Hospital Regional Público do Leste encerra atendimento a pacientes com Covid-19
Unidade foi referência para tratamento da doença, designada pela Secretaria de Estado de Saúde (Sespa), desde abril de 2020, atendendo 515 pessoas
“Iniciamos nossas internações em abril do ano de 2020, e foram dias difíceis, pois tudo era muito novo não tínhamos protocolos de tratamento, iniciamos tratamento baseado em sinais e sintomas, com a experiência prévia de doenças virais respiratórias. Eram pacientes graves, muito graves, psicologicamente e emocionalmente, não estávamos preparados para perder pacientes, que por causa da gravidade dos casos, poderiam evoluir a óbito. O medo de contaminação e de óbito era muito grande, e entre os profissionais de saúde, tivemos perdas em nossas fileiras, o que aumentava a dor e o medo”.
O relato do médico intensivista, plantonista e coordenador da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Regional Público do Leste (HRPL), Everaldo Marques de Oliveira Júnior, evidencia a luta no enfrentamento da Covid-19, pela equipe do HRPL, desde quando a pandemia iniciou, em março de 2020, no Pará.
A Unidade foi designada pelo governo do Estado, por meio da Sespa, para assumir o perfil assistencial a usuários com Covid-19 em abril do ano de 2020, até agosto deste ano de 2021. Nesse período, 515 pacientes foram admitidos no hospital para serem assistidos na UTI e na unidade de Internação da instituição. Destes, a equipe multiprofissional do Hospital teve êxito em 65% das internações, equivalente a 335 pacientes que tiveram suas vidas salvas.
De acordo com Everaldo Júnior, a equipe multiprofissional, formada por médicos, enfermeiros, psicólogos, terapeuta ocupacional, assistente social, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, nutricionistas e fonoaudiólogos, teve que se desdobrar em um esforço quase sobre-humano, para que o hospital pudesse atender com qualidade tantos usuários infectados pelo coronavírus; a maioria, graves.
Médico Everaldo MarquesAinda conforme relatou o intensivista, muitos profissionais médicos desistiram do trabalho por conta do risco de contaminação e da falta de tratamento preconizado pelas autoridades de Saúde no tratamento da Covid-19.
Sobre o êxito de 65% de vidas salvas, o médico atribui as vitórias à expertise e união da equipe multiprofissional, alinhada às pesquisas e experimentações de tratamentos com sucesso na sobrevivência de pacientes infectados pelo coronavírus.
“Em pleno século XXI, um diminuto vírus, flagelando o mundo inteiro e expondo nossas fragilidades como ser humano, mas nada era capaz de desanimar os que decidiram na batalha contra a Covid-19. Com 30 a 40 dias antes de protocolarem a dexametasona como eficaz no tratamento, já estávamos usando-a em nosso protocolo, e dia a dia, plantão a plantão começamos a ter uma resposta positiva com nossos pacientes, tivemos paciente que ficou internado em nosso hospital por até 100 dias, e hoje se tornaram nossos amigos e estão no seio de suas famílias, este fato reconforta nosso coração", relatou o intensivista.
O coordenador Assistencial do HRPL, Ederson Brito, foi um dos colaboradores da unidade que foi infectado pelo coronavírus no período em que o Hospital enfrentava uma das fases mais intensas da pandemia. O enfermeiro ficou internado 16 dias, destes, 10 esteve lutando contra a doença na UTI. Ederson vivenciou a pandemia da covid-19, nos dois lados, da assistência e entre os assistidos, mas, e saiu vitorioso e grato por ter a vida salva com a atuação de seus colegas de trabalho da equipe multiprofissional.
"Primeiro, agradeço a Deus por ter me dado mais uma chance e ter me dado forças para lutar. Digo a vocês, meus colegas, que quando estamos do lado de cá, enquanto profissionais, nós procuramos sempre em prestar a melhor assistência possível para nossos pacientes. Entendemos e compartilhamos da dor do outro, do sofrimento e do medo. Não esperamos passar para o outro lado. Mas, quando nos tornamos pacientes e estamos longe de casa, é bom receber palavras de apoio de quem está ao nosso redor. Vocês foram família para mim que estava longe da minha, vocês fizeram tudo e digo tudo que estava ao alcance de vocês para que esse dia chegasse. Por isso, agradeço por cada um: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogo, técnicos de enfermagem, auxiliares de limpeza, auxiliares de farmácia, farmacêuticos, biomédicos, nutricionistas, pessoal da cozinha, psicólogos, assistentes sociais, recepcionais, pessoal da portaria, enfim, todos", reconheceu o enfermeiro.
Atualmente, o HRPL não é mais referência no tratamento da Covid-19, e desde o mês agosto nenhum usuário foi admitido no hospital para tratamento contra a Covid-19. A unidade hospitalar voltou a ser referência para média e alta complexidade para 23 municípios, com várias especialidades médicas disponíveis para mais de 900 mil habitantes, que dependem de assistência de alta complexidade em trauma, cirurgia geral e neurocirurgia. Além disso, o HRPL possui reconhecida atuação na linha do cuidado aos usuários acometidos por Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Diretor assistencial Clóvis GusePara o diretor Assistencial do HRPL, Clóvis Guse, o fato de o HRPL ter sido escolhido pra ser um dos hospitais públicos do governo do estado referência para o atendimento da Covid-19, foi um motivo de muito orgulho. "Tivemos uma experiência ímpar. Partimos do desconhecido, pois não sabíamos o impacto da pandemia, e com uma boa gestão e comprometimento de todos os colaboradores, médicos, terceiros e fornecedores, enfrentamos as adversidades e o saldo final foi um sucesso. Salvamos muitas vidas, centenas de usuários presenciaram as nossas lutas. Vivemos juntos essas lutas, o medo, as frustrações, mas houve muito mais o sucesso e as vitórias. A pandemia veio fortalecer os laços entre o HRPL e a população, que juntos podemos fazer acontecer um sistema de saúde único, acessível, igualitário, universal para todos especialmente com qualidade, humanizado e de excelência na assistência", ressaltou o diretor Assistencial.
"Tenho certeza absoluta que cumprimos nosso papel perante a sociedade, na atuação junto ao enfrentamento da Covid-19 e dentro do nosso perfil. Muita coisa mudou depois da Covid-19 em relação a protocolos, tratamento tanto medico quanto fisioterapia e ventilação mecânica, por exemplo. Aprendemos muito com a Covid-19. O mundo conseguiu dar uma resposta nunca vista perante uma pandemia. Demonstrou que a união faz a força, que a multiprofissionalidade é a melhor das condutas em um quadro clínico tão complexo. Gostaria de deixar meus agradecimentos a todos os profissionais que estiveram nessa luta na UTI, mas quero estender a todo hospital, aos que colaboraram diretamente ou indiretamente, como retaguarda, citei anteriormente “a união faz a força “, e um time só tem resultado positivo, quando todos participam. Meu muitíssimo obrigado a todos", finaliza o intensivista, Everaldo Marques de oliveira Júnior.
*Texto de Joelza Silva (Ascom HJB).