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Continuidade dos estudos e ensinamentos para a vida: conheça o Projeto Classe Hospitalar

Por Redação - Agência PA (SECOM)
08/11/2018 00h00

A pequena R.S., de 10 anos, poderia estar nervosa na manhã da última quarta-feira (7), afinal, no dia seguinte, ela seria submetida a uma cirurgia no coração, no Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Vianna (FHCGV), em Belém, referência nos tratamentos cardíacos no Pará. Mas, mesmo internada no local há dois meses, a menina, vinda do município de Santa Bárbara do Pará, se distrai diariamente nas aulas oferecidas pela “tia Janise”.

“O que eu mais gosto daqui são das aulas de matemática e de fazer novos colegas, porque assim eu mato um pouco a saudade da minha escola”, disse a menina. R.S. que é uma dos seis alunos do FHCGV atendidos pelo programa Classe Hospitalar.

A Classe Hospitalar é uma ação inclusiva que garante o acesso à educação de crianças que estão impossibilitadas de frequentar regularmente a escola por estarem realizando tratamentos de saúde com internação hospitalar. O projeto, que é da Secretaria de Educação do Pará (Seduc) existe há 15 anos e conta com uma equipe de 30 professores que atendem em cinco hospitais, em um abrigo e em uma casa de apoio na capital paraense.

O projeto atende em média ao mês, 600 alunos em todos os espaços. Além dos professores, a equipe conta com uma coordenadora, uma técnica pedagógica, um assistente administrativo, uma psicóloga, uma assistente social e uma fonoaudióloga.

Cada um dos sete espaços inclusos no projeto possui de cinco a seis professores, que atendem de segunda à sexta, de manha e à tarde, em todas as modalidades de ensino e em todas as disciplinas. O cronograma de aulas é individual e montado em função das necessidades educacionais de cada aluno e do tempo de tratamento.

Para a criança ter acesso às aulas, basta os pais mostrarem interesse e o médico responsável pelo tratamento liberar o atendimento educacional. Quando o paciente precisa de um longo tempo de internação, a matrícula escolar dele é transferida para a Escola Estadual Barão do Rio Branco, na qual funciona a coordenadoria do Classe Hospitalar. No final do ano ou período escolar, é emitida toda a documentação como boletins e certificados de conclusão de série.

Amor também se ensina - Na FHCGV, a pequena R.S. divide as aulas com mais cinco crianças, de 3 a 12 anos, internadas no hospital. A sala de aula, que fica em um dos ambientes hospitalares, acaba indo além das disciplinas escolares e se torna um local de acolhimento. “É muito gratificante oferecer a perspectiva para essas crianças de continuar as aulas mesmo em um ambiente hospitalar. A gente devolve um pouco do que é a vida lá fora. E aqui eles trazem tudo pra gente, o medo de fazer cirurgia, a saudade de casa... Às vezes tenho que mudar meu cronograma de aulas para ouvir os relatos das crianças e levar todo o apoio para elas”, destaca a professora Vanise Cavalcante, 37 anos.

Mesmo as crianças que não estão internadas no hospital, quando vêm ao FHCGV para exames e consultas, têm a chance de participar das atividades lúdicas como pintura e recreação oferecidas pelo Projeto. “É muito bom, minha filha sente falta e até pede para vir para cá quando não é dia de consultas. Favorece o desenvolvimento social dela, que se solta mais com as crianças daqui. Acredito que isso ajuda na recuperação”, disse a doméstica Lidiane Silva, mãe de Stephanie, de 11 anos, operada há oito anos e que hoje permanece em tratamento no Hospital de Clínicas Gaspar Vianna.

“Ao longo desses 15 anos do Classe Hospitalar, o maior ganho que a gente teve é saber que essa criança, adolescente ou adulto, atendido pelo Programa,  não perde seu tempo escolar. A nossa finalidade é oferecer essa escolarização adequada durante o tempo de internação. Além de garantir esse objetivo, ainda temos experiências humanas muito ricas proporcionando essa esperança de futuro para os alunos”, disse Fernanda Costa, coordenadora do projeto.

Depois de uma portaria que deve ser emitida pela Seduc no final de novembro, o Projeto será ampliado, alcançando inicialmente os municípios de Santarém, Conceição do Araguaia e Marabá. “Vamos montar a equipe em hospitais, que ainda iremos escolher nesses municípios. Depois vamos firmar acordo com as prefeituras locais, assim como já acontece nas parcerias que firmamos com os hospitais e espaços de apoio em Belém”, pontuou a coordenadora.

Saiba os hospitais do Pará que possuem o Classe Hospitalar:

- Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência

- Hospital Universitário João de Barros Barreto

- Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo

- Hospital de Clínicas Gaspar Viana

-Santa Casa de Misericórdia

Abrigo João Paulo II e Casa de Apoio Espaço Acolher.

Sonhos fomentados em casa - Junto com a Classe Hospitalar, existe também o projeto Atendimento Domiciliar que, hoje, atende 13 pacientes que se encontram em tratamento em casa, mas não estão liberados para frequentar a escola. Os alunos estão matriculados na Educação Infantil, Fundamental I e II, além do Ensino Médio.

Um dos maiores orgulhos da equipe de educadores da Seduc é Breno Santiago, de 21 anos. Aos dois anos, Breno teve uma infecção na medula e chegou a ser desenganado pelos médicos, mas resistiu e mesmo com comprometimentos na parte física e na fala, teve sua capacidade cognitiva preservada. Ele aprendeu a ler e a escrever com uma equipe de oito professores do Atendimento Domiciliar, e hoje se prepara para fazer a segunda prova do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), que acontece no próximo domingo (11).

“Meu filho quer cursar jornalismo e escrever sobre política. E esse sonho só foi possível graças à equipe de professores do Atendimento Domiciliar. Ele estuda diariamente, de manhã e à tarde, com as professoras se revezando aqui em casa. A alegria dele esperando pelas aulas me deixa muito feliz”, relata a mãe de Breno, a dona de casa Maria de Nazaré Santiago, 49 anos.

“Breno teve uma pontuação muito boa na redação no ano passado e tenho muita esperança que ele possa passar, com sua inteligência privilegiada. Me sinto muito feliz por fazer parte desse processo de desenvolvimento das capacidades dele”, disse a professora de geografia do jovem, Ana Cristina Albuquerque, que acompanha Breno há sete anos.