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SEGURANÇA PÚBLICA

SEAP realiza programação especial no Dia das Mulheres para egressas no Escritório Social

Por Caroline Rocha (SEAP)
09/03/2023 15h42

A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP) promoveu neste dia 8 de março, várias programações especiais alusivas ao Dia Internacional da Mulher, entre elas, uma ação destinada ao grupo de egressas do sistema penal. A atividade ocorreu no Escritório Social (ES), projeto vinculado à Diretoria de Reinserção Social e contou com a exibição de filmes, roda de conversas, sorteios, brindes e o lançamento de um livro de autoria de uma das egressas.

Manuela Cavalléro, Coordenadora de Assistência ao Egresso e Família, e Coordenadora do ES, explica que o escritório é um equipamento público de assistência à pessoa egressa, oferecendo atendimento psicossocial e atendimento jurídico. O ES também realiza eventos especiais, como foi o caso da programação do Dia Internacional das Mulheres, promovendo rodas de conversa, palestras e o Cine Gênero.

“A gente percebe algumas demandas que são recorrentes, fazemos eventos específicos, de empreendedorismo, comportamento, produção de currículo para vagas de trabalho, e também temos o papel de fazer a articulação com a rede de serviços, para, a partir das demandas pelas pessoas que são atendidas aqui, possam fazer o encaminhamento”, conta Manoela.

A coordenadora do ES ressalta ainda que o órgão está em um momento de sensibilizar cada vez mais as pessoas egressas. Segundo ela, as equipes do Escritório Social estão indo mais aos ambientes para sensibilizar o público para que conheçam os serviços oferecidos. “Estamos indo nas casas penais, nas Usinas da Paz, estamos utilizando as redes sociais também como divulgadoras dos serviços do ES. O aumento dos nossos atendimentos está sendo gradativo, mas está acontecendo”, destacou Manuela Cavalléro.

A programação especial começou com a exibição do curta-metragem “Ribeirinhos do Asfalto”, da diretora Jorane Castro, que conta a história de Deyse, que mora na região das ilhas e sonha morar em Belém. Ela conta com o apoio da mãe, mas tem de enfrentar o pai, que é contrário à ideia, e viverem os primeiros desafios da cidade grande. 

Após a exibição, uma roda de conversas entre as egressas e as técnicas do ES teve início, onde foram relatadas algumas de suas experiências no cárcere e o enfrentamento do pós-cárcere. Uma delas foi Silviane Cristina, de 26 anos, que relatou ter passado quase quatro anos presa. Ela descreveu que ao sair da prisão, o momento mais difícil foi reencontrar os quatro filhos, principalmente o mais novo. “Quando fui presa, ele era bebê. Quando voltei pra casa sofri a rejeição do meu filho, ele não me reconhecia. Aquilo me doeu na alma”, relembra.

Silviane prosseguiu contando que foi mãe muito jovem, aos 13 anos, e que praticamente não teve infância. Cresceu em um ambiente onde o crime e as dificuldades eram parte do cotidiano. Hoje, seu receio é de que a filha adolescente não caia nos mesmo erros. “É o meu maior medo. Ela sonha em ser enfermeira. Quero que ela foque nisso, nos estudos e não cometa os mesmos erros que cometi”, afirma.

Outro relato foi o de Marcionila Mendes, que contou ter sido presa aos 45 anos, em 2019. Produtora cultural, artista visual e escritora, Marcionila soube aproveitar as experiências vivenciadas na unidade penal e as transformou em um livro de poesias, “Borboletas Enjauladas”, contos eróticos sobre os relacionamentos e descobertas de mulheres no cárcere.

Marcionila contou que a receptividade da obra tem sido bastante positiva, tendo a oportunidade de conhecer vários lugares apresentando a obra e realizando palestras. Ela participou do evento Observatório do Livro, em São Paulo, que contou com um público de 30 mil participantes. “Tenho feito vários lançamentos, tenho apoio de outras instituições como a Associação de Defensores Públicos e sigo fazendo a divulgação através desses lançamentos. Infelizmente o brasileiro não tem uma cultura de consumo de livro, mas consigo divulgá-lo através dos eventos, principalmente na área de Direitos Humanos”, contou.

Ela já está com o novo livro em andamento, que falará sobre o período do pós-cárcere. Marcionila ainda não sabe que estilo adotará para escrever, mas afirma que a poesia está intrínseca nela. “Eu me vejo já caminhando para esse lado da poesia, mas não sei se será dessa forma, acho que mais de autoajuda, falar do depois da prisão, de ser egressa”.

Silviane e Marcionila aprovaram a programação realizada pelo Escritório Social. Silviane disse que chegou a pensar em dizer não, mas refletiu e decidiu participar. “Pensei que talvez fosse bom, e cara, foi ótimo. Um Dia das Mulheres que não tinha há anos, pois passei quatro anos dentro daquele lugar, privada de tudo e de todos, de comemorações como essa”, disse a egressa.

Casa Própria - Ela aproveitou para agradecer o apoio que tem recebido nos últimos três meses desde que deixou a prisão e comemorou a inscrição no programa Minha Casa, Minha Vida, que conseguiu através do Escritório Social. ”Eles fizeram uma reunião e fui incluída, estão me ajudando, já vão fazer a visita social na minha casa. Então terei a oportunidade de ter o que é meu, dos meus filhos, aonde eu posso deitar, não precisar pagar aluguel. Eles são enviados de Deus”, diz ela.

Já Marcionila garante que o apoio do pessoal do ES é uma parceria, um apoio, que vai além do aspecto institucional. “Eu desenvolvo relações de amizade com as pessoas aqui. Tem me ajudado bastante em vários fatores como saúde, por exemplo, eu tive umas demandas de saúde que eles sanaram. A psicologia também porque a gente sai cheia de trauma, enfim para mim é algo importantíssimo para as egressas”, afirmou. 

Após o café da manhã oferecido às participantes dos eventos foi realizado um sorteio de produtos de beleza, brindes ofertados pelas técnicas e livros doados por Marcionila.

Texto: Márcio Sousa (Ascom Seap)