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"JANEIRO BRANCO"

Saúde mental dos pacientes oncológicos é uma das prioridades para profissionais do Hospital Ophir Loyola

Somente no último mês de dezembro de 2021 foram realizados cerca de 4.300 atendimentos psicológicos a pacientes e familiares

Por Leila Cruz (HOL)
06/01/2022 13h36

Psicóloga do HOL faz a escuta terapêutica da paciente Maria das GraçasUm nódulo no lado esquerdo do rosto e confirmado como câncer afetou a autoimagem e autoestima de Maria das Graças, 68 anos. A notícia deixou a idosa muito abalada emocionalmente e mudou de forma drástica a vida que levava no sítio onde reside, localizado no município de Capitão Poço. Acostumada à rotina de acordar cedo, checar a plantação e cuidar dos afazeres domésticos, teve de substituir tudo o que priorizava por consultas, exames e aplicações de radioterapia.

Ao total, foram dois meses e um dia internada no Hospital Ophir Loyola (HOL), um cenário diferente do qual estava habituada. A saudade do lar e das coisas que ficaram para trás era constante. Mas a atuação da psicóloga fez a diferença na estada dela e dos familiares que revezavam entre si no ambiente hospitalar. “Eu me apeguei à fé. Um dia chorei muito, mas a doutora Luana veio e conversou comigo e conseguiu me acalmar”, informou a idosa, que recebeu alta hospitalar ontem (05) e dará seguimento ao atendimento ambulatorial.

Luana Fernandes é uma dos 29 psicólogos que prestam assistência humanizada aos pacientes e acompanhantes no ambulatório e clínicas de internação do HOL. Uma atuação profissional que exige preparo para lidar com situações limite vivenciadas pelos enfermos durante o processo de adoecimento que gera mudanças na vida familiar, profissional e social. 

“O câncer causa várias perdas. Aqueles que residem em municípios mais distantes acabam perdendo para além da saúde,  o convívio familiar, a rotina de trabalho. É uma enfermidade que atinge o corpo e a mente deles, portanto, necessitam de atenção especializada psicológica, social e espiritual para além do controle da dor física. Também é comum o surgimento de conflitos familiares, então, buscamos fornecer um suporte afetivo e familiar para o paciente”, informa a psicóloga.

Apoio

A intervenção da equipe de psicologia inicia logo após a primeira consulta do paciente no Centro de Alta Complexidade de Oncologia, momento em que ele recebe a confirmação do câncer, um impacto na esfera psíquica e que pode afetar a saúde mental até mesmo em outros estágios do tratamento. Somente no último mês de dezembro foram realizados cerca de 4.300 atendimentos psicológicos.

A neta Glenda de Fátima também recebeu assistência da equipe de psicologia do hospital“A doença ainda é muito associada à morte pela população, então, receber o diagnóstico causa uma demanda emocional muito intensa. Alguns pacientes ainda chegam aqui com a esperança de não ter câncer ou não aceitam a condição, por isso o acolhimento da psicologia é indispensável. A tristeza, a depressão, incertezas e conflitos familiares são situações comuns. Em vista disso, auxiliamos no enfrentamento e na criação de estratégias de autocuidado para que os enfermos consigam regular o emocional e manter a saúde mental”, explica a psicóloga Luana Fernandes.

Ela atua na Clínica de Cuidados Paliativos Oncológicos (CCPO) e esclarece que o psicólogo vai até o paciente, independente de solicitação médica, mas que a atenção também é direcionada ao acompanhante. “Assim como o enfermo, o cuidador também é ouvido durante esse momento delicado, porque também tinha uma vida, uma história antes de entrar aqui”, informa.

É o caso de Glenda de Fátima, de 19 anos, neta da Dona Maria das Graças, a quem considera como mãe. A  jovem faz faculdade de enfermagem a distância, mas deixou os estudos de lado para acompanhar a avó e não conseguir se concentrar devido à preocupação. “Eu tentava ser forte, mas  às vezes não conseguia. Sofro de ansiedade e, vê-la assim, descontrolou tudo, até o meu cabelo começou a cair. O atendimento psicológico me deu uma base para suportar tudo isso, ajudou a segurar a fase mais difícil. Ter alguém que entenda a nossa dor é uma luz no fim do túnel”, declara.

Barreiras

Alguns se recusam a receber o atendimento psicológico devido ao estigma social relacionado à saúde mental. Mas os profissionais da área alertam que se trata de um cuidado primordial ao bem-estar e à qualidade de vida.

“É um instrumento de transformação pessoal do sujeito para que cada um consiga lidar com as emoções. A resistência é a primeira barreira que precisamos quebrar enquanto profissionais. Pedimos licença para adentrar o mundo do outro. Não é tão simples, requer cautela para não ser  invasivo, ganhar a confiança  para desmistificar  esse tabu, então eles permitem que o acompanhamento aconteça”, assegura.

Luana Fernandes também  alerta que a campanha  Janeiro Branco é um meio de incentivar a busca pela ajuda especializada. “As pessoas ainda evitam falar sobre a questão da saúde mental, não buscam auxílio por se sentirem pressionadas pela sociedade. Quando resolvem procurar um profissional, o sofrimento já se encontra intenso. Porém, o cuidado com a nossa saúde mental deve ocorrer durante todo o ano para uma uma vida mais equilibrada e saudável”, pondera.


Texto: Leila Cruz/Ascom Ophir Loyola