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REINSERÇÃO

Produção de uniformes reduz custos do sistema penal e auxilia na remição de pena

O projeto desenvolvido no Centro de Reeducação Feminino beneficia 20 internas, que produzem 3 mil uniformes por mês

Por Dayane Baía (ARCON)
20/11/2022 08h00

A demanda interna de uniformes para custodiados da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) é toda produzida em cinco fábricas de corte e costura, o que viabiliza a redução de custos com a aquisição de uniformes prontos, além de incentivar a profissionalização e remição de pena, e ainda contribui para a ressocialização dos apenados, quando se tornarem egressos do sistema penitenciário.

No Centro de Reeducação Feminino (CRF), em Ananindeua (Região Metropolitana de Belém), 20 internas produzem por mês 3 mil uniformes, em expediente das 08 às 16 h, de segunda a sexta-feira. Elas contam com a orientação técnica de profissionais como Hélio Alvarez, estilista e secretário de Diretoria na Seap.

“Elas passam primeiro por um processo de capacitação oferecido pela Seap. E aí eu entro logo após para ver se o curso foi satisfatório, se estão conseguindo executar. E entro mais na questão do uniforme. Elas fazem um curso de costura em geral. Como o objetivo é uniforme, se torna mais fácil. Fico um período de 10 dias em cada unidade, olhando essa questão da qualidade, do tempo de produção diário. O segredo para que se tenha um bom profissional é a insistência, fazer com que eles não desistam. Aí eu vou analisando a capacidade de cada um, quem tem realmente habilidade para permanecer na fábrica”, informa Hélio Alvarez.

Desejo da avó - S.J.B.G., 30 anos, já sabia costurar graças aos esforços da avó. Hoje, além de produzir, ela já auxilia outras colegas no ofício. “Ela tinha uma máquina de costura, e era o sonho dela eu me tornar costureira. Ela chegou a pagar um curso para mim, mas não me dediquei muito. Quando eu cheguei aqui, fiquei um ano sem fazer nada, porque fiquei ‘provisória’. Quando eu recebi a sentença, pedi a oportunidade e me concederam. Graças a Deus, eu estou até hoje, cinco anos trabalhando. Eu me sinto muito gratificada em poder ensinar o que aprendi”, afirma.Descoberta de habilidades e um olhar firme para o futuro: internas aprendem ofício, desenvolvem confiança e ajudam o sistema penitenciário a reduzir custos

 O regime semiaberto de S.J.B.G. está previsto para março do ano que vem, e ela pretende conseguir um emprego para adquirir as próprias máquinas e seguir na profissão desejada pela avó. “Infelizmente, foi uma situação muito complicada. Mas tem males que vêm para o bem. Eu aproveito cada oportunidade que tenho aqui dentro”, admite.

Profissionalização - Para Hélio Alvarez, ver o empenho das custodiadas é recompensador. “Eu fico muito feliz de ver que elas realmente estão se tornando grandes profissionais. Além de fazer muito bem para a mente dessas moças, que ficavam ociosas dentro de uma cela, agora elas têm uma profissão e realizam com louvor, mesmo. Eu vejo a dedicação e percebo a qualidade. Tem meninas aqui que nunca pisaram numa máquina, não tinham noção nenhuma, e hoje eu percebo que quando elas saírem daqui vão, com certeza, levar adiante essa habilidade toda. Tem algumas que vão seguir essa profissão”, garante.

É o caso também de J.M.R.O., 41 anos, que está na fábrica há quatro meses, chegou sem saber costurar, mas já aprendeu com as colegas. “Eu não sabia nem colocar a linha na agulha, e as meninas foram ensinando, com paciência. Conheço as máquinas agora. Galoneira, reta, overloque, e hoje em dia faço camisa, short, calça e outras coisas mais que a gente aprendeu aqui. Eu posso dizer que sair daqui é uma nova vida, uma nova experiência. Eu tenho fé em Deus que já está perto. Daqui a pouco estou saindo para levar para outras pessoas. Minha família aprender também a costurar. E eu sei que lá na frente vai ter coisas melhores para mim”, diz a interna.

O plano para o futuro também inclui o empreendedorismo e a solidariedade, conceitos que J.M.R.O. aprendeu a valorizar ainda mais dentro do cárcere. “Eu tenho em mente comprar três máquinas. Eu aprendi coisas que nunca pensei que ia aprender a fazer. Artesanato tem muitas coisas bonitas, que dão para a gente fazer com retalhos. O meu alvo é esse. Também, como sou sua serva do Senhor, eu quero levar umas mantas para os moradores de rua. Assim como eu tive oportunidade, eles também vão ter. Eu quero passar o que aprendi aqui dentro para eles olharem diferente a vida”, acrescenta.

De acordo com Gerson Cardoso Santos, assessor de Projetos da Seap, a Secretaria busca potencializar ações e projetos voltados à reinserção social. “Uma delas é exatamente criar unidades de produção, em especial essa do Centro de Reeducação Feminino, resultado de uma parceria com o Departamento Penitenciário Nacional, que capta recursos federais por meio do Fundo Penitenciário. Implantamos cinco unidades em funcionamento, e a perspectiva é ampliar para sete e depois para todas as regiões do Estado”, informa o assessor.

Ainda segundo Gerson Santos, as ações geram economia para o Estado com a produção de 15 mil kits mensais. “Hoje, a Seap não emprega recursos financeiros para a compra de uniformes acabados. Além de produzir os próprios uniformes, tem a questão da reinserção social plena. É capacitar homens e mulheres com o ofício de corte e costura. A perspectiva da Seap também é ampliar o número de pessoas que recebem capacitação profissional, para que possam, a partir do momento que se tornarem egressas do sistema penitenciário, utilizar o aprendizado e essas habilidades para gerar renda”, completa.