Realidade virtual reduz em 30% custos de internação no Hospital Público Galileu
Projeto com o uso de óculos 3D é aplicado em pacientes de traumas e com sequelas da covid-19, ajuda a relaxar e, em alguns casos, até elimina a dor
Paciente do Hospital Público Galileu, em Belém, faz sessão de fisioterapia com recurso da tecnologia da Realidade Virtual (RV)Do leito de um hospital aos cenários mais paradisíacos do mundo. É assim que os pacientes do Hospital Público Estadual Galileu (HPEG), localizado na Grande Belém, fazem as sessões de fisioterapia para o tratamento de diversos traumas, inclusive, para pessoas com sequelas da covid-19. A terapia é aplicada com o recurso da tecnologia da Realidade Virtual (RV), que teletransporta os usuários do leito, às belas praias, caminhadas em florestas tropicais ou até mesmo, para um passeio num dos cartões postais mais conhecidos do Globo, como a torre Eiffel, em Paris. E tudo isso, por meio de óculos 3D.
A ferramenta inovadora usada no Galileu, hospital de referência de traumas do Governo do Estado do Pará, traz uma redução de até 30% nos custos hospitalares, além da maior adesão do tratamento ao paciente. A tecnologia que passou a ser usada desde julho deste ano na unidade, possibilita a reabilitação de pessoas com distúrbios do movimento e do equilíbrio postural. “O tratamento com a realidade virtual iniciou há 4 meses, após o hospital finalizar os atendimentos dos pacientes com a covid-19. O objetivo deste incremento no tratamento é a adesão maior dos pacientes para a fisioterapia e a diminuição da percepção de dor nas pessoas com algum tipo de sequela”, explicou Alexandre Reis, diretor executivo do Hospital Público Estadual Galileu.
Atualmente, cerca de 15 pessoas fazem o tratamento com o recurso da tecnologia na unidade, sendo que esta demanda é de acordo com o número de pacientes internados na instituição com indicação para a reabilitação do recurso. “O projeto é de baixo custo e além disso, reduz em até 30% o tempo de internação da pessoa na unidade, consequentemente, a queda no mesmo percentual no custo da internação hospitalar, com um ganho imensurável na recuperação dos pacientes”, observou o gestor.
A tecnologia da Realidade Virtual (RV) ajuda o cérebro a reconectar as áreas de estímulo, promovendo relaxamento no paciente Tratamento - O autônomo Jorge Nazareno, de 66 anos, nunca pensou em conhecer as paradisíacas praias das águas do Lago Michigan, em Chicago, nos Estados Unidos, e menos ainda, durante uma internação hospitalar. “Nossa, nunca pensei em conhecer um lugar tão bonito através de óculos e numa cama de hospital”, brincou. “Usar esses óculos me levaram a passear na beira da praia e sair dessa cama sem dar um passo. Isso é incrível”, disse.
O paciente está na unidade há um mês, tratando um trauma na perna direita. Ele caiu da motocicleta e fraturou o membro. Antes do acidente, Jorge leva uma rotina bastante agitada e não vê a hora de seguir a vida novamente. “Sinto muita dor e fazer a fisioterapia normal, é ainda mais dolorido, já que não há nada para distrair. Isso é muito importante para ser falado, já que, não sabemos se um hospital particular, eu teria tantos recursos. O Governo está de parabéns!”, agradeceu o autônomo.
Quem também está se dedicando para voltar mais rápido para casa, é a autônoma Luciene Santos, de 26 anos. Ela, assim como o seu Jorge, caiu de motocicleta e fraturou a perna. “Foi muito dolorido e tem sido esses dias aqui. Mas sei da importância da fisioterapia. Estar fazendo o tratamento, como se eu tivesse em Paris, é o melhor que eu poderia querer”, sorriu. “Estou aqui há dez dias, e já estou com alta médica prevista, vou me dedicar mais, pedalar mais, fazer tudo certinho pra eu sair mais rápido possível”, comemorou.
Recuperação - A Realidade Virtual (RV) é um ambiente — gerado por meio de um computador — com cenas e objetos que parecem reais, fazendo com que os usuários se sintam imersos nessa realidade, de fato, durante o uso do recurso tecnológico. Esse ambiente é percebido através de óculos com a tecnologia 3D.
O fisioterapeuta Paulo Vitor da Nóbrega, responsável técnico do serviço de fisioterapia do Galileu, garante que o método mostrou uma significativa adesão ao tratamento dos pacientes, além da melhora do quadro clínico destes. “Todos os pacientes são elegíveis para realizar exercícios fisioterapêuticos com os óculos de realidade virtual desde que não apresentem lesões em face que impossibilite de utilizar os óculos de realidade virtual e que apresentem nível de consciência satisfatório”, detalhou.
Na unidade, até pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), já tiveram a oportunidade de aderir ao tratamento. “O método é uma ferramenta que diferencia a fisioterapia tradicional. Por isso, ele pode ser usado no tratamento de diversas patologias, desde que o paciente esteja orientado. Mesmo em casos de fraturas graves, as chances de recuperação total aumentam após a fisioterapia”, finaliza o especialista.
Projeto - O recurso da realidade virtual está acoplado ao Projeto de Gameterapia, usado desde 2015 no Galileu, que é um hospital público administrado pelo Instituto Social e Ambiental da Amazônia- ISSAA, em conjunto com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).
Para o secretário de Saúde do Pará, Rômulo Rodovalho, a inclusão de mecanismos de entretenimento na medicina moderna é um caminho cercado de propostas de crescimento. “A ferramenta, sem dúvida, traz um crescimento promissor para a saúde pública. Além de reduzir custos com tempo de hospitalização, ele tem como principal finalidade, ampliar o envolvimento dos pacientes e ajudar na recuperação mais rápida e menos dolorosa”, destacou o titular da pasta.
*Texto de Roberta Paraense