Cultura da pajelança no arquipélago do Marajó é resgatada em biografia lançada pela editora da Ioepa
O lançamento da biografia “Pajé Zé Piranha” – Histórias de cura e encantaria no Marajó”, de Max Silva do Espírito Santo e Ailton Silva Favacho, foi um dos momentos marcantes no último dia de atividades no estande da Imprensa Oficial do Estado do Pará (Ioepa), no domingo (05), durante a realização da 24ª Feira Pan-Amazônica do Livro, na Arena Guilherme Paraense, o Mangueirinho. Os autores Max Silva do Espírito Santo e Ailton Silva Favacho autografaram os exemplares impressos pela Editora Pública Dalcídio Jurandir Ioepa, em uma concorrida tarde de autógrafos no estande da Ioepa.
Sessão de autógrafos do livroO professor e neto do pajé Zé Piranha, Max Espírito Santo, contou que tinha 14 anos quando o avô morreu e que ainda não entendia a importância da missão do pajé. Apenas quando se tornou professor ele entendeu o legado do avô e percebeu que tinha uma missão e uma obrigação em resgatar a memória do pajé. “Eu tinha uma obrigação em divulgar o trabalho do meu avô para que as pessoas não se esquecessem completamente dele e para que outros conhecessem tudo o que ele fez”, disse Max do espírito Santo.
Ele ressaltou ainda a parceria com Ailton Favacho na feitura do livro. “Sem ele essa obra não teria sido feita”, disse Max. Ailton Favacho informou que o livro possui 19 narrativas contadas por 35 pessoas que tiveram contato com a pajelança de Zé Piranha. “Os relatos muitas vezes dão conta de que várias pessoas estavam desenganadas pelos médicos, mas que foram salvas pelo pajé Zé Piranha”, relatou Favacho.
Ailton Silva Favacho e Max O livro foi um dos sucessos de venda da editora mesmo antes do lançamento na Feira do Livro devido ao interesse despertado na população marajoara. A obra já teve um lançamento no arquipélago do Marajó e terá ainda outros dois lançamentos: mais um no Marajó, no próximo dia 18 de dezembro; e outro na cidade de Macapá, capital do Amapá, em janeiro de 2022.
Magia e religiosidade - Para Jorge Panzera, presidente da Ioepa, as páginas da obra estão cheias de magia e religiosidade acerca da pajelança marajoara. “A cultura da pajelança no arquipélago do Marajó é resgatada nesta obra, que traz as histórias das 21 pessoas que tiveram contato em vida com o pajé Zé Piranha. Elas revelam o cotidiano desse homem, falam das manifestações espirituais, visões e curas feitas pelo pajé nascido no arquipélago marajoara. A Ioepa mais uma vez reafirma seu papel de apoio, fomento e divulgação da literatura e da cultura paraense”, avaliou.
José do Espírito Santo, o Zé Piranha, nasceu em 15 de junho de 1921, na Fazenda São José, em Mangueiras, um quilombo em Salvaterra e faleceu em 29 de maio de 1999, aos 78 anos. Aos sete anos de idade, quando morava no quilombo Mucura, já sentia muitos desmaios, o que indicava os primeiros sinais do dom da pajelança. Mais velho e já muito incomodado com a presença cada vez maior da pajelança na sua vida, decidiu que iria morar em Soure por acreditar que naquela cidade a polícia iria “prender” os guias (encantados) que o acompanhavam.
O trabalho de construção das memórias do pajé Zé Piranha teve início em setembro de 2019, quando o professor Max Silva do Espírito Santo decidiu escrever o livro. Todas as pesquisas e entrevistas foram divididas com o escritor Ailton Silva Favacho, responsável também pelas apresentações dos personagens na literatura de cordel, que enriquecem a história de vida do pajé Zé Piranha. “Nós, da Ioepa, temos a satisfação de participado do processo de criação dessa história e mostrar ao mundo o valor de uma pessoa como Zé Piranha”, avaliou Moisés Alves, editor e coordenador da editora da Ioepa. Moisés Alves ressaltou que o livro foi um dos sucessos de venda da Feira do Livro deste ano.
Texto: Ailson Braga