Escola estadual incentiva o combate à discriminação racial com diálogo e cultura
Confecção de mandala com "Abayomis" e visita à Sala Africanidades fizeram parte da programação que envolveu alunos da Escola Instituto Bom Pastor
Uma mandala de tecido feita com "Abayomis" mostra que essa boneca de nó, de origem africana, atravessou o Atlântico e chegou à Escola Instituto Bom Pastor, em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém. Essa é uma das muitas histórias contadas aos estudantes da escola pública para abordar a temática da ancestralidade e etnicidade.
Uma programação especial na escola marcou o Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial nesta terça-feira (21). Pela manhã, alunos do nível médio foram convidados a discutir e aprofundar questões étnicas e raciais em uma roda de conversa, que teve a participação de membros do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (Cedenpa). À tarde, houve visita guiada à Sala Africanidades, terminando na biblioteca com leitura, jogos e confecção de marcadores de livros com frases antirracistas, para estudantes do ensino fundamental.Estudantes usaram a criatividade para valorizar a diversidade cultural
"Ao longo do ano, o Instituto Bom Pastor discute etnicidade como forma de valorizar a pessoa negra e de combater a discriminação. Mas em programações como hoje, a gente trabalha buscando o entendimento do aluno sobre sua identidade amazônida, do que é a lei de combate à discriminação racial e como se portar diante de situações de violência. Na medida em que trabalhamos, o aluno fica mais humanizado, mais fortalecido com a sua identidade, e se relaciona de forma mais tranquila, o que chamamos aqui de bem viver", informou a professora Sandra Freitas.
"Lenços de Carolina" - Na sala de leitura, os estudantes também participaram do lançamento do livro "Lenços de Carolina", de autoria da professora Sandra, que conta a história de Carolina Maria de Jesus, mulher negra, pobre, que sonhava em escrever e conseguiu publicar seu livro.
Gabriel Silva, do 9° ano, disse que é muito importante a escola trabalhar essa temática. "Temos que aprender sobre a diversidade de outras culturas, o que não é muito comum ver sobre a cultura africana e indígena. Só vemos racismo, preconceito. Então, ver isso na escola é entender o significado e valorizar, além de ser muito bonito", ressaltou.
Visita à Sala Africanidades, um espaço de valorização das culturas afro e indígenaAncestralidade - Há 20 anos, a escola desenvolve o Projeto "Raça e Etnicidade Afro e Indígena: resistências e desafios", criado por um coletivo de professores. "Naquela época, já percebia que alguns alunos negros eram discriminados. Começamos a pensar em como mudar isso. Começamos a apresentar as diversas culturas nas disciplinas. Fizemos visitas à comunidade quilombola do Abacatal, aqui mesmo em Ananindeua, para conhecer, e fomos desenvolvendo várias atividades de relações étnico-raciais, e criamos o projeto", explicou a professora Clemilda Andrade, uma das idealizadoras.
Para trabalhar com a temática em sala de aula, as professoras passaram por formação. "Tivemos que ir atrás de um acervo próprio, aprender e conhecer para repassar aos alunos. E esse conhecimento começa na leitura. Nas salas de aula trabalhamos de diversas formas, apresentando autores, escrevendo poesias, desconstruindo e ressignificando letras de músicas racistas, preconceituosas, sem conteúdo", complementou Clemilda Andrade. O trabalho é realizado ao longo do ano letivo nas salas de aula, por meio de conversas, palestras e oficinas em parceria com entidades como o Cendepa.
Segundo a aluna Luciana Nascimento, do 9 °ano, o projeto é uma contribuição como estudante e cidadã. "É um projeto muito bom que a escola faz. Conhecemos mais sobre os povos negros, os indígenas, e mais da Amazônia. É um projeto para levar para a vida", disse Luciana.
A escola conta com a Sala de Africanidades, cujo acervo reúne bonecas de pano, livros de pano, tambores, urnas funerárias, mandalas, baús da memória e máscaras, sempre unindo as culturas afro e indígena com preservação ambiental.
Texto: Sâmia Maffra - Ascom/Seduc