Capacitação em economia doméstica da Semas contribui com empreendimentos inovadores
Além de auxiliar a manter a boa prática ambiental, iniciativa gera renda e autonomia financeira a mulheres
"Eu tenho a formação de engenheira civil completa e com experiência, porém, no início da pandemia fiquei desempregada. No final do ano, começaram anunciar nas redes sociais que a Usipaz do Icuí-Guajará seria inaugurada. Entre os cursos ofertados tinha o de economia doméstica para reaproveitamento de resíduos sólidos e produção de materiais a partir de coisas que iam para o lixo”. A declaração é de Solange Reis, atualmente empreendedora, ao lembrar do momento em que a sua vida começou a mudar.
Moradora do município de Ananindeua, Região Metropolitana de Belém, que recebeu a Usina da Paz no bairro Icuí, Solange foi uma das 2.154 pessoas que participaram, desde julho de 2019 a março de 2022 das oficinas promovidas pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) que incluem palestras, atividades práticas sobre economia doméstica; o projeto "Semeando a educação ambiental"; a oficina de origamis e a oficina de eco bijuterias. As iniciativas são realizadas por meio da Coordenadoria de Educação Ambiental da Secretaria.
A vontade de ter o próprio negócio e ajudar outras pessoas incentivou a empreendedora a participar do curso “Ela Pode”, que aborda temas sobre empreendedorismo feminino, realizado na Usipaz do Icuí-Guajará. Com o auxílio do conhecimento adquirido, Solange se recolocou no mercado de trabalho com a criação do projeto Empório Verde Mais, que inicialmente vendia somente hortifruti. No final da capacitação, ela quis dedicar-se mais a novos conhecimentos, então matriculou-se em outro curso ofertado na Usina, o de Economia Doméstica.
“Eu aprendi no curso a fazer a compostagem e a produção de sabão a partir do óleo de cozinha usado. Foi muito gratificante porque minha mãe e eu já guardávamos o óleo. Eu não admitia descartar, pois tinha consciência de que o descarte incorreto faz mal para o meio ambiente", conta Solange Reis que, a partir da oficina retomou sua independência financeira.
Economia Doméstica
Técnicas para reaproveitar o óleo usado de cozinha na fabricação de sabão caseiro, compostagem doméstica e confecção de coletores de resíduos são ensinadas no curso. Nas aulas, também é exposto o prejuízo ao meio ambiente causado pelo descarte incorreto de óleo de cozinha, um importante agente de degradação do meio ambiente.
Atualmente, apenas 1% do óleo de cozinha é reciclado e 99% são descartados aleatoriamente. Quando este descarte é feito na pia, a tubulação residencial e a rede pública de esgoto entopem após a sedimentação, causando diversos transtornos e prejuízos. Quando é jogado no solo, o resíduo contamina e o torna impermeável, passando a não absorver totalmente as chuvas, causando enchentes. Além disso, o óleo pode chegar nos lençóis freáticos, poluindo ainda mais o meio ambiente. A atmosfera também é poluída: a decomposição do óleo produz gás metano (CH4), um dos Gases de Efeito Estufa (GEE). Desta forma, retém o calor do sol na troposfera e aumenta o aquecimento global.
Após saber de todos esses danos ao meio ambiente, Solange decidiu recolher o óleo de cozinha utilizado pela sua vizinhança e familiares para produzir sabão. “Tanto que quando postei nas redes sociais que estava coletando óleo, eu enfatizei: você está destruindo o meio ambiente! E agora estou com um estoque de óleo pra produzir o sabão. As pessoas acham normal jogar o óleo no esgoto, eu tento mostrar que esse normal está errado, totalmente contra toda a lei ambiental”.
Solange relata que no começo ela não pretendia vender a produção e que guardava em casa todo o sabão fabricado, mas um incentivo foi fundamental para ela acreditar no seu trabalho.
“As pessoas do TerPaz me incentivaram. Para mim, o grandioso disso tudo já era o fato de não estar jogando o óleo fora, mas para eles era porque havia um produto de qualidade e estava evitando o desperdício e poluição da natureza. Então, lá descobri que não estava só, e sim, ajudando o meio ambiente, as pessoas e a mim. Eu não sabia que as pessoas podiam ter rentabilidade com a reciclagem e hoje, eu vejo isso acontecer na minha vida, através dos meus produtos! O curso fez a gente abrir o olhar para algo maior, que as pessoas deixam ir pelo ralo, ir para o lixo”. Atualmente, o sabão fabricado é vendido na Feira Verde Itinerante da Usipaz da Cabanagem e no seu empreendimento Empório Verde Mais.
Empreendedorismo
O objetivo de Solange agora é multiplicar o curso de produção de sabão para pessoas próximas. Ela pretende inscrever o projeto no Start Up, uma iniciativa do Governo do Estado criada para impulsionar ideias e empresas inovadoras, através de apoio técnico e investimento direto.
“Não creio que isso que eu esteja fazendo vai morrer aqui. Provavelmente voltarei a trabalhar, tenho formação, mas não quero desistir desse caminho que comecei a trilhar e quero colocar outras pessoas para poder continuar essa trilha. Muitas pessoas não só precisam de uma renda extra, mas precisam ter consciência de que tudo o que a gente tá fazendo com o planeta, os nossos filhos e netos vão sentir de uma forma ruim. Por isso eu não vou desistir do sabão”, enfatiza Solange.