Cooperativa de mulheres privadas de liberdade acelera produção para final do ano
Coostafe é a única do Brasil formada por mulheres em situação de cárcere. Iniciativa já beneficiou mais de 500 custodiadas.
Coostafe é a única cooperativa do Brasil formada por mulheres em situação de cárcereEm funcionamento dentro da estrutura da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), a Cooperativa Social de Trabalho Arte Feminina Empreendedora (Coostafe) é referência em empreendedorismo, sendo a única do Brasil formada por mulheres em situação de cárcere. A produção está intensa para atender as demandas de Natal e de dois desfiles previstos para o mês de novembro.
Atualmente, a Coostafe conta com 28 custodiadas que trabalham em um espaço reservado dentro do Centro de Recuperação Feminino (CRF) de Ananindeua. As atividades incluem costura e artesanato para a produção de peças comercializadas em eventos e feiras.
Com o trabalho, as mulheres conseguem remição de pena, além de se profissionalizar com vistas à ressocialização após a detenção. Diretor de Reinserção Social da Seap, Belchior Machado explica que a iniciativa integra a Política de Trabalho Prisional da pasta e já beneficiou mais de 500 custodiadas.
“A Coostafe é uma referência de empreendedorismo feminino, e por isso temos dado todo o suporte e apoio para que essas mulheres possam ter qualificação profissional e, principalmente, um espaço no mercado com seus produtos, com seus talentos. A cooperativa é formada por 28 mulheres, mas há rotatividade. A partir do momento que uma custodiada tem a liberdade concedida, abre-se vaga para que outra mulher possa se cooperar”, afirma Belchior.
Leilane Sales, presidente da Coostafe, conta que as equipes estão empenhadas para aumentar o estoque de peças para o final do ano. “Vamos fazer a produção de Natal para uma feira muito importante, que vai ocorrer na Estação das Docas, no início de dezembro, e para dois desfiles, um que vai ser no Theatro da Paz na semana que vem e depois o Amazônia Fashion Week (AFW). Estamos dividindo as equipes, no meio de uma correria, trabalhando da manhã até o finalzinho do dia para dar conta dessa demanda”, comenta Leilane.
Produção é intensa para o fim do ano e será vendida em feiras e ainda exibida em desfiles na capitalA custodiada aplica os conhecimentos da sua formação profissional em administração e celebra o fortalecimento da cooperativa, a qual preside há cinco anos. “A Coostafe é um marco muito importante porque é a única cooperativa dentro do sistema penitenciário do mundo. Já tem oito anos de existência, ainda engatinha em algumas coisas, mas já é um ponto muito forte para resgate de vida e ressocialização dentro do sistema penitenciário. Um dia esses portões se abrem. E aí, quando essa pessoa for embora, como vai ser? Vai voltar para o crime? Então é inaceitável isso. Não tem como isso acontecer, mas temos que trabalhar resgatando vidas, para que lá fora elas possam reconstruir as suas famílias. Hoje a Coostafe trabalha nesse sentido de ensinar e profissionalizar e está dando super certo”, acrescenta a presidente.
Cooperativismo - A organização tem recebido apoio de instituições do ramo do cooperativismo e também do Governo do Estado, com a articulação entre órgãos para a formação profissional e suporte técnico no negócio, além de criação de oportunidades de exposição dos produtos das custodiadas.
Gerson Cardoso Santos, assessor de Projetos da Seap, atua como tutor voluntário da Coostafe. “Como elas já se encontram em desvantagem no mercado econômico e, por estarem privadas de liberdade, essa rede de contatos e negócios precisa ser viabilizada. A característica do tutor é buscar parcerias, ampliar essa rede, buscar articulações com outros órgãos e oportunidades de vendas. Assim, conseguem aumentar o faturamento e cobrir os custos da pessoa jurídica e, a partir do lucro, podem ter as quotas divididas nas suas contas-poupanças. As cooperativas de crédito são dois grandes parceiros, além do Sebrae e da própria Secretaria de Estado de Cultura. A gente consegue com que elas estejam presentes nos eventos. Também temos diversas pessoas que trabalham de maneira voluntária, estilistas, pessoas que atuam no ramo da moda, por exemplo”, comenta Gerson.
O processo de reestruturação da cooperativa inclui técnicas da gestão de negócios para oportunizar a transformação. “Foi permitido criar uma conta no Instagram, para trabalhar o marketing digital e tem sido uma ferramenta de negócios de grande valor, com o aumento de seguidores e parceiros também”, acrescenta Gerson. O perfil pode ser acessado no @coostafe (https://www.instagram.com/coostafe/).
Cassiane da Silva Ferreira, 31 anos, diz que estar na cooperativa lhe deu um novo olhar sobre a vida não só no aspecto profissional. “É uma experiência muito prazerosa. Um aprendizado maravilhoso. Eu nunca tinha imaginado que poderia fazer uma bolsa, uma roupa. Em cada peça, eu faço com todo o carinho do meu coração. É um incentivo tanto para melhorar a qualidade quanto para quando a gente sair desse lugar, em poder montar um negócio próprio. Aqui eu já aprendi de tudo um pouco, a costurar, a bordar, já sabia fazer crochê. Sentando aqui nessa máquina, só penso na minha filha, de um dia fazer um vestido para ela, eu mesma com as minhas próprias mãos, e ela vai sentir orgulho de mim. Só tenho a agradecer”, afirma.
Além da reestruturação, a Coostafe deve ter mais duas células de expansão nos Centros de Recuperação Femininos de Marabá e Santarém, possibilitando que mais 20 mulheres, 10 em cada unidade, possam ter a oportunidade de se associarem à Cooperativa e conseguirem compreender o propósito, para que possam se reintegrar na sociedade de maneira digna e produtiva.
