Em um palácio, tesouros de Belém
Belém tem testemunhas de sua trajetória de 401 anos. Erguido em seu coração, de frente para o rio Guamá, apresenta-se, imponente como a própria história da cidade, o Palácio Lauro Sodré, que comporta atualmente o Museu do Estado do Pará (MEP). Em seus cômodos habitam registros das marcas do Estado: é uma joia da capital, palco de episódios cruciais para esta terra. Como um presente diário, as portas seculares do MEP estão abertas a quem quiser recordar o cenário que abrigou os rumos da Cidade das Mangueiras.
Com traços neoclássicos desenhados pelo arquiteto bolonhês Antônio Landi, o museu guarda relíquias únicas de períodos que formaram a identidade do povo cabano. Desde o Brasil colônia, passando pelo Império e até a formação da República, os corredores, salões e jardins do MEP contam como o Pará foi formado. São armas, móveis, pinturas, porcelanas, fotografias, acessórios: partes de um rico acervo que merecia ser tocado por todos.
Casario de todos
Palco de batalhas, intrigas políticas e decisões fundamentais para o Estado, a obra que foi erguida para abrigar o palácio de governo, em 1751, hoje é de domínio público. “O MEP é o palácio do povo cabano. Aqui há a documentação da identidade do Pará, ao alcance de qualquer pessoa que queira visita-lo. Por ser um palácio luxuoso, a população acha que não pode vivenciá-lo. Mas não é nada disso. Ele está sempre de portas abertas para receber quem quer que seja”, defende Haroldo Tuma, que atua como educador museal do MEP há nove anos.
Duas imagens, em especial, mereciam ser conhecidas um dia, frente a frente, por todos os paraenses. A tela “A Fundação da Cidade de Nossa Senhora de Belém do Pará”, de Theodoro Braga, feita em 1908, é uma das principais pinturas abrigadas hoje pelo museu.
Ela foi produzida de maneira peculiar: após pesquisas realizadas na Europa, o pintor narrou, em uma imagem, o encontro entre portugueses e índios no primeiro passo para a formação da cultura do povo paraense.
Mas a obra preferida do público do MEP é a pintura que retrata a conquista do Rio Amazonas, por Pedro Teixeira. Foi feita por Antônio Parreiras, em 1907, e demorou quatro anos para ser concluída. “Ela encanta a todos pelo seu detalhismo, dimensão e nobreza”, detalha Tuma sobre o quadro: uma tela de oito metros de largura por quatro metros de altura, com moldura revestida com pó de ouro. Pesando uma tonelada, a imagem rouba inevitavelmente para si todos os olhares dos que adentram o cômodo do Palácio Lauro Sodré onde ela se encontra.
Um museu aberto
E apesar de guardar um farto material histórico, o Museu do Estado do Pará se movimenta, interage com Belém. O Grupo Quorum é um dos que levam música ao MEP. Com ensaios abertos ao público sempre às manhãs de sábado, na Sala de Artes do palácio, a orquestra se destaca por arranjos inovadores para músicas populares de diversos gêneros.
E a dinâmica deste guardião das narrativas e dos testemunhos materiais e imateriais da trajetória de Belém é, obviamente, algo muito maior que as instituições ou os relatos oficiais podem conter ou comportar. Das suas janelas imponentes, de cada peça boleada das escadarias, do ar silencioso que preenche pés-direitos e recantos, voam, brotam e saltam também histórias inusitadas que despertam a curiosidade, risos e até calafrios de visitantes.
“Dizem que o fantasma de um cabano assassinado aqui vaga pelo museu”, diverte-se o educador museal Haroldo Tuma. “Ele foi morto quando um grupo tentou invadir o palácio. Há seis anos, um guarda pediu demissão porque jura de pé junto que foi atacado pelo espírito desse homem”, conta.
A velha prisão do Palácio Lauro Sodré também impressiona. “Dá para sentir a atmosfera sombria do lugar. É um dos locais que mais desperta o interesse das pessoas durante a visitação, por tudo o que lá aconteceu”, revela.
Serviço - O Museu do Estado do Pará (MEP) fica entre as ruas Coronel Fontoura e Dona Tomázia Perdigão, em frente à Praça Dom Pedro II, no bairro da Cidade Velha. Ele está aberto à visitação de terças a sextas, sempre de 10h às 16h. Nos fins de semana, as visitas podem ser feitas de 9h às 13h. Grupos podem agendar visitas monitoradas pelo número 4009 8805 ou pelo e-mail [email protected].
O Sistema Integrado de Museus e Memoriais (SIM) reúne todos os espaços expositivos vinculados à Secult-PA. Ele sistema garante que às terças-feiras, todos os espaços tenham entrada gratuita. Crianças até 7 anos, maiores de 60 anos e portadores de necessidades especiais com acompanhante também não pagam nos demais dias. Grupos agendados de instituições de educação formal e não formal também não pagam.
Programações
Durante janeiro, mês de aniversário de Belém, os museus da capital terão programações especiais. Confira um resumo dessas atrações:
Espaço Cultural Casa das Onze Janelas (Cojan)
- Praça Frei Caetano Brandão, s/n (Cidade Velha)
- Referência em arte contemporânea para o Norte e o Nordeste.
- Contato: [email protected]
Exposições:
-Traços e transições – Arte contemporânea brasileira. Sala Ruy Meira. Aberta até 29 de Janeiro, de terça a sexta, das 10h às 16h; sábado, domingo e feriados, das 9h às 13h.
- Imêmores (docs), de Alberto Bitar. Aberta até 29 de janeiro, de terça a sexta, das 10h às 16h; sábado, domingo e feriados, das 9h às 13h.
- Posseidon é cabra, abelha e o movimento dos barcos, de Danielle Fonseca. Aberta até 29 de janeiro, de terça a sexta, das 10h às 16h; sábado, domingo e feriados- 9h às 13h.
- Contornos da água e do pó, de Emanuel Franco. Aberta até 29 de Janeiro, de terça a sexta, das 10h às 16h; sábado, domingo e feriados- 9h às 13h.
Corveta – Museu Solimões
- Pier da Casa das Onze Janelas. Praça Frei Caetano Brandão, s/n (Cidade Velha);
- A Corveta integrante do Comando do Grupamento Naval do Norte foi convertida em um navio-museu, contendo circuito expositivo para visitas orientadas e educativas. Visitação de terça a sexta, das 9h às 14h; e sábados, domingos e feriados, das 9h às 13h.
Museu do Forte do Presépio
- Praça Frei Caetano Brandão, s/n (Cidade Velha).
- A história da fundação de Belém e da colonização portuguesa na Amazônia, no século XVII.
Contato: [email protected]
Museu de Arte Sacra (MAS)
- Praça Frei Caetano Brandão, s/n (Cidade Velha);
- Composto pela Igreja de Santo Alexandre e pelo antigo Palácio Episcopal. Reúne acervo de imaginárias datadas dos séculos XVIII e XIX e de objetos litúrgicos.
- Exposição permanente “Coleção de Muiraquitãs do Governo do Pará”.
- Aberto à visitação de terça a sexta, das 10h às 16h; sábados, domingos e feriados, das 9h às 13h.
- Contato: [email protected]
Museu do Círio
- Casario da Rua Padre Champagnat (Cidade Velha);
- Reúne peças de coleções que retratam o Círio de Nazaré.
- Exposição de longa duração: Círio - Patrimônio Imaterial.
- Contato: [email protected]
- Exibição de filmes e documentários que retratam o universo cultural, religioso e político do Círio de Nazaré, todas as terças feiras na sala de vídeo do Museu.
Dia 17, de 10h às 11h e 14h às 15h - “Festa de Mestre”.
Dia 24, de 10h às 11h e 14h às 15h – “Naza”, de Silvio Figueiredo.
Dia 31, de 10h às 11h e 14h às 15h - “Quero ser Anjo”, de Marta Nassar.
Museu da Imagem e do Som (MIS)
- Casario da Rua Padre Champagnat (Cidade Velha).
- Acervo audiovisual e registro da produção cinematográfica o Estado.
- Contato: [email protected]
- O MIS exibirá durante o mês de janeiro filmes que representam a cultura e história de Belém, em homenagem ao aniversário da cidade.
- Dia 18, às 10h - “Landi O arquiteto Régio do Grão Pará”, de Mário Carneiro (1978) e “Belém: 350 anos” de Líbero Luxardo – 1975.
Pólo Joalheiro São José Liberto / Museu de Gemas do Pará
- Praça Amazonas, s/n (Jurunas).
- Cerca de quatro mil peças com até 500 milhões de anos, entre diamantes, ametistas e amostras de ouro; cerâmica marajoara e tapajônica, além de muiraquitãs.
- Aberto de terça a sexta, das 9h às 18h. Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h. Ingressos: R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia-entrada) para o Museu de Gemas.
- Contato: [email protected]
Theatro da Paz
- Avenida da Paz, s/n, Praça da República (Campina).
- Visitação de terça a sexta, das 9h às 12h e das 14h às 17h. Sábados, das 9h às 12h; Domingos, das 9h às 11h. Ingressos: R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia-entrada). Entrada gratuita às quartas-feiras. Crianças até 2 anos, maiores de 60 anos e portadores de necessidades especiais não pagam.
- Contato: produçã[email protected] / [email protected]