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DIA MUNDIAL DO RIM

Campanha alerta para educação da comunidade, profissionais de saúde e formuladores de políticas públicas

Por Leila Cruz (HOL)
10/03/2022 16h06

A operadora de caixa, Welke Reis, notou manchas que surgiram de forma repentina no corpo, os exames constaram infecção urinária e anemia profunda. Ela foi encaminhada ao hematologista devido a suspeita de leucemia, contudo os sintomas alertavam para outra situação: a doença renal crônica (DRC). Essa lesão irreversível dos rins leva a uma redução progressiva da capacidade do órgão filtrar o sangue e eliminar as toxinas do organismo através da urina. Um mal que se desenvolve de forma silenciosa, mas quando instalado repercute  com altas taxas de morbimortalidade, custos para o sistema único de saúde e a perda de qualidade de vida.

Welke Reis_ transplantada do Ophir LoyolaWelke é mais uma de cada dez pessoas no mundo acometidas pela doença que pode vir a ser a 5ª maior causa de morte no mundo até 2040, segundo a estimativa da International Society of Nephrology (ISN). Apesar dos agravos causados à saúde dos pacientes, pouco se conhece sobre DRC. Este ano, a campanha do Dia Mundial do Rim, celebrado nesta quinta-feira(10), faz um alerta para todos os setores: comunidade, profissionais de saúde e formuladores de políticas públicas com o tema “Saúde do Rins Para Todos: educando sobre a doença renal”.

A questão da falta de conhecimento sobre a insuficiência renal aponta para a urgência de investimentos em ações de promoção da prevenção desse agravo. Segundo a chefe do Instituto de Nefrologia do Hospital Ophir Loyola, Silvia Cruz, que é referência em transplantes renais no norte do Brasil, 140 mil pacientes realizam diálise e, possivelmente, mais de dois milhões de pessoas não sabem que têm doença renal no país. Existem três modalidades de terapia renal: a hemodiálise, a diálise peritoneal (realizada por meio de um cateter flexível implantado na barriga) e o transplante. O diagnóstico precoce permite o tratamento adequado e evita a evolução da DRC.

“Nem toda população consegue fazer dois exames que são básicos, urina simples e o creatinina. A campanha alerta sobre a possibilidade da população ser avaliada com esses dois exames a fim de se fazer um diagnóstico precoce. E, quanto mais antecipado, melhor a chance de conseguirmos postergar essa doença, para que o paciente não chegue até uma diálise, até um transplante. Por ser silenciosa, algumas vezes, precisa de exames de laboratório para se fechar o diagnóstico”, afirma.

Silvia Cruz - chefe do instituto de Nefrologia do HOLSilvia é médica transplantadora do HOL, instituição que desde 1999  até o momento realizou 700 transplantes renais. Mas é enfática ao dizer que o ideal é prevenir ou identificar  a insuficiência renal o quanto antes. “Quando o rim perde a funcionalidade, ocasiona mudanças drásticas em todos os aspectos para esse enfermo, afetando a vida profissional, familiar e social. É necessário educar todos os atores envolvidos para que não seja necessário a realização de um transplante, nem todos têm essa possibilidade, e o tratamento não é fácil”, ressalta.

As perdas emocionais e físicas foram vivenciadas por Welke. Tudo mudou, o trabalho deu lugar a um auxílio-doença e mal pôde acompanhar o crescimento do filho que, à época do diagnóstico, tinha apenas cinco anos. Isso tudo por depender da terapia dialítica para continuar viva, uma máquina necessária à manutenção da vida passou a substituir programações do dia a dia.

“Eu costumava trabalhar todos os dias, aí de repente comecei a ficar em casa, indo para hemodiálise três vezes na semana. A minha vida mudou completamente, alimentação, não conseguir sair porque no outro dia tem tratamento. Sem falar na sede, bebia ‘três dedos’ de água e só,  senão a gente fica inchada, né?. Fazia quatro horas, três dias, sempre às terças, quintas e sábados. Aí, final de semana… pensa… Agora estou no pós-operatório, mas só de pensar em não voltar para aquela máquina e ser furada, fico feliz. agora é cuidar bem do que vale ouro”, afirma.

Cuidados devem iniciar na atenção primária

Os principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença renal crônica já foram definidos pela medicina. Diabetes, hipertensão, obesidade, tabagismo e uso indiscriminado de anti-inflamatório fazem com que o rim adoeça. A alimentação balanceada e a ingestão adequada de água, o, equivalente de 2 a 2,5 l de água por dia para uma pessoa de 70 quilos são hábitos saudáveis que ajudam a manter-se saudável.  A educação ganhou ênfase com campanha mundial,  é a premissa para que se evite a fase terminal da DRC, ressalta a  nefrologista Márcia Rodrigues, responsável técnica pelo Serviço de hemodiálise do Hospital Ophir Loyola.

A especialista orienta que cada cidadão passe a solicitar que o médico nas Unidades Básicas de Saúde avaliem a saúde do rim. "Nós precisamos criar uma cultura na população em geral de cuidado da saúde renal. Exames laboratoriais simples  e baratos  conseguem acompanhar a função do rim. E, caso esteja alterado, o paciente deve ser referenciado a um nefrologista. Então, quando a pessoa passar por uma consulta, questione ‘doutor, como está o meu rim?’, fazê-lo lembrar da importância da avaliação da função renal”, afirma a  nefrologista.

Márcia Rodrigues - responsável técnica pela hemodiálise HOLMárcia Rodrigues ressalta que qualquer profissional dos postos de saúde pode fazer a triagem de pacientes diabéticos e hipertensos, doenças que mais levam à insuficiência renal. “O Dia Mundial do rim vem para trazer a educação necessária, incentivar a população a perguntar e questionar o médico de qualquer especialidade, educar profissionais de saúde para solicitar os exames de creatinina ou exame de urina de rotina para ver se tem perda de proteína na urina, que já é um indício de doença renal. As origens genéticas não temos como mudar, mas podemos controlar as principais doenças que acometem o rim”, destaca.

Ela destaca ainda o papel dos formuladores de políticas públicas para que promovam ações voltadas a uma prevenção mais efetiva. “A doença renal é uma epidemia, é algo que realmente impacta financeiramente no Sistema Único de Saúde e na vida dos pacientes.  A Sociedade de Nefrologia traz esse dia com a intenção de fazer lembrar da importância de avaliar esses órgãos, de se fazer saúde pública voltada para doença renal, lembrar os profissionais da saúde da família de triar pacientes, submetê-los a exames e encaminhá-los ao atendimento especializado”, ressalta.

Serviço: O Centro de Hemodiálise do HOL possui 21 máquinas reservadas a pacientes oncológicos ambulatoriais e internados que desenvolveram alterações sistêmicas que prejudicam os rins devido ao câncer,  os quais adoeceram temporariamente ou de forma definitiva. Mas por ser referência em transplantes, oferta ambulatórios no pré e pós-transplantes, encaminhados via sistema de regulação.

Texto: Leila Cruz- Ascom Ophir Loyola