voz a esse ato”, disse Roberta, para quem o universo digital é uma arena democrática que vem obrigando a cobertura tradicional a se reinventar. “Nosso programa é exibido na TV, mas logo depois está na internet. Alguns artistas até usam nosso material como portfólio. É uma satisfação muito grande ver que podemos contrbuir, de alguma forma, para a difusão da arte e a perpetuação dela nos mais diversos meios”, arrematou Ana Paula.

Para Marília Feix, o desafio de fazer comunicação na área cultural é grande, mas recompensador. “É uma pauta que sempre sofreu com a falta de espaço, mas fundamental para qualquer sociedade. A cada edição da revista mergulhamos no universo do artista e fazemos com que ele seja um co-editor do material que estamos criando. É uma maneira de aproximar a arte da comunicação”.

O Publicom segue nesta quarta-feira com debate sobre “Inovação e desafios do design na Amazônia”, com Sâmia Batista, da Mapinguari Design, e Bernardo Magalhães, da Libras Design, às 17h; e a entrega do prêmio Jornalismo em Turismo, às 18h. A palestra de encerramento será feita pelo web ativista Gil Giardelli, que vai falar sobre “A inovação radical e a era dos valores”, às 19h. O evento termina com show do Trio Manari e Dona Onete, às 20h.